Por que argumento da grana só vale para o Flu e não para Fla e Palmeiras?
O day after de Manchester City 4 x 0 Fluminense rendeu diversas teorias e argumentos sobre essa derrota dominadora do City, que levaram para diversas direções e que valem muito a pena serem debatidos.
Começando sobre o argumento de que o City enriqueceu com o dinheiro árabe, sendo de um país opressor com uma política de extermínio aos opositores. E o Fluminense ser um "coitadinho" que não tem a mesma receita.
Isso é verdade mesmo, mas quantos times europeus foram vendidos para árabes, milionários russos e esse argumento nunca virou pauta? O Palmeiras perdeu para o Chelsea, com chances de ter vencido, e esse argumento não foi colocado e muito menos o time do Abel Ferreira e ele mesmo foram valorizados pelo jogo que fizeram.
O Fluminense jogou bem 15 minutos e não deu um chute a gol e até parece que fez uma grande partida. Por que essa má vontade com o Abel Ferreira e esse deslumbre com o Fernando Diniz, que foi muito pior que os últimos que perderam?
O Flamengo perdeu por 1 a 0 na prorrogação para o Liverpool, com outro português no comando, o Jorge Jesus, e não vi o seu trabalho nesse jogo ser tão valorizado como os "bons 15 minutos" que o Fluminense apresentou.
O PSG também enriqueceu com dinheiro vindo do Qatar, da mesma forma que o City, e nunca ganhou nada de interessante. E por aqui só rasgavam elogios ignorando completamente de onde vinha a riqueza, mas o City incomoda.
Gostaria de saber como seria se um país árabe comprasse o Fluminense e fizessem contratações espetaculares. Depois da derrota do Tricolor, começaremos a discutir se o dinheiro é limpo ou sujo, sendo que isso está acontecendo há décadas e nunca colocaram isso em pauta como estão querendo fazer depois desse jogo.
Eu sempre falei que não gostava de clubes que viraram grandes por causa do dinheiro árabe ou russo desde quando isso começou a acontecer. Fui muito criticado por isso e agora o City é culpado por ter vencido o Fluminense e o colocado na roda.
O futebol europeu é infinitamente mais rico que o da América do Sul, e conseguiram fazer times incríveis. Mas a realidade não è só a diferença financeira, mas sim a qualidade dos jogadores do Velho Continente e a dos brasileiros. Justificar o quê?
O Flamengo e o Palmeiras foram muito melhores nas finais que disputaram contra equipes com dinheiro discutível e só agora esse tema surgiu? Gente, o Fluminense formou um bom time, com um esquema que aqui funcionou pela deficiência técnica dos times daqui.
O Fernando Diniz é um bom treinador com uma estratégia só. Valorizar que ele jogou com coragem e foi coerente é uma passada de pano para um treinador que nunca apresentou outro modo de jogar a não ser esse. Em todos os esportes individuais ou coletivos existem diversas estratégias diferentes para se vencer.
Um maratonista não corre todas as maratonas da mesma forma, ele muda a estratégia de acordo com o lugar, piso, concorrentes e também para surpreender para ganhar. Até jogos de tabuleiro, como dama, por exemplo, exigem estratégias diferentes.
Vir me dizer que o Diniz quer mostrar que não é só vencer, mas sim divertir, é para quem não foi esportista engolir. Se divertir é a base inicial do futebol porque todos os jogadores profissionais começam a jogar bola como diversão com os amigos nas ruas, quadras, campinhos. Quando a gente vira profissional, se une a esse divertimento o instinto competitivo e vencedor porque isso faz parte de um atleta de qualquer esporte.
Claro que é muito mais gostoso jogar bem e vencer, mas depende do adversário. É preciso ter um modo diferente para se jogar, não queiram complicar o futebol. O Manchester City tem mais estrutura, melhor treinador, melhores jogadores e ganharia de qualquer adversário.
O dinheiro é árabe ou russo faz tempo e todos que perderam nesses últimos anos foi para times com riqueza do mesmo lugar. O Corinthians foi lá e venceu o Chelsea, que era do multimilionário russo Roman Abramovich, e que enriqueceu no esquema do gás após a queda do Muro de Berlim, com o fim da União Soviética e com o povo russo em total miséria. Essa situação nunca entrou em pauta.
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OLHAR APURADO
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Quero receberSe o Fluminense tivesse sido campeão, a questão do dinheiro árabe do City iria aparecer? Claro que não. Uma boa parte da imprensa iria dizer que Diniz era um gênio e que havia vencido Pep Guardiola e tudo mais. Vamos lá, só o dinheiro deles vem de uma forma suspeita?
E a maioria dos nossos clubes, que devem bilhões e vivem como se fosse riquíssimos? Contratam e pagam salários enormes para jogadores medianos e não se discute como eles arrumam dinheiro para isso. Outro detalhe é a questão da riqueza da CBF e o não investimento no nosso futebol.
Essa instituição, com presidentes condenados, procurados e até presos, tem a obrigação de dar suporte às categorias de base, ajudando os garotos na questão mental e psicológica, para se prepararem para a possível mudança repentina de vida, para o bem e para o mal.
Porque é uma minoria que consegue sucesso profissional ganhando muito dinheiro. A maioria não vinga e uma outra parte vira jogador não de ponta, não consegue se resolver financeiramente, mas tenta uma vida de grande astro por falta de estrutura cultural, educacional e psicológica
Enfim, o Fluminense perdeu de 4 a 0 porque tem jogadores inferiores ao City, menos estrutura, menos grana e também um treinador muito inferior ao Guardiola e a tantos outros que existem no mundo. O Fernando Diniz está longe de ser um grande treinador e, nesse momento, está no lugar de treinador da seleção brasileira, cargo que não deveria ser dele por falta de experiência, por falta de diferentes modos do jogar. Ainda está engatinhando na profissão de treinador de futebol.
Poderá se tornar um grande técnico? Claro, mas se arrumar outras estratégias de jogo e não só ter um modo de jogar com qualquer elenco que tenha. Por onde vai, tenta fazer o mesmo, inclusive na seleção brasileira, que está mais que claro que sem tempo para treinar não funcionará.
E caso for para uma Copa do Mundo só com esse esquema, passaremos outro vexame como estamos passando desde 2006.
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