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Parabéns 'Seo' Walter Casagrande, meu pai, ou simplesmente Geleia

Ontem (24), o meu texto foi uma reflexão sobre o Natal e muitas lembranças dos Natais da minha infância. Pelos comentários de vocês, percebi que nos identificamos com essas histórias. A minha história tem uma continuidade, pois o meu saudoso pai, Walter Casagrande, nasceu em 25/12/1934. Por isso, no dia de hoje (25), a minha família comemorava o Natal junto com uma festa de aniversário.

Meu pai era incrível, pois foi ele que me apresentou ao futebol, à música, ao cinema e a diversas histórias de clubes de futebol e também da humanidade. Foi com ele que dei meus primeiros passos em um campo de várzea, na década de 60, como na foto desta publicação.

O Geleia (seu apelido) foi um ótimo jogador da várzea de São Paulo nos anos 50, que poderia ter se tornado profissional. No entanto, naquela época, os profissionais eram craques excepcionais, então a gente via jogadores fantásticos espalhados pelos times dos bairros da cidade.

Meu pai era uma pessoa muito dócil e divertida quando não havia álcool por perto, mas com a bebida tornava-se chato, provocador, inconveniente e, em alguns momentos, apresentava uma certa irritação excessiva. Desde garoto, presenciei alguns momentos tensos e desagradáveis. No entanto, esses momentos não apagam a maior parte das lembranças de um pai super legal e com um conhecimento cultural invejável.

Não vou me aprofundar nesse lado ruim da sua existência, pois foi apenas uma parte bem menor de todos os momentos que passamos juntos. Foi o "Seo" Walter que me levou pela primeira vez para assistir ao Corinthians jogar, e foi um momento inesquecível para mim. Com 7 anos, assisti à Copa de 1970 no México inteirinha com a minha família na sala, em frente à TV. Eu enlouqueci com o futebol e com todos aqueles craques do tri, a partir de Pelé e Rivellino. Aquilo que vi me fez ficar apaixonado por todos aqueles caras.

Então, em 27 de junho de 1970, ele me levou ao Parque São Jorge para assistir ao jogo Corinthians 1 (Lima) x 1 Ponte Preta (Manfrini), porque era a volta do Ado e do Rivellino (eterno Reizinho do Parque) depois da Copa. Ado jogou e o Riva deu a volta olímpica, e aquilo me marcou para sempre.

Depois disso, meu pai decidiu que eu tinha que assistir aos campeões do tri jogando ao vivo, e assim ele fez com a maioria deles. Ele também me levava para ver os grandes craques geniais que não foram para a Copa. Portanto, éramos presença garantida no Pacaembu e no Morumbi.

Além disso, ficávamos assistindo a filmes na TV, e ele ia me explicando quem eram os atores, as histórias desde o cinema mudo que passava constantemente nos poucos canais no final dos anos 60 e durante a década de 1970. Ele também trabalhou em uma época na distribuição de discos nas gravadoras e ganhava um disco de cada um daqueles que ele distribuía. Então, tinha um arsenal de vinis em casa, o que contribuiu para eu adquirir um bom conhecimento musical geral ao longo da vida.

Meu pai foi caminhoneiro de várias grandes empresas que existiam na época, mas não para viagens, apenas para distribuição na cidade de São Paulo mesmo. Como seu aniversário caía bem no dia de Natal, com uma família festiva como a minha, vocês podem imaginar que a bagunça era longa e muito divertida.

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Durante o ano, nos finais de semana, se não estávamos em um estádio, estávamos em algum cinema. Me levava para assistir a vários filmes de diferentes gêneros, e minha mãe me levava para assistir a desenhos da Disney, comédias do Jerry Lewis e aos filmes brasileiros do Mazzaropi.

Cresci cercado pela cultura brasileira apresentada pelos meus pais. Eles não me mostraram apenas diversão e cultura, mas também conceitos, valores e princípios que carrego comigo até hoje. Minha memória é espetacular, então tenho na minha cabeça tudo o que foi falado por eles e que faz sentido para mim.

Outra característica do "Seo" Walter era ser animador das festas, por ser um cara superextrovertido e engraçado. Mas uma das coisas que mais admirava nele era que ele não misturava os momentos. Sabia muito bem a hora da seriedade, das brincadeiras e, claro, a hora de dar umas broncas sem bater. Seu olhar já demonstrava que não tinha gostado de algo que o Waltinho (eu) havia feito.

Presenciei alguns momentos muito tristes da sua vida, como a morte do meu avô Júlio Casagrande, que morava conosco, de leucemia. Meu pai tinha um orgulho imenso por ele.

Meu avô Júlio era músico e tocava pistão na orquestra do programa da Hebe Camargo na extinta TV Tupi e também participava de um programa de muito sucesso da TV Cultura chamado Baile da Saudade, apresentado por Francisco Petrônio.

Ficávamos na sala assistindo e quando meu avô aparecia na TV, meu pai me dizia assim: "Olha lá, Waltinho, aquele é meu pai e seu avô". Na realidade, conheci meu avô primeiro pela TV e depois ao vivo.

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Mas a dor maior que vi não só dele, mas também da minha mãe e de toda a família, foi a morte da minha irmã Zildinha, com apenas 23 anos, em janeiro de 1979.

Meus pais demoraram muito tempo para se reerguer e tudo mudou depois disso. Os Natais nunca mais foram os mesmos, nem o aniversário de meu pai era muito alegre.

E a última dor foi quando a minha mãe (Dona Zilda) se foi. Ele ficou arrasado e, escondido de todos, parou de tomar os seus remédios da diabetes e foi parar em coma no hospital. Mas até aí ninguém sabia a causa.

Quando falei com o médico, ficou tudo claro, porque ele me disse assim: "Olha, só pode ser duas as causas do que aconteceu com seu pai. Primeiro, se ele não soubesse que era diabético, e segundo, se ele parou com os remédios".

Saí da conversa com o médico e fui até o quarto dele. Fui duro, jogando a real: "Pai, você fez de propósito e isso não vou admitir, porque você tem eu e a Zenaide, além de netos e bisnetos. Quer se matar?" Ele tentou justificar, mas não amoleci. Daí em diante, fez tudo certinho. Inclusive, depois de um tempo, voltou a ser extrovertido e engraçado.

Todos os anos, no dia 25/12, íamos almoçar com ele na Lellis Trattoria, que era seu restaurante preferido. Na última vez, em 2019, ele estava muito alegre, conversando com todo mundo, rindo, contando histórias e adorava a cuidadora que havíamos contratado para ficar com ele. Foi o nosso melhor almoço e o momento mais feliz (depois de tudo). No entanto, quatro dias depois (29/12/2019), meu pai sofreu um AVC potente.

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Ele ficou com diversas sequelas e o colocamos em uma clínica para receber atendimento 24 horas, incluindo fisioterapia. Ele estava evoluindo devagarinho, estava melhorando, e então chegou a pandemia. Não pudemos mais visitá-lo e passei o ano de 2020 inteirinho sem vê-lo, apenas recebendo notícias do médico da clínica.

Foi quando ele contraiu a covid-19 e voltou para o hospital, onde ficou por um longo tempo. Infelizmente, ele não resistiu e faleceu em 8/12/2020. Mas o que vale mesmo são todos os momentos incríveis até passamos juntos durante toda a sua vida.

Hoje ele iria completar 89 anos. Seria mais um almoço de Natal e de aniversário, mas essa história só poderia terminar assim: "Parabéns 'Seo' Walter, meu pai, que para sua enorme turma de amigos era o Geleia".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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