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Protestos e homenagens marcam segunda noite de minidesfiles no Rio

Protestos e homenagens marcam segunda noite de minidesfiles no Rio - Divulgação
Protestos e homenagens marcam segunda noite de minidesfiles no Rio Imagem: Divulgação

Valmir Moratelli

Colaboração para Splash

28/02/2022 13h59

Mais seis escolas de samba realizaram minidesfiles na noite desse domingo (27), na Cidade do Samba, Centro do Rio. Após abertura do tradicional bloco Cordão da Bola Preta, foi a vez de Tuiuti, Tijuca, Mangueira, Mocidade, Grande Rio e a vencedora do carnaval 2020, Viradouro animarem os mais de 5 mil foliões presentes.

Se na noite anterior, o canto forte de Imperatriz e Vila foi o ponto alto, agora o destaque ficou com Mocidade Independente e Viradouro, que deram show com suas baterias e sambas potentes. No "quesito" celebridades, Lexa e Erika Januzza foram as rainhas que mais atraíram flashs.

Cada minidesfile contou com aproximadamente 150 componentes. As escolas começam se apresentando no palco principal, com a presença de cerca de 30 integrantes da bateria, intérprete, passistas, componentes da velha guarda e da ala das baianas, além dos casais de mestre-sala e porta-bandeira, e depois seguiam para a pista.

"Fora Bolsonaro"

Paraíso do Tuiuti, com enredo "Ka Ríba Tí Ye - Que nossos caminhos se abram", canta histórias de luta, sabedoria e resistência negra, sob a criação de Paulo Barros. Abriu a noite com uma apresentação que entusiasmou, mostrando que o samba tem como crescer até o dia da apresentação.

Unidos da Tijuca, com "Waranã - A reexistência vermelha", é uma ode aos povos indígenas. Foi a grande surpresa dessa noite, já que não é um samba criativo. Entretanto, contagiou a todos e se credencia para fazer bonito na Sapucaí. A melodia proporcionou coreografias dos que assistiram a sua passagem. A rainha de bateria Lexa estava bastante à vontade, acenando e tirando fotos com o público. Em noite de poucas celebridades, Lexa reinou absoluta.

Ainda no palco principal, cantando seus clássicos sambas-enredo, a Estação Primeira de Mangueira protagonizou um dos protestos marcantes da noite. Após o samba de 2019, que diz "Brasil, chegou a vez / De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês", o público gritou "Fora Bolsonaro" por alguns instantes. Na sequência, veio o samba de 2022, que homenageia três mangueirenses ilustres: o compositor Cartola, o interprete Jamelão e Mestre Delegado, em "Angenor, José e Laurindo". A letra, pouco inspirada, não fez o mesmo efeito dos sambas de outros anos. A verde e rosa passou fria, o que não condiz com suas performances sempre arrebatadoras.

Balões por Petrópolis

Voltando às origens africanas, a Mocidade Independente de Padre Miguel prepara uma homenagem ao seu orixá de devoção, Oxóssi, em "Batuque Ao Caçador". O refrão, que tem assinatura de Carlinhos Brown, entre outros nomes, se mostrou empolgante: "Arerê, Arerê, Komorodé/ Komorodé, Arolé, Komorodé/ Arerê, Arerê, Komorodé / Todo Ogã da Mocidade é cria de Mestre André". Foi possivelmente o momento mais acalorado de domingo, com o público seguindo o carro de som pela lateral da pista até o fim. Antes do samba inédito, a escola de Padre Miguel emocionou ao relembrar a homenagem à Elza Soares, morta recentemente, e que foi enredo em 2020.

Outra escola bastante aguardada, a vice-campeã Acadêmicos do Grande Rio, com o enredo "Fala Majeté! Sete Chaves de Exú", também apresenta um samba bastante elogiado na safra de 2022. Centenas de balões brancos com a inscrição "Força, Petrópolis" foram soltos no começo do desfile, arrancando aplausos de todos. Uma forma singela do samba se solidarizar com as vítimas da tragédia causada pelas fortes chuvas na serra fluminense. A rainha de bateria Paolla Oliveira não compareceu. Uma pena, pois perdeu uma excelente apresentação dos ritmistas de Mestre Fafá.

A atual campeã Unidos do Viradouro encerrou a noite com "Não Há Tristeza Que Possa Suportar Tanta Alegria", uma recordação do carnaval de 1919, quando a cidade festejou o fim da epidemia de gripe espanhola. O refrão é um convite para celebrar a vida após tanta tristeza: "Tirei a máscara no clima envolvente / Encostei os lábios suavemente / E te beijei na alegria sem fim / Carnaval, te amo, na vida és tudo pra mim". Apostando na letra, foi a única escola que fez uma passada inteira do samba a capela. Estreando no cargo, a rainha Erika Januzza estava à vontade junto aos ritmistas do Mestre Ciça.

Boa estrutura

Banheiros químicos bem localizados, sistema de som e luzes, food trucks com cardápio variado e atendentes volantes para limitar filas foram ponto alto da organização, além da apresentação sob a batuta do irreverente Milton Cunha.

Entre os cariocas é sabido que a estrutura física da Cidade do Samba, inaugurada em 2006, é muito mal utilizada para eventos durante o ano. A realização dos minidesfiles comprova a vocação do local para festas, além de abrigar os barracões das agremiações. Porém, é preciso pensar no perigo da elitização dos desfiles. Enquanto a cidade abriga diversas festas pagas em clubes e arenas, as escolas de samba foram proibidas de desfilar na Marquês de Sapucaí e na avenida Intendente Magalhães. Esse evento da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) foi apenas um aperitivo do retorno da folia.

Os desfiles na Sapucaí foram remarcados para os dias 19 e 20 de abril (Grupo de Acesso) e 21 e 22 (Grupo Especial); e no dia 29 o desfile das campeãs. Até lá, haja ansiedade para esse reencontro com o verdadeiro carnaval carioca. É na pista da Sapucaí que tudo acontece para valer.

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