Cigarro, gravidez, medicamentos e mais: 8 coisas que podem te causar azia

Imagine seu estômago como um reservatório de ácido digestivo poderoso, essencial para decompor os alimentos. Na transição entre o esôfago e o estômago, existe um músculo, o esfíncter esofágico inferior, que atua como um guarda, mantendo esse ácido no estômago. Quando esse esfíncter relaxa inadequadamente, permite que o ácido suba pelo esôfago, provocando a temida sensação de queimação, a azia.

Esse relaxamento pode ser causado por diversos fatores. Um dos principais culpados é o hábito alimentar, mas também pode ser causado por medicamentos, gravidez, obesidade ou mesmo alteração anatômica. Na esmagadora maioria das vezes ele tem origem na doença do refluxo gastroesofágico.

A azia, esse incômodo ardor que muitos experimentam, não deve ser encarada como uma mera indisposição ocasional. Ela é um sinal de alerta do corpo.

"O retorno frequente do conteúdo ácido do estômago para o esôfago pode levar a complicações graves, como esofagite, estenose esofágica (estreitamento do esôfago) e até mesmo o desenvolvimento de um esôfago de Barrett, uma condição precursora do câncer esofágico", alerta Eduardo Carvalho, especialista e titular em endoscopia digestiva pela Sobed (Sociedade Brasileira de Endoscopia), pós-graduado em gastroenterologia e membro efetivo da FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia).

Além dos sintomas acima, o refluxo pode levar também a outras consequências:

Asma e tosse crônica: A broncoaspiração de ácido estomacal para os pulmões pode desencadear infecções respiratórias de repetição ou piorar condições respiratórias como asma e tosse crônica. Em crianças, essa aspiração pode levar a quadros de pneumonia.

Úlceras esofágicas: O ácido estomacal pode refluir de forma intensa e causar úlceras no esôfago, aumentando o risco de complicações, incluindo o sangramento.

Dentes danificados: A exposição repetida ao ácido pode levar a problemas dentários, como erosão do esmalte.

Regurgitação noturna: O refluxo durante o sono pode causar aspiração de ácido para os pulmões, aumentando os riscos respiratórios.

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Disfunção da laringe: O refluxo pode afetar a laringe, resultando em rouquidão, tosse crônica, pigarro e sensação de "bolo na garganta".

"Contudo, é importante salientar que existe o refluxo fisiológico, ou seja, toda pessoa apresenta retorno de conteúdo gástrico para o esôfago em alguns momentos do dia, sem que apresente sintoma algum por conta disso. Porém, quando esse fenômeno leva a sintomas, como azia, queimação, dificuldade para engolir, em uma intensidade e frequência que prejudique a qualidade de vida do paciente, esse é chamado de doença do refluxo gastroesofágico", salienta Jorge Sousa, gastroenterologista pela USP e doutorado em ciências da saúde pela Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.

Compreender o porquê dessa queimação é o primeiro passo para controlar e prevenir o sintoma. VivaBem reuniu 8 motivos que podem levar ao refluxo e, como consequência, provocar azia.

Certos tipos de alimentos

Alimentos gordurosos podem retardar o esvaziamento do estômago, contribuindo para o refluxo ácido. Já a cafeína, presente no café e em alguns chás, pode aumentar a produção de ácido estomacal. O chocolate, que também tem cafeína, contém teobromina, que pode relaxar a válvula entre o esôfago e o estômago, facilitando o refluxo. As bebidas alcoólicas trazem a mesma consequência.

Refrigerantes são outro grande problema, pois o gás gerado pelo dióxido de carbono pode aumentar a pressão no estômago, levando ao refluxo.

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A acidez do molho de tomate irrita a mucosa do estômago, assim como as frutas cítricas e a cebola crua.

"Outro alimento que deve ser evitado são as pimentas, que possuem uma substância chamada capsaicina (principalmente as malaguetas e habanero). Ela aumenta a produção de ácido pelo estomago", diz Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e endocrinologista presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

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Imagem: iStock

Padrões alimentares errados

"A ingestão de grandes refeições desencadeia um processo em que o estômago produz mais ácido para acomodar a quantidade de alimentos ingeridos. Esse aumento na produção ácida, combinado com a pressão aumentada, pode resultar em um refluxo mais intenso, levando a sintomas como azia, regurgitação e dor torácica", explica Eduardo Carvalho.

Outro fator de piora é ingerir alimentos antes de deitar-se. Em geral, a recomendação é comer com duas horas de antecedência.

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Além disso, o jejum intermitente, embora tenha ganhado popularidade como uma estratégia de controle de peso, pode representar um desafio para aqueles que sofrem de doença do refluxo gastroesofágico.

Pular refeições por longos períodos pode levar à liberação excessiva de ácido gástrico quando finalmente ocorre a ingestão de alimentos, aumentando ainda mais sintomas como os de queimação, por exemplo.

