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Mito ou verdade: carne é mais saudável para cachorros do que a ração?

Cachorros podem comer carne? - Reprodução/GettyImages
Cachorros podem comer carne? Imagem: Reprodução/GettyImages

Taís Ilhéu

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/10/2020 12h00

Resumo da notícia

  • Será que alimentar cachorros com carne ao invés de ração é melhor para a saúde deles? Bom, o assunto está longe de gerar consenso
  • Embora a alimentação natural para pets venha ganhando força, esse é um debate que deve ser conduzido com cuidado, ainda mais quando se trata da carne
  • Isso porque a carne, se ministrada crua ou mal preparada, pode causar sérios problemas de saúde ao animalzinho e até a sua família
  • Conversamos com uma veterinária nutróloga para tentar desvendar os principais mitos sobre a alimentação de cães com carne

Embora a maioria das pessoas tenha o hábito de alimentar seus cachorros com ração, as discussões sobre dieta com alimentos naturais, ou até mesmo a chamada dieta de Alimentação Crua Biologicamente Adequada, tem suscitado dissenso - e também muita desinformação - sobre o assunto. Um dos alimentos mais polêmicos da discussão é justamente a carne.

Sendo descentes de uma linhagem de cães selvagens e carnívoros, os cães estão aptos, é claro, a processar a carne. Além disso, ao longo do tempo, conforme foram domesticados, os cachorros desenvolveram também a habilidade de processar alimentos de origem vegetal e hoje podem ser considerados, assim como a maioria das pessoas, onívoros.

Ainda assim, a carne e os nutrientes que ela fornece são essenciais para o bom funcionamento do metabolismo do animal, e mesmo quem alimenta o pet com ração está indiretamente fornecendo algum tipo de carne, presente na composição desses alimentos industrializados. Mas, então, qual seria a melhor forma de ministrar a carne aos cachorros: naturalmente ou por meio das rações?

Se você busca uma resposta taxativa, infelizmente não a encontrará, já que o tema não é um consenso mesmo entre especialistas. O melhor a ser feito é balancear os pontos positivos e negativos de cada uma das opções e escolher conscientemente uma delas, como explica ao UOL BICHOS a médica-veterinária Vivian Pedrinelli, mestre em ciências pela USP e especialista em nutrição de pequenos animais.

Entre os pontos negativos da alimentação natural, destaca ela, está a maior dificuldade de preparação e o perigo de não equilibrar bem os nutrientes, causando uma deficiência de algum deles no organismo do animal. Por outro lado, os pets ficam sem dúvidas mais felizes diante de um prato de comida preparada em casa do que de um pote de ração.

Com a ajuda de Vivian, reunimos os principais mitos e verdades sobre o consumo de carnes por cachorros para te ajudar a tomar a decisão mais consciente!

Alimentação com carne é mais cara do que a ração?

A alimentação natural, de uma forma geral, é mais cara que a ração. Vivian chegou a conclusão junto com seu grupo de pesquisa, que estuda alimentação natural para animais de estimação. De acordo com as estimativas deles, fornecer uma alimentação natural balanceada, bem suplementada e com a equivalência nutricional de uma boa ração acaba pesando mais no bolso.

A carne crua é mais "natural" e por isso mais saudável?

Evidências aprovam que os cães têm a capacidade física de se alimentar de carne crua - afinal, seus dentes são fortes o suficiente para isso e o sistema digestivo apto para digerir o alimento nesse estado. Ainda assim, essa não é a opção mais indicada. No final de 2019, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgou os resultados de um estudo conduzido por dois anos que provou a maior incidência de bactérias e outros parasitas causadores de doenças como a salmonela e toxoplasmose em cachorros que se alimentavam de carnes cruas. Essa é a razão pela qual Vivian recomenda que, caso o dono opte por alimentar seu cão com carnes, que sejam cozidas.

E mais: a ocorrências dessas parasitoses nos cachorros costuma ser até mais perigoso para as pessoas que convivem com ele do que para o próprio animal. Muitas vezes, o bichinho de estimação não apresenta sinais clínicos destas doenças, mas ainda assim elimina os patógenos causadores delas nas fezes. E, então, aumentam as chances de humanos que convivem com o animal contraírem a doença. "Alguns hospitais no Canadá e Estados Unidos que têm programas de animais terapeutas não aceitam cachorros que são alimentados com dietas cruas pelo risco de contaminação dos pacientes", exemplifica a veterinária.

Um outro mito desvendado por Vivian é a justificativa usada por muitas pessoas que optam pela carne crua de que os parasitas presentes nessas carnes são eliminados no congelamento. Muitos deles, na verdade, permanecem vivos e inativos, e voltam a agir quando o alimento é descongelado.

Existem tipos de carnes e cortes mais adequadas para o cachorro?

Não existe uma dieta única e imutável de carnes para cães. O que existe, explica a veterinária, é "o mais indicado", que varia de acordo com as condições físicas do animal, idade, histórico de doenças e até com os gostos pessoais dele. Tudo depende, avalia ela, do tipo de dieta que está sendo elaborada em conjunto com um veterinário especialista.

Quanto aos cortes, por exemplo, Vivian explica que para animais que "precisam perder peso ou têm uma necessidade de restrição de gordura" podem ser escolhidos cortes mais magros como peito de frango ou patinho bovino. Para os cães saudáveis ou até que precisem de um aporte de gordura, a sobrecoxa do frango ou mesmo o pernil suíno podem ser indicados pelo veterinário.

Falando em carnes suínas, a veterinária também aproveita para esclarecer mais um mito: carne de porco não faz mal ao cachorro! Ela só precisa, assim como para consumo humano, ser bem cozida para evitar a contração de parasitas.