Este gesto pode salvar mulheres em risco no Carnaval, mas é pouco conhecido

Levar o polegar ao centro da mão e, depois, fechar os outros dedos em torno dele. Para muitas pessoas, esse gesto pode não chamar a atenção, mas é capaz de salvar a vida de mulheres em risco.

O Sinal para Ajuda (do inglês Signal for Help) é uma iniciativa de combate à violência doméstica, lançada em abril de 2020 pela Fundação de Mulheres Canadenses.

A ideia era usá-lo em reuniões online durante o home office, dado o aumento da violência em casa na pandemia. Ele foi escolhido por ser simples e não deixar rastros digitais.

O gesto ganhou sucesso com a ajuda das redes sociais, principalmente do TikTok, que concentra um público mais jovem. Por isso, a tendência é ser pouco conhecido entre os mais velhos, ou quem não consome tanto conteúdo nas redes sociais.

Segundo a promotora de Justiça Valéria Scarance, a maior vantagem é o sinal ser uma estratégia mundial de combate à violência e de rápida compreensão —inclusive fácil para crianças aprenderem. Com isso, mulheres conseguem pedir socorro em qualquer país e são entendidas independente das barreiras de idioma.

Esse sinal pode ser usado de qualquer jeito, seja para sinalizar a violência de forma presencial ou à distância, e demonstrou que produz resultado. Valéria Scarance, promotora de Justiça e criadora da cartilha Namoro Legal

Mulheres já foram protegidas pelo gesto. Em 2021, uma adolescente sequestrada por um homem de 61 anos foi salva depois de fazer o sinal para um motorista em uma rodovia dos EUA.

No ano seguinte, uma mulher do Tennessee (EUA) usou o gesto em uma loja de conveniência e um dos clientes ligou para a polícia, indicando o número da placa do carro em que ela entrou. Após perseguição, o motorista do veículo foi preso em flagrante por sequestro e violência doméstica.

Por que não é tão popular no Brasil?

Primeiro, é preciso entender que o sinal é mais popular entre jovens, já que viralizou nas redes sociais.

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A advogada Alice Bianchini, do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, explica que medidas educativas sobre gênero que viralizam nas redes sociais fazem eco e podem refletir em quedas nos índices de violência. Um exemplo, aponta ela, é que os homicídios de mulheres brasileiras abaixo dos 30 anos caiu no ano passado, enquanto subiu entre as acima dessa idade, apontou o Atlas da Violência.

Eu penso o quanto a comunicação que chega às meninas e aos meninos através da internet pode ter sido impulsionadora sobre a compreensão do papel da mulher na sociedade e sua proteção. Alice Bianchini, advogada e integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

O obstáculo é popularizá-lo entre os mais velhos. Um caminho é a divulgação em locais em que essas pessoas buscam informação (como na TV) e no transporte público, defende Bianchini. "É necessário ter esse tipo de campanha em todos os lugares. Quando se fala muito de um assunto, ele repercute, fazendo prevenção direta, ou ensinando a saber o que fazer, se a violência ocorrer", afirma.

via GIPHY

Brasil tem outras estratégias

O Brasil trabalha outro gesto para coibir a violência contra mulheres: o Sinal Vermelho. Desde 2021, ele é uma iniciativa do governo federal para pedir socorro de forma discreta. A orientação é desenhar um X na palma da mão e mostrá-lo preferencialmente em farmácias, onde os atendentes são treinados para ajudar a vítima.

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Adotar estratégias diferentes, incluindo outros gestos, não é ruim. "Uma iniciativa não exclui a outra. O combate à violência contra a mulher envolve um conjunto de ações", defende a promotora Valéria Scarance. O importante é elas virem acompanhadas de informação e de um protocolo para proteger a vítima. Se isso não existe, a denunciante e quem tenta ajudá-la ficam expostos, com risco de mais violência.

