O lavrador

Itamar Vieira Jr. trabalha pela reforma agrária, enquanto colhe louros de ser maior escritor brasileiro hoje

Marcos Candido DE ECOA, EM SÃO PAULO Raul Spinassé/UOL

Itamar Vieira Junior é o escritor brasileiro vivo mais vendido e premiado no Brasil, hoje. Seu livro "Torto Arado", um romance situado no sertão da Bahia, disputa a lista de bestsellers com sucessos comerciais, como os livros do autor americano Stephen King e a série "Harry Potter", de J.K. Rowlling. Na categoria ficção, ele só perde para George Orwell, tanto na lista das vendas em livrarias do site Publishnews, quanto nas vendas online da Amazon. "Torto Arado" recebeu os prêmios mais respeitados respeitados do Brasil e de Portugal: Prémio LeYa 2018, Prêmio Jabuti 2020 de melhor romance e Oceanos-Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa 2020. Itamar é também um geógrafo, funcionário do Incra que já foi ameaçado e presenciou as mortes da guerra pela terra no Brasil. (leia mais na entrevista abaixo).

Itamar cresceu na periferia de Salvador, cidade natal de artistas como o escritor abolicionista Luís Gama e os tropicalistas Gilberto Gil e Gal Costa. Apesar disso, as grandes editoras estão longe da capital baiana e, para ser publicado, é preciso ter contatos, ir a eventos, conhecer pessoas; preferencialmente viver entre as cosmopolitas Rio e São Paulo. Itamar sabia que um escritor nordestino, com antepassados tupinambás, portugueses pobres e negros escravizados de Serra Leoa teria desvantagem. Ele arriscou-se, então, em prêmios literários e editais promovidos pelo estado para tornar-se lido.

Editoras pequenas recusaram livros como "A oração do Carrasco" (Mondrongo), publicado graças a um prêmio estadual, e finalista do Prêmio Jabuti 2018. O texto de "Torto Arado" (Editora Todavia), o primeiro romance, sequer foi enviado para uma editora grande. "Eu já sabia a resposta: ninguém iria querer", diz. O livro foi inscrito no prêmio português LeYa, sob um pseudônimo e sem editora. Venceu. "Hoje as editoras é que me procuram", retruca.

"Torto Arado" conta a história de Bibiana e Belonisia, irmãs que vivem no sertão baiano e encontram uma faca da avó escondida em uma mala velha e misteriosa. Uma delas tem a língua cortada, e o episódio as une para sempre. Itamar já trabalhou com a educação de quilombolas e agricultores da reforma agrária, em cenários idênticos aos do livro. Apesar do contato com a dura vida do campo brasileiro, Itamar é um otimista incorrigível. Mesmo com a promessa presidencial de que nem um "centímetro de terra" será dado às pessoas que carregam histórias centenárias, ouvidas pelo escritor. "Há uma conjunção de forças sempre tentando impedir os avanços sociais no Brasil", diz.

Raul Spinassé/UOL Raul Spinassé/UOL

O homem

Você nunca enviou "Torto Arado" para uma grande editora?

Não mandei. Eu já sabia a resposta. Ninguém iria querer. Pensei em uma pequena editora para publicar, pois elas se arriscam. Patuá, Reformatório, Moinhos, Relicário, Penalux estavam no meu horizonte, mas fui surpreendido antes de enviar a elas pelo Prêmio LeYa. O prêmio mudou minha relação com a literatura. Me tornou mais profissional, mas não foi planejado, foi meio sem querer. Houve uma grande divulgação e publicação em Portugal, onde divulguei o livro em festivais. Depois, foi publicado [no Brasil] pela Todavia, que é uma grande editora. Embora seja nova, é uma editora que começou com grandes nomes e editores que fazem o livro circular. Minha relação com a literatura mudou.

A dificuldade de publicação por grandes editoras tem a ver com raça, na sua opinião?

