Criolipólise é procedimento seguro e eficaz contra a gordura localizada
Que nós não nos enganemos, a gordura localizada não responde à adoção de dietas equilibradas e exercícios físicos. Mas a ciência já descobriu que esse tipo de adiposidade é mais sensível ao frio do que outros tecidos e, portanto, submetê-la a baixas temperaturas pode ajudar a combatê-la. E é exatamente este o efeito de um procedimento estético conhecido como criolipólise.
Essa técnica não invasiva é hoje considerada a mais segura e efetiva para combater a gordura localizada, especialmente em regiões do corpo como o abdome, a "papada" e até a região interna de coxas e braços, entre outras. Para além disso, a criolipólise ainda garante efeitos duradouros.
Esse procedimento tem como objetivo a redução de medidas e a obtenção de um resultado estético, e ele não é indicado para quem deseja perder peso e emagrecer. O paciente ideal para esse tratamento é aquele que já tem um estilo de vida saudável, possui peso equilibrado ou está ligeiramente acima dele, mas apresenta pequenas concentrações de gordura pelo corpo.
Entenda o que é criolipólise
A palavra criolipólise é formada por três vocábulos —crio, lipo e lise— cujos significados são frio, gordura e quebra, respectivamente. Assim, o procedimento é definido como uma prática não cirúrgica e não invasiva que utiliza um equipamento cuja tecnologia promove a redução da gordura localizada por meio do resfriamento controlado (deve variar de -11°C a -13°C) do excesso de células de gordura (adipose).
O tratamento é seletivo para adiposidade, e isso significa que a prática resulta na redução da gordura local, sem comprometimento dos tecidos existentes ao seu redor.
Para quem ela é indicada?
A criolipólise tem indicação para homens e mulheres que tenham estilo de vida saudável, o que inclui atividade física, dieta e peso equilibrados, ou ligeiramente acima do ideal para a sua faixa etária e idade, mas estão insatisfeitos com determinada região do corpo que apresente gordura localizada.
A dermatologista Fátima Brito, professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), explica que "não adianta reduzir a gordura em uma determinada região e facilitar que ela se acumule em outra parte do corpo. Ser informado sobre isso evita frustrações decorrentes de expectativas irreais. O procedimento não visa o emagrecimento nem a perda de peso. Por isso, hábitos saudáveis devem estar presentes antes e depois da criolipólise".
Quais são as contraindicações
Como não se trata de um técnica invasiva, ela não tem repercussão nos sistemas do organismo como um todo, e são poucas as suas contraindicações. Confira:
- Doenças reumatológicas raras
- Gravidez
- Presença de hérnia na região a ser tratada
- Câncer em atividade
- Doença neurológica conhecida
- Sensibilidade ao frio (urticária, fenômeno de Raynaud)
- Uso de anticoagulantes
- Fragilidade capilar (dos vasos sanguíneos)
- Distúrbio hematológico (crioglobulinemia)
- Urticária ao frio
- Lesões na pele
Existe uma idade mínima ou máxima para o procedimento?
Os especialistas afirmam que não há restrição de idade porque a única indicação para o tratamento é ter gordura localizada.
No entanto, embora não exista uma contraindicação absoluta para adolescentes, é preferível que se espere até os 18 anos para que seja observada a ação do metabolismo natural nesse grupo que, eventualmente, poderia resolver o incômodo causado pela adiposidade.
Em situações específicas, o médico deve avaliar a relação entre o risco e benefício do procedimento para aquele determinado paciente. Caso entenda que ele deve ser feito, é necessária autorização prévia dos pais ou responsáveis.
Já entre indivíduos maduros, não há limite de idade. Para aqueles que apresentam flacidez, os resultados podem variar. Há relatos de que a técnica melhora o aspecto da pele; outros indicam a acentuação da característica. Nesse último caso, o profissional da saúde poderá discutir com o paciente a necessidade de associação de tratamentos para a flacidez que miniminizem esse efeito.
A criolipólise só tem objetivo estético?
De acordo com a cirurgiã plástica Gabriela Schwartzmann, preceptora responsável pelas atividades de cosmiatria da residência em cirurgia plástica da FMRP-USP, o procedimento pode ter finalidade reparadora.
