Fabiana Karla sobre limite para piadas: 'Não acredito no humor que fere'
Fabiana Karla, 48, já chegou sorrindo na entrevista. Com ela, não tem tempo ruim —e quando tem, segundo a própria, prefere nem sair de casa. "Nunca vou dar uma resposta torta para meus fãs", disse. A gratidão àqueles que a apoiam e acompanham fica evidente em sua fisionomia.
Dezembro foi um mês agitado para a nordestina. Só no Prime Vídeo ela estreou em duas produções: a terceira temporada do reality show de comédia "LOL: Se Rir, Já Era!", e o filme natalino "O Primeiro Natal do Mundo".
Nordestina com orgulho, Fabiana conversou com Universa sobre xenofobia, a evolução do humor nos últimos anos e o limite da comédia: "Não dar gatilho errado em ninguém."
Universa: Você sempre foi engraçada e teve essa habilidade para o humor?
Fabiana Karla: Sempre tive muita gente engraçada ao meu redor. Sou do Nordeste, onde as pessoas são assim. Se você chegar no aeroporto do Recife e pegar um táxi, por exemplo, vai acabar rindo do jeito engraçado ou turrão do motorista.
Na minha família rola piada toda hora. Eu era muito tímida e arte foi me salvando, me libertando. Descobri que fazer os outros rirem era legal, afinal, eu também adorava rir.
Inclusive, tenho o riso frouxo, não aguentaria ficar um minuto em "LOL: Se Rir, Já Era!". Seria eliminada. O brasileiro tem isso: de rir de si mesmo, sabe? Sempre fiz esse exercício. Sou dona da minha piada e posso dar risada de mim mesma.
Você é a amiga engraçada da turma? Aquela que procuram quando precisam relaxar e conversar?
Eu preservo minhas amizades de longa data e temos grupos no WhatsApp. No Recife, fui encontrar minhas amigas depois da pré-estreia do meu filme, "O Primeiro Natal do Mundo", que foi lançado no Prime Vídeo em dezembro. Começamos a fazer fotos no meio da praça, por conta da decoração de Natal. Brincamos como crianças ali.
Sou uma amiga confidente, que faz graça, mas que também dá apoio. É uma via de mão dupla, também tenho meus momentos. O cansaço, às vezes, me pega. É normal. E esses pequenos pesos eu divido com as minhas amigas.
É difícil administrar essa expectativa de que você precisa estar sempre feliz, principalmente com os fãs?
Olha, só não estou feliz se estiver doente, porque sou bem dada [risos]. Adoro falar com as pessoas, minha matéria-prima é o povo. Gosto de ouvir, olhar, falar... Adoro dar atenção. Agora, quando estou com sono fico que nem criança chata.
Se estiver muito mal nem saio de casa, mas nunca vou dar uma resposta torta para meus fãs. Eles me acolheram e me colocaram nesse lugar. Sinto que tenho essa responsabilidade. Para mim, essas interações são muito importantes.
Em "LOL: Se Rir, Já Era!" você é apresentadora, está fora das piadas. Como foi essa experiência?
Meu maior desafio era tentar não assistir aos meus colegas. Esquecia que estava trabalhando. Tom [Cavalcante, que divide a apresentação do programa com Fabiana] e eu somos muito amigos, conhecemos nossas caras, parecia que estávamos em casa.
O tempo é longo e o elenco maravilhoso nesta terceira temporada. Inclusive, acho que o sucesso entra na conta da diversidade do elenco. Me diverti muito, por isso que digo que, para mim, a parte mais difícil era estar ali só para assistir, prestar atenção na hora de apertar o botão, falar as regras, mas foi muito divertido. Bato palma porque sairia nos primeiros cinco minutos.
Qual o limite do humor para você?
É não dar gatilho errado em ninguém. Quando você tem consciência que aquilo que está fazendo está causando mal à alguém e continua, é cruel. Não tem espaço para a crueldade no humor. Ele é uma arma potente para se comunicar, se divertir, é uma ferramenta política. Você pode passar mensagens de forma mais leve e atingir seu objetivo.
Humor que fere, pra mim, é mau humor. Não acredito. É fácil rir dos defeitos, mas não temos mais espaço pra isso. Tem muita gente inteligente escrevendo. O audiovisual e os artistas estão fazendo um esforço hercúleo para isso, sem precisar menosprezar as minorias.
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Quero receberFalando em ferir, como nordestina, você é uma das pessoas que sabe o quanto a região sofre com xenofobia. Como você vê isso? Faz algo para combater?
Para mim, a ignorância é a mãe de tudo isso. Quando você conhece seu país, viaja e vê sua cultura, você é rico em conhecimento e não vai se desfazer das diferenças.
Combato essa xenofobia sendo um veículo para divulgar as maravilhas do meu Nordeste. Somos um país com várias belezas, sotaques e gastronomia. É tanta cultura. As pessoas merecem e precisam estudar mais sobre o Nordeste. A internet tá aí para isso.
Elas têm que conhecer a importância do Nordeste para o crescimento do país. Não entro em briga porque não preciso provar nada, nunca fui uma pessoa reativa. Sou nordestina e testifico com a minha vida e valores. Tem pessoas com dificuldade de aceitar nordestinos com sucesso, como eu. Lutei muito para conseguir essa visibilidade. Então vão ter que me engolir.
Para finalizar, quero falar um pouquinho de maternidade. Você é mãe de três adultos. Fica mais desafiador? O que muda?
Sofro da síndrome do ninho cheio, porque todos os meus filhos estão em casa sempre. A Laura mora comigo em São Paulo, mas vive na ponte aérea com o Rio. O Samuel também mora comigo. A Beatriz mora no Recife, mas também está sempre no Rio comigo.
Nas datas comemorativas e nos melhores momentos, a casa está sempre cheia. O esquenta do Carnaval é sempre na minha casa. É uma loucura, mas faço uma boa administração.
Temos um grupo no WhatsApp chamado "Filhos Amados" e nunca perdemos contato. É muito gostoso saber que filhos de 23, 24 e 25 anos ainda querem minha opinião. Nós rimos juntos, viajamos juntos. Temos os nossos momentos, é muito legal. Tenho parceiros de vida. A cada momento a maternidade traz uma preocupação e uma alegria. E continuo com elas. Mas pra mim, só melhora.
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