'Mulheres são mais resilientes por natureza', diz Letícia Spiller
Letícia Spiller, 50, tem 35 anos de carreira. Entre diversos papéis, de vilãs e mocinhas, ela está enfrentando um novo desafio: interpretar a socialite Isabel, que é casada com um homem acusado de corrupção na série "A História Delas", no Star+.
"Foi muito difícil encontrar o tom. Para mim, foi complicado entender como minha personagem era acomodada e alienada aos problemas do mundo", disse em entrevista a Universa.
No papo, Letícia se diz defensora do 'ninguém solta a mão de ninguém' e se preocupa com o individualismo criado pelas redes sociais —principalmente no impacto que isso pode trazer para a vida de sua filha, Stella, de 12 anos.
Universa: A série fala de muitos assuntos atuais, que vão desde racismo a corrupção. Para você, a dramaturgia é uma ferramenta importante de conscientização da sociedade?
Letícia Spiller: É extremamente importante. Desde que o teatro nasceu ele tem essa função. Por isso me orgulho muito da minha profissão, sabe? Da minha arte ser tão poderosa e transformadora. Acredito que a série provocará reflexões. Não vamos falar apenas de conflitos, mas de dilemas que temos no dia a dia e assuntos dos quais precisamos evoluir como sociedade. Curti muito ter feito parte desse projeto.
O marido da sua personagem é acusado de corrupção e ela se vê ali, dividida, com raiva, confusa. Você acredita que as mulheres têm mais compaixão nessas situações?
Acredito que as mulheres são mais compassivas, resilientes e tolerantes por natureza. E também que somos tão poderosas quanto somos capazes de viver. Passar pelo o que minha personagem passou é transformador. No caso dela, não haverá conformismo, pois ela pode ser presa como cúmplice por conta dos crimes do marido. Todas as experiências vão mudar a maneira como ela vê a vida.
Quais paradigmas você acredita que a série quebrará?
É uma produção de encontro entre mulheres, que são obrigadas a encontrar seus caminhos na vida. É bonito ver a união que vai acontecer entre elas a partir de situações que são obrigadas a viver. Tudo as deixa mais fortes e confiantes. A única saída vai ser a união. Acredito que esse é o grande barato da série. Mas você falou sobre paradigmas. Acho que quebra os preconceitos, igualdade de gênero e racismo.
Entre todos esses temas delicados, algum foi mais difícil de gravar para você?
Todas as que são relacionadas ao passado da minha personagem, Isabel, com a sua antiga empregada doméstica, Marta, que é interpretada por Cris Viana. Foi muito difícil encontrar o tom. Para mim, era complicado entender como minha personagem era acomodada e alienada aos problemas do mundo, até da relação com a própria Marta.
Tenho um posicionamento completamente diferente do dela. Minha mãe está com 91 anos, meu pai 98. Eles viveram aquele sistema pós-ditadura de uma sociedade meio acomodada. Presenciei, sim, muitas coisas dessa classe média que tentava sobreviver, vivendo com resquícios desse pensamento colonialista —que existe até hoje. Precisamos quebrar esses sentimentos e ações.
Nota da edição: o pai da atriz morreu no último domingo (28). A entrevista foi concedida em dezembro de 2023.
Acredito que a série vai ajudar a abrir o olho das pessoas nesse sentido. Para mim, essas cenas do passado foram as mais difíceis.
Você já passou por alguma situação em que teve que ficar desconfortável para ajudar algum amigo ou amiga, como acontece na produção?
Ah, sim. Estamos no mundo para nos ajudar, crescer e evoluir. Me incomoda gente que toma caminhos individualistas e isso acontece cada vez mais com as redes sociais.
Me preocupo com a minha filha [Stella, 12 anos] que é dessa geração conectada. O meu filho Pedro não pegou esse movimento. Ela recebe muita informação, muito rápido e faço questão de sempre levá-la para passear na natureza e deixá-la com os pés no chão.
Por outro lado, além de ser uma ferramenta de trabalho, a internet é uma ferramenta de união, que nos dá rapidez para nos conectarmos com pessoas. Sou da geração do 'ninguém solta a mão de ninguém'.
Você é uma mulher de 50 anos que passou quase a sua vida toda sendo uma pessoa pública. Em algum momento cansa ser reconhecida o tempo todo?
A gente aprende com o passar do tempo. A maturidade nos traz tranquilidade em relação a tudo. Faço ioga e meditação, o que me deixa em um lugar bem centrado quando preciso ir a algum evento e atender diversas pessoas.
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Quero receberMe perguntam como eu tenho paciência para isso, mas é algo adquirido. Como diz meu pai, são 'ossos do ofício', não tem escapatória. Não é que cansa, só que algumas vezes você precisa se restabelecer, equilibrar a energia. Mas lido muito bem.
Quando era mais nova, fiz uma viagem para Nova York que me deu uma grande sensação de liberdade, porque ninguém me conhecia. Mas também me incomodei, e até chorei, porque não entendi porque as pessoas não me olhavam nos olhos. Foi um mix de tristeza e liberdade.
Rola um medo de se tornar irrelevante? De ser esquecida?
Não me dá medo, só não quero parar de exercer o meu ofício. Quero trabalhar até quando Deus me permitir, sabe? Estar bem de saúde, fazendo o que amo.
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