Não tenho dúvida. Agora viramos um nicho de mercado. É muito triste falar assim, mas viramos um nicho. Os temas raciais estão em evidência e vivemos um período histórico que só teremos dimensão daqui a anos. Me lembro que há vinte anos ainda aceitávamos muita coisa, como uma piada racista, sem retrucar. Víamos certas questões e entendíamos que se tratava de racismo, mas não levantávamos a voz. Hoje, é raro alguém não levantar a voz contra um ato racista. Há visibilidade maior em relação às sociedades indígenas e negras. Os editores perceberam que nós vendemos, e não é de hoje. A Carolina Maria de Jesus foi um fenômeno editorial, vendeu milhões e foi traduzida em vários países. Autoras como Conceição Evaristo, que já ouviu vários 'nãos', ainda publicam por editoras médias por um compromisso ético, pois foram as primeiras a abrir as portas a ela; e Conceição vende muito. Ana Maria Gonçalves também, com "Um Defeito de Cor". Paulo Lins, com "Cidade de Deus". Perceberam que as nossas histórias vendem. A história dos herdeiros da diáspora já tinham mostrado que tem força e falam da formação do povo brasileiro e do país.

Eu falo isso com propriedade. Há uns seis anos, curadores de feiras literárias queriam trazer autores mais diversos, mas os editores das grandes editoras diziam que isso não era literatura, e que literatura não era feita de diversidade. Quem me diz isso foram os organizadores de festas literárias. Tudo isso mudou. Na Flip de 2019 e 2020, entre os livros mais vendidos estavam autores como Ailton Krenak e Djamila Ribeiro. Recentemente, uma grande editora formou uma editoria de diversidade, e com um editor negro que faz a curadoria do que vai ser publicado. É uma amostra de que perceberam que é um nicho de mercado.

Como você descobriu suas origens? É comum que um negro não saiba de onde vem suas raízes.

Fiz dois testes de DNA. Foi a forma de reconstruir o passado que me foi negado. Eu tenho trisavós maternos que vieram de Portugal para a Bahia, em 1914. Eram pobres, analfabetos e já tinham filhos. Mesmo com toda a pobreza e toda vulnerabilidade, a gente sabe que vieram da região do Minho, em Portugal, e eles nunca puderam voltar. Em relação aos meus antepassados negros, a minha história foi negada. Provavelmente, foram escravizados, que foi a maneira de chegar na Bahia por quatro séculos de escravidão. A literatura para mim também é um caminho para a reconstrução de histórias íntimas, ancestrais, mas a gente já dispõe de tecnologias para nos ajudar a encontrar um elo perdido com nossa ancestralidade.

E o que esse conhecimento mudou em você?

Não mudou muita coisa porque a ancestralidade sempre esteve aqui, e não mudou a minha relação com eles e nem a minha identidade étnico racial. Eu já sentia na pele a história e a vida da minha família. A África é um continente com muitos povos, muitas origens, muitas línguas e etnias. Saber disso me devolveu um pouco da história que me foi negada. Assim como a língua portuguesa é a minha língua, porque fomos colonizados, é muito importante saber de onde essas pessoas vieram. Nunca vou retornar ao lugar que eles deixaram, a tudo que viveram na diáspora já não existe mais. Mas para mim é importante e um passo importante para entender a mim, em meio ao Brasil e ao mundo.

Raul Spinassé/UOL Raul Spinassé/UOL

A terra

Você diz que tenta escrever sobre a "relação do homem com a terra". Poderia ser mais específico? O que isso quer dizer?

Estamos falando de direitos humanos elementares. Quando a gente fala do direito à terra, ao território, falamos do chão onde pisamos e é uma relação que permeia tudo. Meu passado, como geógrafo, de entender o trânsito humano, sobre a Terra, me faz ver uma ligação muito forte entre nós, humanos, e o ambiente onde vivemos. A relação do homem com a terra é o foco de quando escrevi "Torto Arado": uma terra que muitas vezes é negada de inúmeras formas. Hoje, acrescento que a degradação do mundo nos afeta e afeta nossa relação com tudo.

Por que você decidiu trabalhar no Incra?

