VIP: camarotes viram moda no Galo da Madrugada
Conhecido por sua tradição de festa de rua, o Carnaval do Recife tem dado espaço cada vez mais aos camarotes, uma febre visível no desfile do Galo da Madrugada, por exemplo. De luxo ou no improviso, os cercadinhos viraram moda entre parte dos foliões, seja por segurança ou por vaidade.
O funcionário público Lincoln Viveiros escolheu a sombra e a cerveja fresca para curtir o Galo. Ele e a mulher pagaram uma média de R$ 260 para entrar no camarote Balança Rolha, instalado embaixo de um viaduto no início do cortejo do bloco.
"Aqui tem sombra o dia inteiro. E a gente pode ver o trio-elétrico duas vezes, nos dois lados do camarote. E, em termos de segurança, é um espaço que nos dá conforto", explica Viveiros.
Durante 15 anos, ele acompanhou o Galo na rua. "Naquela época não tinha tanta violência, mas não vou negar que lá fora é melhor do que aqui dentro."
Tomando Frevo --um drink especial, feito com vodka, limão, água com gás e lichia, oferecido pelo bufê open bar do camarote--, o arquiteto André Ornelas nem viu um dos primeiros trios passarem na avenida. Ele escolheu cair na pista, com os amigos, dançando axé, tocado por um DJ. "Eu sou chato", gargalha.
Nascido em Salvador, mas morando em Maceió, Ornelas escolhe o dia do Galo da Madrugada para "fazer a social", segurando uma taça verde grande, sempre cheia. "Tenho que escolher um dia para fazer isso. Amanhã, eu sou povão, vou pra Olinda, para a rua."
Com plumas, penas e lantejoulas, o também arquiteto Fábio Benevides era um dos poucos que abdicaram da camisa-convite do Camarote Oficial do bloco para desfilar sua fantasia de Galo, que lhe custou R$ 300. O espaço mais concorrido pela alta sociedade recifense serve para Benevides como encontro para network.
"É o primeiro ano que venho aqui. Mas venho para encontrar amigos e clientes", diz. "A violência tem feito com que a gente tenha mais cuidado para ir para a rua. Mas é claro que no chão a festa é melhor. Daqui a pouco vou para lá", confessa.
Fábio Benevides se reconhece como um "privilegiado" por estar no Camarote Oficial do Galo. "De certa forma, sou sim", conta. No mesmo ambiente estavam colunáveis, artistas e autoridades públicas, todos pertencentes a uma seleta lista de convidados.
Como Benevides, a trade marketing Lucianna Andrade aproveita cada regalia que tem no Camarote Oficial, armado em uma praça abandonada, no centro. O local, que parece esquecido durante o ano inteiro, ganha ares de luxo na sábado de Carnaval, com espaço para customização de abadás, posto médico, sorveteria e até um carro Jaguar estacionado.
Lucianna, que trabalha para uma empresa de bebidas, escolheu curtir a festa bebendo champanhe. "Aqui estão as pessoas mais bonitas do Carnaval, os melhores produtos, além de comodidade e segurança", explica ela, ostentando nos braços tatuagens provisórias com a frase "eu amo Chandon". "Eu nunca brinquei o Galo no chão, mas pode colocar aí que o camarote, com certeza, é a melhor opção", acrescenta.
Jeitinho brasileiro
A poucos metros do luxo, a "brasilidade" do Carnaval era definida com empolgação pela museóloga carioca Wânia Edith, encantada com a festa popular pernambucana, como "uma experiência multissensorial", "que representa a miscigenação e o acolhimento do povo brasileiro".
"Não podemos falar do Brasil sem viver uma experiência como essa", afirma Wânia, se deliciando com uma feijoada. "É uma experiência única, que vamos poder contar para os nossos netos." Nesta primeira visita ao Carnaval do Recife, a museóloga decidiu ver o Galo da Madrugada do camarote Poleiro do Galo, e, para isso, pagou R$ 120 pela entrada, junto com o marido.
O espaço, menos badalado do que os outros citados no início da matéria, reúne mais famílias e amigos. Nos intervalos dos trios, um DJ toca axé. Sem serviço de open bar, as pessoas compram suas próprias bebidas e ainda podem desfrutar de espetinhos, assados na hora, no galpão interno do camarote.
A “camarotização” do Carnaval do Recife, especificamente no desfile do Galo da Madrugada, também influenciou o auxiliar técnico Wanderley Cordeiro a virar o "rei do camarote". Há nove anos, ele decidiu juntar os amigos e os familiares, colocá-los embaixo de uma tenda e criar o camarote Perdidos no Galo.
"Cada um paga R$ 80 e tem direito a bebida. Cerveja, vodka, uísque, agua e refrigerante", explica. "A turma faz camarote por aí para alugar e paga muito caro. Aqui é mais para ficar todo mundo junto." Neste ano, o grupo de 70 pessoas ficou em duas tendas, cercado por uma corda. "É uma segurança, né?", acrescenta Derley, como é chamado aos gritos por seus amigos, enquanto posa para foto.
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