Evangélica e dona de sex shop: 'Lubrificante não é pecado, falar mal é'
Gislaine Brito dos Santos, de 44 anos, é dona de um sex shop em Campo Grande. Quando ela fala sobre o assunto, muitos se assustam - afinal, Gislaine é evangélica. Na loja, onde atende homens e mulheres, ela tenta derrubar o estigma de que sexo e prazer devem ser tabus.
Quem nunca usou um lubrificante, um produtinho, uma lingerie? Isso não é pecado, não. Eu acho que pecado é sair falando mal da vida de um, condenando o outro. [Do que adianta] uma saiona lá embaixo, uma roupa tampada... e uma língua que não cabe na boca? Eu falo besteira, eu dou risada. Mas eu tenho muito temor a Deus.
Começo de tudo
Loja foi ideia da filha e tem três anos. No começo do negócio, Gislaine não entendia nada sobre o universo dos sex shop. "Foi tudo uma grande descoberta. Aprendi muito pelo feedback das clientes", conta. Muitas das clientes, inclusive, são irmãs da igreja que ela frequenta.
As pessoas perguntam: 'mas você é crente?' Eu respondo: 'com a graça e misericórdia de Deus, amém'.
Preconceito na igreja. No começo, ela conta que foi julgada por outros fiéis. Hoje, não liga mais para comentários. "Já me importei muito, chorei muito por causa disso. Mas ninguém tem que pagar a minha água e a minha luz. Eu já não ligo mais."
Ela vende, mas não usa. Segundo a crença de Gislaine, o sexo antes do casamento é pecado - por isso, ela ainda não pode usar os produtos que vende. Ela até já foi casada no passado, mas na época ainda não tinha a loja.
Mais que clientes, amigas
Além de produtos, conselhos. Gislaine conta que gosta de conversar com as pessoas que compram em sua loja, e entender o que as levaram ali. "Esses dias eu atendi um rapaz supernovo, e ele não tinha ereção. Eu falei: 'eu não vou te vender [algum produto], eu vou te indicar um médico."
As pessoas acham engraçado, pela forma que eu explico, que eu converso, de não ter vergonha. Hoje em dia, tudo tem uma ajuda. Você tem que tentar resolver os problemas dentro de um relacionamento, de um casamento.
Intimidade ajuda a conquistar clientela. "A cliente chega aqui na loja, eu já falo: 'ah, sua safada, sua sem-vergonha' para já quebrar aquele clima. As pessoas chegam aqui com a autoestima lá embaixo", revela ela.
Mulheres a veem como 'última salvação'. Gislaine conta que uma cliente chegou na loja dizendo que, se ela não conseguisse ajudá-la, ninguém mais poderia. "Abracei ela e começamos a orar. Conversamos, ela levou uma lingerie e uns produtos. Quando foi no outro dia, ela veio me agradecer."
Trabalho e fé
Região anal é tabu. Para alguns evangélicos, sexo anal pode ser um tabu por conta de passagens bíblicas que condenam a prática. Mas, segundo Gislaine, produtos para serem usados no ânus estão entre os campeões de venda do seu comércio.
Uma moça veio conhecer a loja, não conhecia produtos de sex shop. Quando é assim, eu procuro indicar um lubrificante, um gel excitante. Mas ela falou: 'não, eu quero produto para a região anal porque eu prometi para o meu noivo'.
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Quero receberVale tudo, se tiver consentimento. Gislaine acredita que, independente da religião, o mais importante é o casal estar de acordo com o que é praticado entre quatro paredes. "Desde que os dois, marido e mulher, estejam de acordo, eu acho que não é pecado."
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