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Soroterapia: há benefícios em tomar um "soro de beleza" direto na veia?

Soroterapia deve ser indicada com algumas cautelas - iStock
Soroterapia deve ser indicada com algumas cautelas Imagem: iStock

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

17/05/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Soroterapia é uma reposição de vitaminas, minerais, aminoácidos diretamente na veia
  • Conhecido como soro da beleza, procedimento promete melhorar imunidade, a pele e diminuir ansiedade
  • Médicos divergem no assunto; soroterapia deve ser feita apenas em casos de não absorção de nutrientes por via oral
  • Além disso, procedimento não é nada acessível: cada ampola custa, em média, R$ 150

Já ouviu falar na soroterapia? No Brasil, ela também pode receber outros nomes como "soro ou terapia da beleza" ou simplesmente terapia injetável/intravenosa. Nos EUA, ela é mais conhecida por "vitamin drip" —algo como "gotas de vitamina" na tradução.

Apesar de nomes diferentes, todas elas têm o mesmo objetivo: a suplementação de vitaminas, minerais, antioxidantes e/ou aminoácidos diretamente na veia, como um soro, ou de forma intramuscular.

As especialistas consultadas por VivaBem divergem sobre o tema. A reposição desses componentes não tem nada de novo, mas o grande diferencial é a forma como é feita e seu "apelo comercial", garantindo rapidez na absorção. De qualquer forma, o que todas defendem é que o procedimento seja feito sempre com a prescrição e a supervisão de um médico.

Segundo Fernanda Cortez, médica especializada em nutrologia pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) e pós-graduanda em nutriendocrinologia funcional, um dos grandes benefícios da soroterapia é a absorção mais rápida dessas substâncias.

"Quando a gente toma um remédio pela via oral, não absorvemos tudo, e tanta gente que tem gastrite, refluxo ou problemas no intestino que absorvem muito pouco. Por meio do soro ou de forma intramuscular, você alcança uma absorção de 100% desses nutrientes", explica.

Já Carla Gayoso, chefe de dermatologia do HULW (Hospital Universitário Lauro Wanderley) da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), acredita que as formas tradicionais para repor nutrientes e vitaminas já são bem conhecidas e devem ser mantidas, por mais que sejam "lentas".

Para a especialista, a soroterapia deve ser realizada apenas em casos excepcionais, ou seja, quando o paciente é incapaz de absorver alguma dessas substâncias via oral.

"Com controle nutricional, fazendo exercícios, mantendo a saúde mental em dia, a pessoa consegue obter tudo isso sem ser 'para ontem'. Mas esse é o grande apelo da soroterapia: é para ontem", diz.

Como funciona a soroterapia?

Segundo Cortez, a ideia da soroterapia é "tratar o organismo como um todo", ou seja, deixá-lo no "melhor estado possível". Por isso, a indicação de cada soro é muito individualizada. Mas como funciona?

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Soroterapia repõe vimatinas, minerais direto na veia
Imagem: iStock

O primeiro passo são os exames que devem ser solicitados por um médico para ver o que falta e o que precisa no organismo do paciente —neste momento, o especialista pode investigar se a pessoa tem alergia a alguma substância, por exemplo.

Depois disso, com todos os resultados em mãos, é possível montar um protocolo para o paciente, completamente personalizado.

O local de aplicação depende um pouco de cada substância. A vitamina D, por exemplo, é aplicada de forma intramuscular (nas nádegas) já que é oleosa. Já outras vitaminas e minerais, misturadas com soro fisiológico, podem ser injetadas diretamente na veia.

Se a escolha de cada soro varia de acordo com a pessoa, a duração do tratamento também. Para suplementação de vitaminas, por exemplo, leve em conta de 4 a 6 semanas.

Agora, para objetivos de longo prazo, como auxílio no emagrecimento, ganho de massa ou para diminuir a ansiedade, a duração vai depender da resposta do paciente.

