'R$ 500 em 3 horas': ambulantes faturam com bebidas vendidas 'no sigilo'
Nem todas as bebidas fazem parte do cardápio oficial de ambulantes cadastrados no Carnaval de São Paulo. Isso não significa que estiveram ausentes da folia. Aquelas vendidas "no sigilo", ou seja, sem autorização, eram uma aposta para faturar mais alto.
Na lista dos drinques comercializados à boca miúda, o Xeque-Mate, "queridinho" do Carnaval de Belo Horizonte e agora de São Paulo, fazia sucesso. Cachaça artesanal também saía com frequência.
Licor e cachaça
A carioca Safira Veto viu a oportunidade de ganhar uma renda extra vendendo bebidas alcoólicas neste Carnaval, apesar de não ter se cadastrado como ambulante. Ela tem uma marca de licores e cachaças artesanais, a Pato Louco, e precisou driblar a fiscalização para conseguir fazer dinheiro.
As pessoas são muito simpáticas, muito receptivas. Até mesmo outros comerciantes que estão trabalhando dão uma força. Tiro uma média de R$ 400 a R$ 500 por dia de Carnaval, sendo que meu tempo médio de trabalho é de três horas.
Safira Veto
Safira concentrou as vendas nos blocos do centro. Na terça-feira, levou os licores ao bloco Pagu. Durante os dias de trabalho, ela conta que não passou pela fiscalização, mas viu outros ambulantes com produtos confiscados.
Precisei sair de onde eles [agentes de fiscalização] estavam para não pegarem meu material de trabalho. Quem não fosse cadastrado, eles recolhiam a mercadoria. Vi de longe e só dei minha volta e fui para o lado contrário, aí ficou tudo certo. Mas acho que todo mundo poderia ter a liberdade de vender e beber o que quiser.
Safira Veto
Enquanto acompanhava o cortejo do bloco Pagu, no centro de São Paulo, o médico César, 30, carregava consigo uma latinha da bebida mineira, o Xeque-Mate. "Acho que vendedores estão tendo acesso. Eles estão anunciando."
"Eles têm escondido", avisou um folião. Outra deu dicas para encontrar o produto, que não estava descrito no cardápio oficial impresso nas plaquinhas dos ambulantes. "Tem de perguntar se tem, mas eles têm."
O Xeque-Mate era vendido a preços que variavam de R$ 17 a R$ 20. Uma ambulante disse que até estava em falta, mas ia buscar mais. "Posso vender no sigilo. Vem daqui a 30 minutos que foram buscar agora e aí quando você voltar já vai estar geladinho", disse. Segundo ela, o comércio deveria ser "às escondidas" para evitar problemas com a fiscalização.
Nos blocos que acontecem no Ibirapuera, no entanto, o Xeque-Mate ou qualquer outra bebida não têm vez. O local foi cercado por grades e qualquer ambulante que entrava tinha de passar por revista. "Você vai encontrar só lá fora. Xeque-Mate, cachaça, e várias outras bebidas", disse um deles.
Iniciativa privada
Desde 2017, o Carnaval de rua na cidade é bancado pela iniciativa privada. O formato de concessão permite que empresas paguem para ter direito de exclusividade na venda de seus produtos durante a festa.
Em 2024, a Ambev pagou R$ 26,6 milhões pelo patrocínio. A empresa também ganhou em 2020 e 2019. A empresa de eventos Dream Factory já apoiou a festa (2017 e 2018).
O UOL entrou em contato com a Prefeitura para saber se há sanções contra ambulantes que não vendem produtos da Ambev, mas a gestão municipal sugeriu buscar a própria empresa para comentar. Procurada, a Ambev não se manifestou —o espaço segue aberto.
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