Especialista fala sobre o impacto das bets no patrocínio do futebol brasileiro
O patrocínio de casas de apostas esportivas aos clubes de futebol no Brasil, especialmente nos clubes da Série A, se tornou um fenômeno relevante e cada vez mais comum desde a liberação das apostas no país.
A partir de 2018, quando a atividade deixou de ser ilegal, e especialmente após 2021, grandes marcas desse setor passaram a investir nos clubes brasileiros, injetando valores não antes vistos no país e rivalizando com outros setores mais tradicionais no que diz respeito a patrocínio no futebol.
Este crescimento trouxe benefícios financeiros expressivos, mas também desafios importantes que exigem dos clubes uma gestão estratégica e consciente desse tipo de parceria.
Rafael Zanette, consultor em marketing esportivo e especialista no setor de apostas, com passagens por clubes como Avaí, Atlético Mineiro e Cruzeiro e pela casa de apostas EstrelaBet, comentou como o fenômeno das casas de apostas tem ajudado no crescimento de um mercado que já estava em expansão.
“O futebol brasileiro como um todo tem crescido em termos de receita. Hoje temos clubes que chegam na casa de um bilhão de faturamento, como o Flamengo, Corinthians e Palmeiras, e o patrocínio de casas de apostas ajuda nessa questão”, explica, em declarações exclusivas para o UOL Apostas.
Historicamente, o patrocínio de clubes de futebol no Brasil era dominado por empresas nacionais ou multinacionais que viam no futebol uma oportunidade de visibilidade e aproximação com o público.
Casos icônicos, como a parceria entre a Parmalat e o Palmeiras na década de 90 ou a da Unimed com o Fluminense, marcaram uma época onde o vínculo com o clube ia além do financeiro, criando uma identidade duradoura com os torcedores.
“Um patrocínio quando bem feito, bem estruturado, tende a gerar bons frutos. Temos casos muito importantes no futebol brasileiro, como da Parmalat e agora da Crefisa no Palmeiras, Kalunga no Corinthians, Unimed no Fluminense, LG no São Paulo. São empresas que ficaram por muito tempo e o patrocínio fez muita diferença para estas empresas”, disse Zanette.
“O futebol tem uma característica, e no Brasil ainda mais, que é o intangível. Temos uma paixão que não tem preço e muitas vezes esse patrocínio se torna intangível, e isso é algo muito importante para uma marca, uma empresa”, completa.
Patrocínio de Casas de Apostas devem seguir modelo estratégico
O crescimento desse setor está ligado, em parte, à lei da oferta e demanda, de acordo com o consultor. Com o aumento de casas de apostas interessadas em associar suas marcas ao futebol brasileiro, houve uma valorização dos contratos.
As cifras subiram e a concentração de investimentos cresceu nos maiores clubes, especialmente em times que têm melhor desempenho esportivo e alto engajamento da torcida. Isso se reflete em contratos mais rentáveis para os clubes, mas que exigem, por outro lado, uma contrapartida em visibilidade e retorno para as empresas patrocinadoras.
Zanette destaca que uma relação bem-sucedida entre um clube e seu patrocinador deve estar embasada em uma estratégia de marketing clara, que envolva os torcedores e crie uma identificação positiva.
“É importante uma boa relação das duas partes, uma estratégia de marketing do patrocinador junto ao clube. Abraçar a causa do clube, estar engajado no dia a dia, entender as dores da torcida. O torcedor entendendo que o parceiro está ali para ajudar, para conseguir os objetivos junto ao clube, fica uma coisa natural, se torna parte do contexto. Esse é o grande segredo em relação ao engajamento do patrocínio junto com o clube, quando o torcedor entende que aquela empresa faz parte daquele ambiente e está ali para ajudar”, disse.
Após crescimento exponencial, mercado tende a se equilibrar
O que se viu com a entrada das casas de apostas no mercado de patrocínios esportivos foi um aumento substancial nos valores praticados. Segundo Zanette, houve uma crescida muito grande e muito rápida, o que pode indicar que os valores praticados também estavam defasados.
“Quem dita o ritmo do mercado é o próprio mercado. Tínhamos pouca oferta e muita demanda, então, se aumentou foi pela concorrência. E eu acredito que o resultado é muito forte, tanto é que os números são muito elevados por causa disso. Se não desse resultado, não teria essa concentração tão grande de investimento no futebol”, explicou.
Apesar destes benefícios financeiros, o patrocínio das casas de apostas levanta preocupações sobre a sustentabilidade desse modelo no futuro. Com a regulamentação em andamento, as casas de apostas precisarão ter licenças para operar no Brasil, o que já tirou alguns players do mercado e pode impactar nos valores praticados atualmente.
“Teremos uma situação que não existe até então, que é o pagamento de impostos e o pagamento de uma licença. Isso já é uma coisa que muda o jogo”, afirmou.
“Outro ponto importante é a questão da escassez. Teremos menos empresas e a tendência é que o mercado fique mais equilibrado”, finalizou Rafael Zanette.