Os tipos de soroterapia

São dos mais variados. Pode ser detox, para a limpeza do organismo; os soros mais focados no fortalecimento de cabelo e unhas; há aquelas que auxiliam no emagrecimento, com substâncias que aceleram o metabolismo. E também os que ajudam a tratar ansiedade e depressão.

"Neste último exemplo, o soro leva o aminoácido triptofano, um indutor natural da serotonina, hormônio da felicidade. Algumas vezes, não conseguimos absorver pela alimentação, como no chocolate, quem tem doses em pequena quantidade", diz Cortez.

Mas aqui, precisamos deixar claro que não há evidências científicas de que essas medidas vão resolver milagrosamente a ansiedade ou excesso de peso, por exemplo. Mesmo sendo um indutor da serotonina, só o soro com triptofano não seria suficiente. O organismo precisa de estímulos para produzir um neurotransmissor, como a prática de exercícios físicos, alimentação equilibrada e principalmente com atividades prazerosas.

O natural, em excesso, também pode fazer mal

A soroterapia, hoje muito vinculada a um tratamento de beleza, não faz muito sentido, é um "risco desnecessário", segundo especialistas. Na visão delas, esse tipo de procedimento deve ser feito em quem, de fato, apresente uma doença que não permita a absorção de determinadas vitaminas ou minerais por via oral.

"Por exemplo, um idoso que precisa repor a vitamina X ou Y e não consegue mais absorver porque o intestino está envelhecido. Ele pode repor isso de forma intravenosa. Neste caso, é válido", explica a chefe de dermatologia do HULW.

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As soroterapias são vendidas como terapias de beleza
Imagem: iStock

Uma pessoa saudável não precisa repor esses nutrientes para evitar possíveis doenças, segundo Ekaterini Simões Goudouris, imunologista e diretora da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

"Quem se alimenta bem, está saudável, sem doenças, não pode achar que, se entupindo de vitaminas e minerais, vai resolver algum problema de saúde", afirma.

"É preciso lembrar ainda que o corpo não estoca substâncias em excesso, ela vai sair pelo xixi", diz a especialista. "Mesmo que sejam substâncias naturais, em excesso, elas podem fazer mal".

Os cuidados com a soroterapia

Como já dito, a suplementação dessas substâncias não tem nada de novo, o único diferencial é a forma que é feita e o tempo de absorção mais rápido, mas são exatamente esses dois pontos que também merecem atenção.

"Como médica, eu guardaria essa via [intravenosa] para causas mais nobres, para alguém que realmente está precisando de uma vitamina D, por exemplo, e não consegue absorver pelo intestino por X motivos", conta Gayoso.

Segundo a médica, mesmo com exames feitos antes, existe a possibilidade de a pessoa ter reações alérgicas, como uma intolerância ao componente e até mesmo um choque anafilático, que é uma reação grave, mas não muito comum neste caso.

"O fato de ser diretamente na veia pode, sim, acionar as defesas do corpo de uma forma diferente do que paulatinamente, engolindo uma vitamina por dia, por exemplo", esclarece.

Dependendo do lugar escolhido, há o risco de ocorrer uma infecção por conta da via de aplicação da substância, a agulha pode estar contaminada e/ou ser mal inserida. Por isso, é muito importante que esse procedimento seja feito de forma segura, apenas com indicação e supervisão médica e, de preferência, em um ambiente hospitalar para o caso de uma reação adversa.

Quanto custa a soroterapia?

O valor dos soros de beleza pode ser salgado —assim como tudo que vai virando moda, com influência dos famosos. Uma ampulheta pode custar, em média, R$ 150.

Se a pessoa realiza 4 sessões, por exemplo, já são R$ 600. Sem levar em conta que, nesses "coquetéis" são incluídas diversas combinações.

Para fazer aqui no Brasil, diferente de outros países, é necessário ter prescrição médica. Até porque, para comprar as ampolas dos tratamentos, é preciso ter o carimbo do CRM (registro profissional no Conselho Regional de Medicina). Esse médico pode ser um endocrinologista, nutrólogo, dermatologista ou clínico geral. Não se esqueça procurar locais de referência.