Por necessidade. Eu tinha concluído a graduação e queria um trabalho seguro Achei que seria professor, e fui aprovado em quatro concursos. No mesmo período, fui aprovado para trabalhar no Incra. Eu precisaria ir trabalhar no Maranhão quando comecei no Incra, o que foi um peso favorável. Era uma experiência nova, que me desafiaria mais do que a sala de aula. Não achei que ficaria tanto tempo, mas me envolvi e foi um privilégio. Não sei o problema que as pessoas têm contra as palavras, mas gosto da expressão "Brasil profundo". Acho que cheguei a um Brasil profundo. Saí da periferia de Salvador e entrei em um mundo rico em diversidade, desigual, e que ainda pulsa muito forte neste país.

E o que você fazia?

Comecei trabalhando com educação no campo. Era uma coisa belíssima. Acompanhei muitos trabalhos de alfabetização de trabalhadores rurais e era especial. Eu vi pessoas que aprendiam a ler e a escrever em idade avançada e era muito poderoso. Hoje há cursos até de pós-graduação para trabalhadores rurais. Depois fiz documentação de trabalhadoras rurais, voltado só para mulheres, e trabalhei para regularizar terras quilombolas. É uma política profunda que dá oportunidade de conhecer a história do país e saber o que aconteceu na pós-abolição. São comunidades que resistiram, de trabalhadores que migraram, viveram errantes, e que, depois da abolição, formaram famílias, comunidades, em um sistema de solidariedade que é um exemplo para todos. Não é um sistema perfeito, mas permitiu resistir às investidas do Estado para destruí-los de todas as formas.

Você já presenciou conflitos de terra?

O conflito faz parte desde sempre. Eu falei só das coisas boas, mas o conflito é permanente e nunca deixou de existir. Foi atenuado, mas nos últimos anos se acirrou de forma assustadora. Várias lideranças com quem me reuni e conversei foram assassinadas. O motivo foram os conflitos fundiários. Antes do Incra, para mim, eram acontecimentos do noticiário. Pouco antes de entrar no Incra, lembro do assassinato da freira Dorothy Stang [em 2005], do Massacre de Eldorado dos Carajás. Eram informações da imprensa, mas no Incra vivi isso cotidianamente. Inclusive, me senti assediado muitas vezes por pessoas contrárias às políticas públicas da instituição. Não ficamos livres do assédio de fazendeiros. A nossa vida também está em risco quando a gente aceita esse trabalho.

Foram ameaças de morte?

Hoje as pessoas são mais cuidadosas e não fazem ameaças de morte diretamente. É feito de outras formas. Já ouvi: "você não venha mais aqui"; "eu sei de você"; "eu sei por onde você anda". Não são ameaças diretas, mas veladas. A gente tem que enfrentar tudo isso, mas não deixamos de ficar com medo. Nós vemos pessoas no cotidiano, na linha de frente, que tombam. O medo não passa.

Ficou mais difícil a demarcação de terra com Bolsonaro?

Desde 2016 ficou difícil, mas o atual presidente deixou claro, durante a campanha, quais seriam as diretrizes do governo dele. Em discursos, dizia que não haveria um centímetro de terra para indígenas e quilombolas. É mais ou menos assim que tem funcionado. É uma diretriz dele e das pessoas que o apoiaram, como empresários e organizações ruralistas. É a diretriz do governo dele, mas não houve uma ruptura com a nova presidência e era algo que já vinha há um tempo.

Há uma ordem direta para demarcar menos?

Não há ordem direta, mas há sinais. Faltam recursos e muitas coisas para efetivar esse tipo de política.

Há anos se fala em distribuir a terra de maneira igualitária no Brasil, promovendo uma reforma agrária ampla. Isso é de fato possível? Um dia vamos chegar lá?

Terra tem. Falta vontade política para fazer a reforma agrária. A reforma que se defende hoje já se distanciou muito do que era no passado, pois houve uma evolução no pensamento sobre o que é a reforma agrária. O Brasil se tornou um país com uma população urbana significativa, e a cada década a população urbana cresce. Mas quem vive no campo ainda precisa ser ouvido, assistido, e acredito que a reforma agrária é, sim, o caminho para a redução das desigualdades. Mas não só. É um dos caminhos, como uma renda básica universal e a educação.

E como o acesso à terra se conecta com o país?

