'Mandei doar': vale a pena guardar os presentes do ex ou não?

"Pedi para minha mãe doar o bichinho de pelúcia que ele tinha me dado." A publicitária Daniela Lima, 38, não pensou duas vezes em se livrar dos presentes que tinha ganhado do ex quando eles terminaram. Mas nem todo mundo é assim —e se apegar demais à recordação de relacionamentos antigos pode não ser um bom sinal.

"Tive um relacionamento quando tinha 18 anos. Foi um romance, mas nos separamos. Ele tinha me dado alguns presentes, entre eles, um cachorro de pelúcia. Como morava com meus pais na época, pedi para minha mãe doar", conta a publicitária.

O que ela não imaginava é que sua história teria uma reviravolta. Após 20 anos separados, ela e esse namorado voltaram a se relacionar. E ele queria saber o que Daniela tinha feito com os presentes. "Quando falei que coloquei para a doação, ele ficou bravo. Só depois descobri que minha mãe tinha guardado escondido", diz.

O cachorro de pelúcia que Daniela ganhou e falou para a mãe doar
O cachorro de pelúcia que Daniela ganhou e falou para a mãe doar Imagem: Acervo pessoal

Quando foram morar juntos, ela não quis levar a recordação antiga para casa, não. "Ele teve uma filha quando estávamos separados e demos o cachorro de pelúcia de presente para ela. Meu marido é dramático. Ele jogou nossa aliança da época no canteiro central da marginal e, no dia seguinte, voltou para buscar, porque se arrependeu", conta Daniele.

Já a empresária Thais Lira, 32, gosta de guardar com carinho as memórias afetivas de relacionamentos antigos. "Sinto que é uma forma de honrar a história que foi vivida", conta. Quando ela tinha 17 anos viveu um romance à distância, e até hoje tem o que ganhou do ex-namorado da época.

Thais Lira costuma guardar os presentes que ela ganha dos ex-namorados
Thais Lira costuma guardar os presentes que ela ganha dos ex-namorados Imagem: Acervo pessoal

"Não joguei fora os presentes porque nunca deixamos de ser amigos. Ele foi uma pessoa especial na minha vida. Me tratou bem, me respeitou. Não vejo problema em preservar essas memórias", conta. Ela, inclusive, tem o hábito de escrever as histórias que vive e guardá-las.

O perigo está preso no passado

As especialistas são unânimes em dizer: se o presente não traz más lembranças, não há problemas em tê-lo. "Quando temos uma relação muito bem resolvida com o ex, sem nenhuma associação dolorosa, não tem problema guardarmos esses presentes", diz a psicóloga Pamela Magalhães.

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O problema para a psicóloga Adriana Severine é ficar preso nas memórias.

Você usa esses presentes? Então não há motivos para se desfazer, afinal a pessoa te deu com amor e carinho. Agora se guarda uma camiseta que não serve mais, um copo que quebrou por conta das memórias, acaba estagnada no passado. Adriana Severine

O que não devemos fazer é nos apegar a itens que trazem tristeza, dor e angústia. "Se toda vez que você relembra sua história com o ex sente algum tipo de emoção negativa é porque ainda existe algo a ser trabalhado. Todos nós tivemos relações complicadas, mas precisamos nos conscientizar desse fato e trabalhar para a fluidez da nossa vida", diz Magalhães. O ideal, nesse caso, é procurar ajuda.

"É como lidar com o luto, porque você perdeu aquela pessoa em sua vida", explica Severine. Segundo Magalhães, nem toda relação termina ao mesmo tempo. Para uma parte, o relacionamento pode ter acabado há tempo, enquanto a outra não quer o fim. Por isso é importante evitar recordações se elas forem gatilhos de dor.

"Se toda vez que você olhar para os presentes ficar ruminando o que passou e não existe mais é porque ainda há algo na sua mente. E isso pode estar impedindo que você vire a página", completa Magalhães.

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