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Cachorro pode dormir na cama com os donos? Saiba se prática é aconselhável

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Imagem: Getty Images

Taís Ilhéu

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/10/2020 04h00

Reza a lenda (ou melhor, afirmam os adestradores) que o melhor momento para ensinar seu cachorro ou gato sobre os limites dentro de casa é justamente quando eles acabaram de chegar ao novo lar - se forem filhotes, mais fácil ainda. Mas só quem já assumiu a tarefa de treinar o pet para o que quer que seja - do lugar adequado para fazer as necessidades até a não morder os móveis da sala - sabe que nem sempre essa é uma tarefa fácil. Por vezes, os tutores são vencidos pelo cansaço ou mesmo pela carinha de inocência dos bichinhos, que convence a fazer exatamente a vontade deles.

Um desses casos é quando o dono habitua o cachorro a dormir em cima da cama, junto com ele. O costume geralmente vem dos primeiros dias do animal na casa, quando ele ainda está assustado e demanda uma atenção maior da nova família, especialmente à noite. Muitos donos acabam se acostumando a nova configuração e passam a vida dormindo junto do pet sem maiores problemas. Outros só vão se questionar sobre o quão saudável é ou não o hábito depois de um tempo, talvez por notarem alguma consequência desagradável.

Embora não exista uma regra universal que determine que o cão não pode dormir na cama, é bom estar ciente dos reais malefícios a prática pode trazer - e quais outros são apenas mitos. O UOL BICHOS conversou com o veterinário Mário Marcondes, diretor clínico do Hospital Veterinário Sena Madureira, para ajudar a desvendar essa questão.

Saúde e bem-estar do tutor

Geralmente, o que leva muita gente a questionar se o hábito de dormir com pets faz mal é justamente o receio de que o animal cause algum problema de saúde ao tutor com quem divide a cama. Curiosamente, se todos os cuidados forem tomados esse é o menor dos riscos!

A pessoa que dorme com o gato ou cachorro deve, assim como qualquer dono de animal, estar atenta a vacinação e vermifugação do pet, garantindo que ele esteja protegido de qualquer doença. Além disso, já que o animal vai dividir a cama e até cobertores com o tutor, é importante que ele esteja com a higiene em dia, tomando banhos regulares e tendo as patas sempre higienizadas depois de voltar da rua. Dormir com um pet também demandará trocas de roupa de cama mais regulares, especialmente se eles soltam muitos pelos.

Então, se animais bem cuidados não trazem riscos à saúde humana no momento de dividir a cama, problema resolvido, certo? Bem, vamos com calma.

Os perigos para o animal

Do ponto de vista da saúde física, dormir junto com o tutor não representa grandes riscos para o bichinho de estimação, assim como acontece na via contrária. O dono precisa estar atento, é claro, para que o animal não caia da cama durante a noite ou mesmo para que não desenvolva problemas na articulação ao subir e descer do móvel. Mas essa questão pode ser driblada com o uso de escadinhas ou rampa, por exemplo.

O maior malefício que dividir a cama com humanos pode trazer ao cachorro é, na verdade, de ordem comportamental. Segundo o veterinário Mário Marcondes, esse vínculo muito estreito com o tutor até mesmo na hora do sono dificulta que o animal desenvolva autonomia, faz com que ele crie uma dependência emocional e resulta na "falta de um espaço dele mesmo".

O incentivo a esses e outros comportamentos "humanizados ao extremo", segundo o especialista, podem descaracterizar o comportamento animal e gerar problemas emocionais. No limite, esses problemas emocionais começam a afetar até mesmo o bem-estar físico dos bichinhos.

Você já deve ter ouvido alguma história sobre animais que se alimentam apenas na presença do tutor e que não conseguem comer longe deles. A lógica é a mesma para os pets que dormem na cama. Imagine que o dono de um cão acostumado a dividir a cama precisa fazer uma viagem emergencial a trabalho e não pode levar o animal. Esse cachorro provavelmente sofrerá emocionalmente e terá dificuldades para dormir longe do tutor em um hotel para animais de estimação, por exemplo. Por isso, o conselho do veterinário é que esses hábitos de excessiva dependência sejam desencorajados antes que o animal precise passar por uma situação de sofrimento como essa.

"O ideal é não dormir junto", conclui, acrescentando que essa é uma maneira de "respeitar o espaço, autonomia e território onde os animais se sentirão seguros". O aconselhado é que cãozinho tenha a própria cama ou casinha no chão, de forma que ele se sinta, inclusive, mais à vontade para atividades práticas, como se locomover caso precise sair do quarto para fazer xixi ou cocô durante a noite.

Como adaptar seu cachorro a dormir na caminha

Pensou bem e concluiu que seria melhor para você e seu animal que ele durma na própria cama no chão? Nunca é tarde para adaptá-lo!

Antes de tudo, providencie uma caminha ou outro espaço tão confortável quanto o anterior onde ele possa dormir. Uma dica do veterinário Mário é que você coloque nesse novo espaço algum cobertor ou edredom com o qual o cachorro tinha contato antes, quando dormia na sua cama, para que ele faça a associação pelo cheiro de que aquele é o lugar correto para dormir.

Vale também oferecer estímulos positivos e recompensas quando ele deitar na própria caminha, como carinhos ou mesmo petiscos. Assim, ele associará aquele espaço a experiências positivas.