"Quando o paciente tem uma assimetria, por exemplo, um culote pronunciado apenas de um lado, pode-se dizer que a criolipólise é reparadora e não só estética", diz a especialista. "Por vezes, utilizamos tanto a lipoaspiração como a criolipólise de uma forma assimétrica, justamente para corrigir eventuais diferenças que o paciente possa ter", esclarece a médica.
Conheça as regiões que podem ser tratadas
A criolipólise pode ser aplicada nas seguintes partes do corpo:
- Abdome
- Culote
- Gordura submentoniana (papada)
- Flancos (regiões laterais do tronco)
- Joelho
- Parte interna de braços e coxas
- Costas
- Região pré-axilar (a região da parte posterior do sutiã)
Os médicos consultados citam que, na prática, o que eles observam é que os melhores resultados são observados no abdome, na região pré-axilar, na papada e flancos.
Eu corro algum tipo de risco?
Quando o procedimento é realizado de forma correta, a chance de acontecer algum efeito indesejado se resume no aparecimento de vermelhidão local e hematomas, que passam rapidamente.
Por outro lado, em situações nas quais o aparelho seja manejado sem a devida capacitação técnica e sem os equipamentos de segurança, podem ocorrer queimaduras graves.
Uma complicação rara do procedimento, que é mais frequente entre os homens, é a hiperplasia paradoxal da gordura, ou seja, a prática provoca um efeito contrário ao esperado. Quando isso acontece, a solução é fazer uma lipoaspiração.
Quais são os profissionais treinados para fazer esse tratamento?
Na maioria das vezes, trata-se de um procedimento indicado pelo médico. No entanto, estão habilitados para fazê-lo médicos, fisioterapeutas e esteticistas.
Antes do procedimento, porém, todos esses especialistas devem conhecer seu histórico de saúde pessoal e familiar, além de seus objetivos estéticos e/ou reparadores, e ainda devem fazer o exame físico para avaliar a região a ser tratada. Todos esses cuidados ajudarão o profissional a saber se a criolipólise trará os resultados esperados.
Outra prática comum é fotografar e medir a região para observação posterior.
Esteja pronto para dizer a eles quais são suas expectativas e dúvidas. Além disso, lembre-se de pedir esclarecimentos sobre os possíveis riscos para você, em especial.
O que esperar de uma sessão de criolipólise?
Como se trata de um procedimento não invasivo, em geral, não há preparo anterior. A exceção fica por conta de regiões onde haja muito pelo, como a papada masculina onde há barba. Nesse caso, a área deve ser raspada no dia anterior.
Na hora da sessão, o equipamento utilizado promoverá a sucção do tecido adiposo da região a ser tratada por meio de um acoplador (também chamada de ponteira ou ventosa), que promove o esfriamento local.
Vejo o passo a passo de uma sessão:
1. Antes de iniciar a prática, a área a ser tratada é demarcada;
2. A região é coberta com uma espécie de manta anticongelante para evitar queimaduras causadas pelo frio: o objetivo é congelar a gordura e não a pele;
3. A ponteira (ou as ponteiras) é (são) posicionada(s) para que se realize a sucção;
4. O aparelho é acionado. O profissional deve observar se o posicionamento do aplicador está correto. Em caso positivo, dá-se início ao congelamento que durará de 30 a 75 minutos;
5. A sucção da pele causa desconforto, o que é rapidamente aliviado pelo resfriamento. Por isso é desnecessário o uso de anestésicos;
6. Finalizado o procedimento, a ponteira é retirada, e a gordura tratada parecerá uma "barra de manteiga mantida na geladeira". Imediatamente será aplicada uma massagem na área com o fim de quebrar os cristais de gelo e estimular maior a remoção de gordura.
O que acontece no período imediato ao procedimento?
É esperado o aparecimento de um processo inflamatório (paniculite), caracterizado por inchaço local, mecanismo que levará à remoção da gordura.
Ele é acompanhado de ligeiro desconforto —que pode ser dor ou formigamento— pelo período de 48 a 72 horas. Poderão aparecer alguns hematomas.
Esse quadro inflamatório continuará ao longo de 2 a 3 meses. É ele que garante a morte das células de gordura e o desbastamento da região tratada.
Para onde vai a gordura congelada?