O grande latifúndio produz commodity e não produz alimentos para o mercado interno. Não é a alma do agronegócio [o mercado interno]. Eles produzem para exportação, e o que chega na nossa mesa vem do agricultor familiar. É o pequeno e médio que abastece o mercado interno. A reforma agrária não diz respeito apenas às populações do campo, mas diz respeito a todos os brasileiros. Estamos falando de ofertas de alimentos na nossa mesa. Um país que não pensa sobre isso peca imensamente.

Isso reflete na qualidade da alimentação? Por exemplo, a produção orgânica fruto da reforma agrária e do MST?

A produção orgânica é uma reivindicação de muitas pessoas para consumir alimentos sem veneno. O agronegócio não encampa o tema. Ao contrário. É uma "guerra" entre defensores de pesticidas e os que defendem a agroecologia. Se eu puder escolher um alimento, é claro que escolherei o orgânico, sem veneno. Imagina botar um veneno na boca. É algo que me preocupa imensamente. Em campo, já vi muito a utilização e adoecimento de quem tem contato com agrotóxicos. É assustador. Se adoece e mata quem aplica, é claro que o que vai para nossa mesa vai gerar um problema acumulativo e problemas de saúde.

Há uma solução que valha para os problemas de acesso e moradia tanto no campo como na cidade?

Não tem uma solução, mas muitos caminhos para mitigar o problema. O Brasil é um país avançado em termos de legislação. A nossa Constituição é avançada em muitos aspectos. O Estatuto da Terra e da Cidade já prevê mecanismos e punições para quem tem terras e bens econômicos usados para a especulação imobiliária, como o IPTU progressivo que reverte o valor do imposto para moradia popular. O Estatuto da Terra é de 97, já antigo, e temos uma legislação avançada que só precisa ser aplicada e não há interesse político. Aí, tem uma conjunção de forças sempre tentando impedir os avanços sociais.

Todavia/Divulgação.

"Torto Arado"

O pai de Itamar Vieira Junior estava internado com insuficiência renal, quando seu filho se tornou o escritor brasileiro mais comentado do ano de 2018 ao embolsar 100 mil euros (o equivalente, hoje, a mais de meio milhão de reais) no prestigiado Prêmio LeYa por seu romance, até então inédito, "Torto Arado". A premiação da editora portuguesa é a mais bem paga da lusofonia. Nela, as obras devem ser submetidas com pseudônimo para que os jurados não sejam influenciados pelo pedigree do autor. "Será que foi uma mulher ou um homem que escreveu isto?" perguntava-se a poeta angolana Ana Paula Tavares, jurada do prêmio, que "até o fim" não conseguiu descobrir o gênero do "cavalo" Itamar

Fred Di Giacomo, na coluna "Arte fora dos centros", sobre o romance "Torto Arado" de Itamar Vieira Junior.

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Raul Spinassé/UOL Raul Spinassé/UOL

A luta

Em sua tese de doutorado, você diz que muitos quilombolas não sabiam o valor das histórias que contavam e, se soubessem, teriam escrito. Me conta uma história que você ouviu e escreveu?

São tantas. Uma delas virou um conto, que não me foi contada dessa forma, mas virou conto pelo que faltava nela. Há muitos anos, estive em uma comunidade em Senhor do Bonfim, no sertão da Bahia. A ancestralidade foi levada até lá por uma mulher que vivia em Salvador, chamada Maria Rodrigues. Ela vivia escravizada, mas fugiu do cativeiro e caminhou terra adentro até chegar onde, hoje, é Senhor do Bonfim. Foram 400 quilômetros, no século 19. Ser cativa deve ser uma angústia muito grande, e qualquer pessoa sentiria vontade de fugir, e não por acaso muitos resistiram à escravização. Como eu não sabia mais nada, e as pessoas também não, anos depois imaginei o caminho percorrido por ela, o que a faria fugir para um lugar tão longe, tão ermo. Uma amiga antropóloga com acesso a arquivos de Salvador me contou que escravizados cometiam crimes bárbaros, como envenenamento, para resistir até serem libertos. A partir daí, foi fácil imaginar o que faria uma mulher andar para tão longe, com os pés feridos, os calçados que se desfazem, sofrendo com a chuva, o sol na cabeça e ainda chegar viva. Foi fácil juntar tudo para contar sobre um momento tão triste da nossa história. Escrevi um conto chamado "Alma", inspirado nesta mulher. Tudo é ficção, mas foi fácil pensar.

