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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Câncer de ovário: diagnóstico ainda é desafio para a oncologia

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Imagem: iStock

Colaboração para o VivaBem

24/05/2021 04h00

O câncer de ovário é a segunda neoplasia ginecológica mais comum entre as brasileiras —atrás apenas do câncer do colo do útero—, segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer), que estima 6.650 casos novos da doença neste ano.

Em 2019, mais de 4 mil mulheres morreram com a doença no Brasil. De cada dez pacientes, duas têm esse tumor secundário a uma mutação, geralmente relacionada aos genes BRCA1 ou BRCA2. As demais apresentam tumores esporádicos ou relacionados a fatores ambientais, como excesso de peso, sedentarismo, adoção de dietas ricas em açúcar e gordura, histórico de reposição hormonal, entre outros.

Uma das peculiaridades deste tumor é que, diferentemente dos casos de mama e de colo de útero, ainda não há um exame de rastreamento reconhecidamente eficiente. Os estudos envolvendo marcadores tumorais, entre eles o teste de sangue CA-125 e a ultrassonografia transvaginal, não conseguem diagnosticar precocemente a doença e não diminuíram o número de mortes.

Um estudo publicado recentemente por pesquisadores britânicos buscou analisar os impactos das possíveis estratégias de rastreamento do câncer de ovário. O artigo "Ovarian cancer population screening and mortality after long-term follow-up in the UK Collaborative Trial of Ovarian Cancer Screening" fornece extensos dados de acompanhamento de mulheres que realizaram ou não exames clínicos, no maior estudo já realizado sobre o tema.

Os cientistas concluíram que a redução na incidência da doença em estágios mais avançados nos grupos de pacientes que realizaram o rastreamento não se traduziu em vidas salvas. Assim, os "exames preventivos" não foram recomendados de forma rotineira para a população em geral.

De cada dez pacientes com diagnóstico de câncer de ovário, oito se apresentam com a doença já envolvendo o peritônio (membrana fina, que reveste outros órgãos) ou outras regiões do organismo.

Quando o tumor é confirmado, a cirurgia é um dos modos de tratamento mais eficazes. Na doença localizada, o ovário comprometido é removido e, eventualmente, os gânglios também são retirados. Se a paciente ainda estiver em idade fértil, consegue-se, muitas vezes, preservar o ovário saudável.

Por outro lado, naqueles 80% de mulheres com doença avançada é feita uma cirurgia mais ampla, que remove os ovários, útero, eventualmente os gânglios e todas as metástases na região peritoneal ou em outros órgãos.

Quanto mais radical for a cirurgia —ou seja, quanto mais tumor é removido, preferencialmente e as ressecções completas são desejadas— melhor o prognóstico da paciente.

Além da cirurgia, o tratamento complementar envolve, nos casos mais avançados, a quimioterapia com duas drogas: carboplatina e pablitaxel.

Para os casos de pior prognóstico, é possível associar a quimioterapia a drogas antigiogências, em que a mais utilizada chama-se bevacizumabe. Essa associação, em casos selecionados, reduz o risco de progressão ou morte em até 30%.

As técnicas cirúrgicas também avançaram muito nos últimos anos. O nível de ressecções máximas teve progressos efetivos, levando em conta que as operações devem ser realizadas em grandes centros, com uma estrutura cirúrgica importante, envolvendo, muitas vezes, vários times, com um cuidado pós-operatório relevante, como de terapia intensiva.

Em alguns casos, é recomendada a quimioterapia dentro do peritônio como parte do tratamento, a chamada quimioterapia hipertérmica, também feita nos grandes centros de tratamento do câncer. Um estudo holandês sugere que essa estratégia pode representar um ganho adicional além da cirurgia e da quimio sistêmica convencional.

Para os casos de doença avançada, existe o tratamento de manutenção com drogas chamadas inibidoras da PARP, medicamentos que evitam que o tumor se reconstitua depois do ataque da cirurgia e quimio. Os medicamentos mais usados são o olaparibe (indicado para pacientes com mutações BRCA1 e BRCA2) ou niraparibe (para pacientes com mutações ou alterações da recombinação homólogas ou sem nenhuma destas alterações). Esses remédios, usados por pelo menos dois anos, diminuem o risco de progressão ou morte em até 70%, dependendo da população a ser tratada.

Quando a doença volta, temos tratamentos importantes, como quimioterapia com drogas que não foram usadas antes, hormonioterapia e, eventualmente, drogas alvo-dirigidas. Muitas pesquisas têm sido feitas nesta área envolvendo imunoterapia, mas este tipo de medicamento ainda não é consagrado como tratamento de eleição para os casos de câncer de ovário.

*Fernando Maluf é formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é Livre Docente, diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer (IVOC).