A transformação da gordura leva tempo. A razão para isso é que o resfriamento dela promove a morte das células, e estas serão englobadas (fagocitose) por outras células —as de defesa do organismo. A partir daí, vão sendo eliminadas aos poucos pelo sistema linfático e pelo fígado —sem sobrecarregar órgão algum.
Esta é a razão pela qual os benefícios do tratamento podem levar, em média, de 1, 2 e até 3 meses para serem observados.
O tratamento tem o mesmo efeito em homens e mulheres?
Os especialistas afirmam que não existem diferenças dignas de nota entre os gêneros. No entanto, a distribuição da gordura nas mulheres é diferente da dos homens e também a gordura masculina tende a ser mais dura.
Isso pode dificultar a sucção da pele, o que não acontece no grupo feminino e, tais fatores, de algum modo, podem influenciar o resultados: algumas regiões responderão melhor do que outras. Apesar disso, para facilitar a sucção da pele, podem ser utilizadas ponteiras específicas.
Vou precisar repetir o procedimento?
O dermatologista Alexandre Filippo, chefe do Setor de Laser e Tecnologia da Santa Casa do Rio de Janeiro, afirma que quando a região tratada possui maior quantidade de gordura, o procedimento poderá ser repetido, mas somente após o decurso de 3 meses da prática, período no qual os resultados poderão ser observados com maior clareza.
Os resultados variam de pessoa a pessoa, mas, em geral, "verifica-se uma redução de 30% da gordura", diz Filippo que ressalta os resultados obtidos em um estudo do qual ele participou e que observou benefícios da criolipólise nas regiões abdominal, mama masculina e papada em 75 pacientes. "Parte deles obteve perda de 45%", comemora o médico. A pesquisa foi publicada no Journal of Cosmetic Dermatology.
Saiba como escolher um profissional
A criolipólise é um procedimento disponibilizado por clínicas médicas e estéticas. Para reduzir o risco de efeitos indesejados, coloque em prática as seguintes medidas:
Esteja atento a ofertas milagrosas e procedimentos baratos. A criolipólise usa tecnologia de ponta, cujas máquinas requerem manutenção e o uso de equipamentos de proteção --como as mantas, que nunca devem ser cortadas ou reutilizadas;
Certifique-se de que o equipamento utilizado tem uso autorizado pelas autoridades sanitárias;
Informe-se sobre a habilitação do profissional que fará o procedimento;
Verifique quem é o profissional encarregado de tratá-lo em caso de alguma complicação.
Quanto custa esse tipo de procedimento?
O preço varia, a depender das regiões a serem tratadas e também das ponteiras a serem utilizadas. Em uma clínica médica, o tratamento abdominal poderia custar de R$ 6.000 a R$ 9.000; já uma papada, em média, equivale a R$ 2.000. Os preços foram pesquisados em outubro de 2022.
Fontes: Alexandre Filippo, dermatologista, professor e chefe do Setor de Laser e Tecnologia da Santa Casa do Rio de Janeiro, membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e da AAD (Academia Americana de Dermatologia); Fátima Brito, médica dermatologista, professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), com mestrado e doutorado pela mesma instituição; é também membro da SBD; Gabriela Schwartzmann, médica cirurgiã plástica com formação pela FMRP-USP (Faculdade de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), e preceptora responsável pelas atividades de cosmiatria da residência em cirurgia plástica da mesma instituição. Revisão médica: Gabriela Schartzmann.
Referências: ASDS (Sociedade Americana de Cirurgia Dermatológica); AAD (Academia Americana de Dermatologia); de Gusmão PR, Canella C, de Gusmão BR, Filippo AA, Filippo GR. Cryolipolysis for local fat reduction in adults from Brazil: A single-arm intervention study. J Cosmet Dermatol. 2020 Nov;19(11):2898-2905. doi: 10.1111/jocd.13389. Epub 2020 Apr 12. PMID: 32281283; Few J, Saltz R, Beaty M, Kelly M, Movassaghi K, Marcus KA, Sieber D, Burns AJ, Sangha S. Cryolipolysis: Clinical Best Practices and Other Nonclinical Considerations. Aesthet Surg J Open Forum. 2020 Mar 17;2(2):ojaa010. doi: 10.1093/asjof/ojaa010. PMID: 33791637; PMCID: PMC7671251.
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