O recomendado é realizar refeições menores e mais frequentes ao longo do dia, evitando o consumo excessivo de alimentos de uma única vez.

Fumar

O ato de fumar contribui para o enfraquecimento do esfíncter esofágico inferior, uma estrutura muscular que normalmente impede o refluxo do ácido gástrico para o esôfago. Há também outros efeitos.

"O tabagismo aumenta a secreção ácida do estômago, podendo assim potencializar os sintomas e a agressão ao esôfago. Além disso, o hábito de fumar é um fator de risco importante para o desenvolvimento de neoplasias malignas, inclusiva no trato gastrointestinal", informa Jorge Sousa.

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Outra questão importante para quem possui esse hábito e tem refluxo é o desenvolvimento de complicações respiratórias. "A aspiração de conteúdo gástrico para os pulmões, especialmente durante episódios noturnos de refluxo, pode resultar em pneumonias recorrentes, bronquite crônica e até mesmo aumentar o risco de doenças pulmonares mais graves, como a doença pulmonar obstrutiva crônica", diz Carvalho.

Excesso de peso e obesidade

O acúmulo de gordura abdominal exerce pressão adicional sobre o estômago, contribuindo para o enfraquecimento do esfíncter esofágico inferior, a válvula que impede o refluxo. Há também uma maior produção de ácido gástrico.

A obesidade também está associada a hábitos alimentares inadequados, frequentemente caracterizados por refeições volumosas e ricas em gorduras. Isso pode prolongar a permanência do alimento no estômago, aumentando a probabilidade de refluxo.

A presença de depósitos de gordura visceral também pode levar a uma mudança na posição do estômago, fazendo com que fique mais horizontalizado, favorecendo o retorno do alimento pelo esôfago.

"Além disso, a obesidade está frequentemente associada a condições como a síndrome metabólica e o diabetes tipo 2. A resistência à insulina, característica dessas condições, pode influenciar negativamente o movimento dos alimentos através do sistema digestivo e a produção de muco protetor no esôfago, tornando-o mais vulnerável aos efeitos nocivos dos ácidos gástricos", explica Eduardo Carvalho.

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Certos medicamentos

Alguns medicamentos podem piorar bastante os sintomas gastrointestinais. Entre eles estão os anti-inflamatórios não esteroides como ibuprofeno e aspirina. Comumente utilizados para alívio da dor e inflamação, eles podem irritar a mucosa do esôfago.

"Além disso, os atualmente muito utilizados análogos do GLP1, como a semaglutida, podem piorar muito os sintomas de azia, devido ao seu efeito de gastroparesia (diminuição da velocidade de esvaziamento do estômago)", alerta Jorge Sousa.

Já certos relaxantes musculares, antidepressivos tricíclicos e benzodiazepínicos podem enfraquecer o tônus muscular do esfíncter.

Por outro lado, o uso excessivo de antiácidos, usado para aliviar a azia, pode levar a um fenômeno conhecido como "rebote ácido", onde a produção de ácido estomacal aumenta para compensar a neutralização constante, potencialmente piorando os sintomas.

"É fundamental ressaltar que a automedicação e o uso prolongado de medicamentos sem supervisão médica podem mascarar a gravidade da doença de refluxo gastroesofágico, retardando o diagnóstico e o tratamento adequados. Portanto, a busca por orientação profissional é fundamental para um manejo eficaz e personalizado dessa condição", orienta Carvalho.

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Gravidez também pode causar azia
Gravidez também pode causar azia Imagem: iStock

Gravidez

A gestação pode ser uma causa temporária de azia devido à pressão extra exercida sobre o estômago pelo útero em crescimento.

Hérnia de hiato

Normalmente, nosso músculo diafragma possui uma abertura para a passagem do esôfago, com o estômago vindo logo abaixo dessa musculatura. A hérnia de hiato ocorre quando uma parte do estômago ultrapassa o orifício chamado hiato do diafragma. Isso faz com que parte do conteúdo ácido do estômago vá para o interior do esôfago, trazendo sintomas de refluxo e sensação de queimação.

Mas também há outros sintomas, como regurgitação de alimentos e bebidas para a boca, dificuldade para engolir, tosse crônica, seca e irritativa, sabor amargo na boca, mau hálito, vontade de vomitar e arrotos frequentes.

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Nem sempre a presença de hérnia de hiato indica complicações ao indivíduo, mas é preciso ficar atento. Para obter o diagnóstico, além de observar os sintomas é preciso realizar exames de imagem como raio X ou endoscopia.

Não realizar atividade física

O estilo de vida sedentário contribui para o enfraquecimento dos músculos responsáveis pelo controle do esfíncter esofágico inferior. "A falta de atividade física compromete a capacidade do corpo de manter o ácido no estômago e pode agravar os sintomas", esclarece Eduardo Carvalho.

Mais um motivo para tirar o exercício físico da lista de desejo e colocá-lo em prática.

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