Você escreve que o povo quilombola Iuna, onde você fez sua tese, tem uma "uma expectativa de plenitude, "mas onde a vida se realiza não plenamente". É um sentimento estendido a todos os brasileiros, historicamente?

É uma pergunta bem difícil. Eu vejo muitas pessoas preocupadas com o consumo, com o que podem ser, com status. Talvez seja algo que senti entre eles, que de alguma forma se comunicou comigo. Não tem um único caminho, mas mais importante que atingir a plenitude é ter uma vontade de chegar lá. É uma vontade que nos move, nos mobiliza. Isso aprendi com o povo da Iuna. A vida é movimento, e tentar ter uma plenitude é ficar em movimento mesmo quando é uma situação inatingível. O percurso é mais importante que o fim.

Mas você nutre esperança de plenitude mesmo com o mundo desse jeito?

Eu sou um otimista incorrigível. Li o que aconteceu nos Estados Unidos, um episódio triste e muito grave, e percebi que uma notícia foi ofuscada: a eleição de dois democratas como senadores no estado da Geórgia. Foi uma vitória, então, impensável em um estado racista, com supremacistas brancos, e é resultado dos políticos negros daquele estado, do movimento Vidas Negras Importam, e do movimento histórico dos moradores da Geórgia. É um contratempo a um supremacismo que existe há séculos. Por isso sou otimista. Por mais que as coisas pareçam difíceis no momento, a gente tem avançado mais do que retrocedido. Só de me unir nesta entrevista, com liberdade para falar sobre racismo e política? Pode parecer banal, mas para meus pais não era banal. Para meus avós que vieram antes, não era banal. Eles viveram a ditadura militar, e sabiam que não dava para falar sobre tudo. Cresci com medo de falar sobre tudo, porque foi assim que meus pais viveram e eles não poderiam me transmitir nada diferente do que passaram. Conversar livremente já foi impensável em nosso país.

Você lembra da primeira história que escreveu na infância?

Lembro, mas não sei mais o livro que me mobilizou a escrever essa história. Lembro que era a história de uma abelha que falava e se relacionava com outros insetos. Sempre fui muito curioso. As primeiras histórias que escrevi eram para mudar o final das histórias que eu lia, e eu fazia outras versões, outros finais. Depois fiz minhas próprias histórias.

Você começou a escrever "Torto Arado" com 16 anos...

Eu não tinha uma consciência racial e identitária muito clara, mas era uma história inspirada nos romances da década de 30 e 40 que li. Ainda hoje são livros que me dizem muita coisa e acho que na verdade queria fazer uma história assim parecida. Escrevi 80 páginas e não fui a frente, claro, pois não tinha maturidade para escrever um romance, mas já era a história de duas irmãs e um pai que vivem em uma fração de terra como agricultores. Não me lembro o que acontecia, só que fiz a divisão em quatro partes, cada uma era uma estação do ano. Lembro que o título era "Torto Arado", porque havia lido "Marília Dirceu", de Tomás Antônio Gonzaga, e gostei muito do verso onde está a expressão. Quando escrevi a versão conhecida de "Torto Arado", comecei com outro título, mas retornei. Era um título do passado, que me acompanhava há muitos anos. E ficou. Graças a Antônio Gonzaga, que me deu de presente.

Escrever é um ato de plenitude, prazeroso para você?

É prazeroso, mas para ter prazer é preciso de muito trabalho. Apesar disso, escrever é parte de mim, gosto de fazer e o faço desde a infância. Ano passado dei uma aula, e falamos que escrever é estar vivo. A gente movimenta o que está em nossa volta e em nosso interior quando escrevemos. Não é só grafar palavras em uma folha. Escrever são muitas coisas: é a maneira como a gente olha para o mundo; como a gente fala. Ninguém conta uma história de qualquer jeito, mas sempre na tentativa de prender a atenção do interlocutor. Os meus antepassados contavam histórias narradas, que passavam de geração para geração, e para mim já era literatura.

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