Habilitada para moto após perder perna: 'Diziam que não me equilibraria'

Atropelada quando tinha 3 anos, a publicitária Luana Martini, 27, perdeu parte da perna direita. Ela teve de aprender a viver com uma prótese e enfrentou dificuldades ao tentar tirar carteira de motocicleta, em Aracaju. "Diziam que não me equilibraria", lembra. A Universa, ela conta sua história.

'Desde o começo, foi difícil'

"Sofri um acidente quando tinha 3 anos, atropelada na calçada, e perdi parte da minha perna direita abaixo do joelho. Desde então, uso prótese. Na infância e adolescência, tinha o mesmo grupo de amigos e eles nunca deixavam ninguém tirar sarro de mim —por isso sempre me senti protegida e nunca tinha sentido o preconceito na pele, até tentar tirar minha carteira de motocicleta.

Luana Martini, de moto: ideia de tirar carteira veio para facilitar ida à faculdade
Luana Martini, de moto: ideia de tirar carteira veio para facilitar ida à faculdade Imagem: Arquivo pessoal/Divulgação

Quis tirar a habilitação porque o transporte na minha cidade não é muito bom e, quando entrei na faculdade, senti a necessidade de ter um veículo. Como não tinha dinheiro para comprar um carro, resolvi entrar em uma autoescola para aprender a pilotar motocicleta.

Desde o começo foi difícil: na época, existia apenas uma autoescola adaptada para pessoas com deficiência. E, na autoescola, não tinha veículo próprio para eu andar. Então, comprei uma moto e pedi autorização ao Detran para usá-la, mas me disseram que nunca tinham dado esse tipo de aval e pediram para ir a uma médica.

Luana Martini, de 27 anos, diz que deficiência não a limita
Luana Martini, de 27 anos, diz que deficiência não a limita Imagem: Arquivo pessoal/Divulgação

A médica fez diversos questionamentos e me senti constrangida. Ela dizia que eu não conseguiria me equilibrar na moto quando o farol fechasse, não acreditava que eu poderia por causa da minha deficiência.

Depois, fez alguns testes comigo, entre eles para ficar de pé. Perguntou se eu fazia atividade física e se já havia me adaptado à prótese. No fim da consulta, assinou a liberação e informou qual moto eu deveria ter —e não era o mesmo tipo de moto que eu estava comprando.

Precisei alugar um veículo para fazer as aulas práticas e, mesmo com a situação financeira complicada, fui em frente.

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Luana usa uma prótese desde a infância
Luana usa uma prótese desde a infância Imagem: Arquivo pessoal

Enquanto fazia as aulas, resolvi aprender a andar de bicicleta para me ajudar no equilíbrio. Foi bem difícil fazer isso depois de adulta, mas consegui. As aulas práticas eram muito emocionantes, conforme eu aprendia a dirigir.

Do início das aulas teóricas até conseguir tirar a carteira de motorista foi quase um ano. Precisei vencer o preconceito para conseguir, mas nunca pensei em desistir: sabia que poderia demorar anos.

'Nunca sofri acidente'

Além da carteira de motocicleta, tirei a de carro e, desde então, já dirigi bastante pela minha cidade e nunca sofri nenhum acidente. Ando com cuidado e, como tenho medo de passar do lado de caminhões muito grandes, nunca viajei pilotando.

Mesmo com minha carteira há anos, quando fui renová-la, ouvi de novo, agora de outra médica, o questionamento se eu deveria dirigir uma moto. Ela chegou a perguntar se não tinha sido um erro a primeira médica me deixar dirigir.

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'Servi de inspiração'

Quando comecei a divulgar minha história nas redes sociais, recebi mensagens de pessoas com deficiência que também queriam dirigir. Teve gente que me procurou para pedir ajuda de como proceder para tirar a carteira, porque nunca tinha conseguido vencer as etapas que eu consegui.

Muitos falaram que servi de inspiração para realizar esse sonho."

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