Alguns estados, inclusive, adotam campanhas abordando o Sinal para Ajuda. Em São Paulo, por exemplo, o gesto é divulgado nas ações do Não Se Cale, lei estadual de proteção às mulheres em estabelecimentos que vendem bebida alcoólica, como bares e casas noturnas.

Uma expectativa para popularizar o sinal é a implementação do protocolo Não é Não, iniciativa federal sancionada em dezembro de 2023 nos moldes do Não se Cale. Ambas as leis orientam que cada local crie uma forma de mulheres sinalizarem que estão sob perigo —isso deve estar descrito em materiais nos banheiros femininos.

Só é importante não unificar as estratégias, porque formas diferentes de pedir socorro são essenciais para despistar os agressores. "É importante cada estabelecimento criar o próprio código", explica a advogada Alice Bianchini.

Como socorrer ao ver o sinal?

É importante proteger a mulher, mas sem se colocar em risco:

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Imagem: iStock

Chame a polícia (190) em situações de violência iminente, ou ligue para a Central de Atendimento à Mulher (180);

Faça fotos e vídeos das pessoas envolvidas, placas de carro, localização. Mesmo sem saber o nome da vítima, isso ajuda a identificar ela e o agressor;

Se não houver situação de risco evidente, tente se aproximar e perguntar se está tudo bem, sempre usando frases neutras.

O dever de enfrentar a violência é do Estado, por isso não se deve se colocar em situações de risco. A orientação é acionar as autoridades. Valéria Scarance, promotora de Justiça

O que diz o Ministério das Mulheres

O Ministério das Mulheres afirmou que não trabalha ações específicas sobre o Sinal para Ajuda, porque o foco no momento é a implementação do protocolo Não é Não.

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Durante o Carnaval, a pasta coloca em prática pela primeira vez o Brasil Sem Misoginia. O programa é uma parceria com o Ministério do Turismo, que vai mapear eventos estratégicos para divulgar ações de combate à violência contra mulheres, incluindo o Não é Não.

O que 5 capitais farão para proteger mulheres no Carnaval

Universa perguntou se há campanhas do Sinal para Ajuda às prefeituras de cinco cidades com grandes Carnavais: Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A capital paulista é a única com iniciativas voltadas ao gesto, dentro do protocolo estadual Não se Cale.

Veja abaixo as estratégias de cada uma para coibir e punir a violência contra mulheres durante a folia:

Belo Horizonte

Não divulga o Sinal para Ajuda.

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Drones sobrevoarão áreas de blocos para mapear casos de importunação sexual. Isso também vai favorecer prisões em flagrante.

Agentes femininas circularão entre os blocos para ações educativas contra o assédio sexual, além de darem aviso nos microfones de trios.

Recife

Não divulga o Sinal para Ajuda.

A Secretaria da Mulher de Recife disse que profissionais dos blocos receberam treinamento para reconhecer e intervir em casos de importunação e destacou o "Manual de como não ser um babaca no Carnaval", material para conscientizar sobre os direitos das mulheres.

A Praça do Arsenal receberá a Central da Mulher, com psicólogas, assistentes sociais e advogadas, para orientar e acolher em casos de importunação e violência.

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Rio de Janeiro

Não divulga o Sinal para Ajuda.

A Marquês de Sapucaí e o Carnaval da Intendente Magalhães terão postos de atendimentos. No Sambódromo, os banheiros femininos terão adesivos com indicações de como pedir ajuda em uma plataforma online, com tradução para inglês, espanhol e francês.

A Secretaria da Mulher também participará dos blocos de rua em campanha de combate ao assédio.

Salvador

Não divulga o Sinal para Ajuda e disse que a cidade concentra as ações de combate à violência contra a mulher na campanha Sinal Vermelho.

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Até a publicação desta reportagem, a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, Infância e Juventude não respondeu quais medidas adotará no Carnaval.

São Paulo

Divulga o Sinal para Ajuda dentro do protocolo Não se Cale.

Equipes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania estarão no Sambódromo do Anhembi e circulando em blocos de rua para sinalizar tendas especializadas e as Unidades Móvel de Atendimento.

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