Baby e Ivete debatem apocalipse na micareta; evangélico pode ir a Carnaval?
Ivete Sangalo e Baby do Brasil protagonizaram um diálogo sobre o apocalipse em plena micareta, em Salvador, na madrugada de domingo (11).
Todos atentos porque nós entramos em apocalipse, o arrebatamento tem tudo para acontecer entre cinco e 10 anos. Procure o Senhor, enquanto é possível achar.
Baby do Brasil
Nas redes, houve críticas e elogios à postura de Ivete, que sugeriu "macetar" o apocalipse. A presença de Baby, que é evangélica e se define como popstora (pastora pop), no Carnaval também dividiu opiniões.
Afinal, qual a relação de evangélicos com o Carnaval?
A relação dos evangélicos com o Carnaval, historicamente, nunca foi das mais próximas, de um modo geral. Algumas igrejas entendem o Carnaval como símbolo de pecado e, por isso, acreditam que a festa não deveria ser frequentada, explica o pastor e doutor em ciências da religião Kenner Terra.
Ir ao carnaval configura um ato contrário aos costumes de certos grupos religiosos. Aliás, para a maioria das denominações, a conversão, entre outras coisas, é comprovada com o afastamento desses entretenimentos, considerados mundanos.
Kenner Terra, pastor e doutor em ciências da religião
O estudioso entende que não há pecado por simplesmente estar ou participar desses eventos. Segundo ele, se trata apenas "da participação em expressões da brasilidade", mas, para muitos evangélicos, essa relação ainda é um tabu.
Por outro lado, há evangélicos que veem o Carnaval como uma oportunidade de envolvimento evangelístico e testemunho. Em algumas comunidades evangélicas, tradicionalmente, igrejas organizam eventos alternativos durante o Carnaval.
Retiros espirituais, conferências, ou até mesmo blocos de carnaval gospel, em que se celebra a fé cristã de modo considerado mais alinhado com as convicções religiosas, são alguns dos exemplos de relação de grupos evangélicos com esta época do ano.
E o pastor? O que pode fazer?
O pastor tem os mesmos direitos de liberdade que qualquer outra pessoa, mas todo líder religioso está sempre sob olhar atento do grupo que ele lidera, explica Kenner. A liberdade de um pastor está nos limites do que entende não ferir os acordos de sua comunidade de fé.
Cada pastor julgará o que considera ser adequado, considerando os impactos que suas ações podem ou não causar entres os membros da igreja que é liderada por ele.
Kenner Terra, pastor e doutor em ciências da religião
A vigilância e a pressão sobre os pastores com relação aos eventos que participam não encontram amparo bíblico. Além disso, ferem a liberdade do indivíduo que ocupa a função pastoral, diz Kenner.
A vida particular e os ambientes que frequenta estão sob sua responsabilidade e ninguém tem o direito de intervir nisso.
Kenner Terra, pastor e doutor em ciências da religião
A própria Bíblia, diz o especialista, defende a liberdade e responsabilidade individual de cada sujeito, seja ele um leigo ou um sacerdote. "Em suma, a escritura aponta, por um lado, para a maturidade e, por outro, para o cuidado comunitário. Mas, o legalismo moralista também é questionado pelo Novo Testamento."
Pastor em show da Anitta
Em outro caso recente, um pastor foi criticado por acompanhar um show da cantora Anitta. O episódio ocorreu no dia 25 de janeiro, quando a cantora se apresentou em São Paulo, em um esquenta para o Carnaval.
Na área vip do evento, o pastor e escritor Victor Azevedo e a esposa, Luiza Azevedo, acompanharam o show na companhia de Sasha Meneghel, amiga do casal. Sasha e o marido, João Figueiredo frequentam assiduamente a igreja pastoreada por Victor.
Em seguida, o pastor usou a introdução do seu sermão, na Igreja Por Amor, em São Caetano (SP), para se manifestar a respeito da polêmica. Ele se disse profundamente triste.
Desde quinta-feira está rodando por aí em sites algumas acusações, afirmações e fofocas a nosso respeito e isso fere absurdamente o nosso coração.
Victor Azevedo, pastor
O pastor disse no púlpito de sua igreja que, para muitos evangélicos brasileiros, "o pastor não deve frequentar certos lugares, não deve ter relação com certas pessoas", pois, no entendimento desses grupos, as pessoas que ali estão têm má reputação.
O cristianismo transformou a ideia de pecado em estética. Já não é mais o tipo de humano que você é em qualquer lugar que diz sobre sua fé, mas os lugares que frequenta, as roupas que usa e os versículos que tem decorado.
Victor Azevedo, pastor
O "pastor, como qualquer outra pessoa, tem liberdade de consumir as múltiplas expressões da cultura, explica Kenner Terra. O estudioso lembra, no entanto, que algumas denominações são influenciadas por uma teologia com resistência a certas expressões de cultura —daí o possível motivo das críticas.
Victor disse ao UOL que acredita ter "sido chamado [por Deus] a estar nesses espaços já há algum tempo". Segundo ele, alguns de seus amigos trabalham nesse meio cultural e artístico e, quando recebe convites para estar nesses ambientes, procura ir quando possível.
Vou para estar com eles e vou por causa do evangelho. Quando digo isso, não estou dizendo que vou 'evangelizar' no sentido mais tradicional da coisa, de entregar folheto e distribuir oração, não é isso, não creio assim. Estou dizendo que vou estar e me relacionar nesses espaços como um seguidor de Jesus.
Victor Azevedo
O modelo que um pastor deve seguir é o mesmo de Jesus, na opinião de César Belieny, teólogo, músico e consultor religioso das novelas "Vai na Fé" e "Renascer". Ele diz que Jesus por vezes transitava em "lugares considerados profanos" pelos religiosos —mesmo que isso às vezes acabasse gerando críticas e ofensas.
Segundo o teólogo Belieny, a vocação de todo pastor é ter, assim como Jesus, uma abordagem compassiva que confronta "os zelosos religiosos, enfatizando que a verdadeira liberdade não se limita a regras, mas abraça a redenção",
Victor diz que vai a esses eventos porque é amigo e pastor das pessoas que o convidam. "Vou estar com eles no ambiente deles e não poucas vezes a gente encontra vários testemunhos no meio do caminho; então eu vou porque eu estou fazendo discipulado com eles".
O diálogo de Baby e Ivete
Baby estava na arquibancada quando Ivete passou com o trio. Evangélica, ela aproveitou o espaço para dizer que "nós entramos em apocalipse". "O arrebatamento tem tudo para acontecer entre 5 e 10 anos", disse a ex-Novos Baianos.
Ivete respondeu de forma engraçada, e tentou mudar de assunto. "Eu não vou deixar acontecer, porque não tem apocalipse certo quando a gente maceta ele".
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