Erika Januza aprendeu a sambar vendo a Globeleza Valéria Valenssa na TV
Quando entrar na avenida junto com os 270 ritmistas da Viradouro, Erika Januza sabe o quanto vai ser difícil controlar a emoção. Estreando na cobiçada função de rainha de bateria da atual campeã do Carnaval carioca, a atriz fala ao UOL sobre os preparativos da folia.
"Vou trazer muita interação com minha bateria, com público e para o público. Esperem uma Erika entusiasmada, estourando energia. A gente aguarda demais por esse momento, não sei como vou estar no dia, nem vou dormir na véspera. É muita ansiedade para que chegue logo", afirma.
Apesar da espera de dois anos pelos desfiles, cancelados devido à pandemia de covid-19, a escola segue firme rumo ao sonhado bicampeonato. Para isso, apostou num enredo que toca o coração dos apaixonados por Carnaval, com o título "Não há tristeza que possa suportar tanta alegria". A Vermelha e Branca de Niterói cantará a história do Carnaval de 1919, o primeiro a acontecer depois da pandemia de gripe espanhola. É um comparativo inevitável com o que o mundo passou recentemente.
"É pra matar a saudade da avenida, de pessoas que não vemos há tempos, lembrar dos que se foram, de viver coisas novas, de extravasar, de voltar a nos abraçarmos. Esse Carnaval será como um grande desabafo", planeja a atriz.
Momento político
Na recente edição do festival Lollapalooza, em São Paulo, vários artistas protestaram contra o presidente Jair Bolsonaro. Seu partido, o PL, chegou a pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proibisse o tom político nos shows, baseado na Lei Eleitoral, mas desistiu da ação. Muitos acreditam que o Lolla foi uma prévia do que pode ocorrer, com mais força, na Sapucaí. Isso porque há muitos enredos engajados em causas sociais e por tolerância religiosa. Erika não vê problema no assunto.
"O Carnaval sempre foi local onde as pessoas se manifestam sobre todos assuntos, dos religiosos aos políticos, há enredos emblemáticos nisso. Lembro da Beija-flor em 2018, que trouxe no desfile protestos que dominaram aquele ano (com o enredo "Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu", que abordou a corrupção da sociedade brasileira). O Carnaval, assim como os demais lugares da cultura, tem que exercer a liberdade. É também um lugar pra protestos políticos", defende Erika.
Igual a Globeleza
A atriz conta que já nem lembra mais da primeira vez que se encantou com o Carnaval. "A vida inteira sempre gostei de assistir aos desfiles pela TV, minha mãe sabia, eu chorava pra ela deixar eu ver a noite toda. Ficava assistindo do sofá", diz.
E admite que aprendeu a sambar com uma "ajudinha" inusitada. Foi vendo Valéria Valenssa na vinheta da TV Globo como Globeleza, que passou a copiar os passos. "Começava a vinheta e eu parava a brincadeira para correr até a TV. Aprendi a sambar assistindo a ela, imitava o jogo de braços direitinho", recorda.
Quanto aos preparativos com dieta, ela não se mostra desesperada com a estética do corpo. "Não entrei em maluquice de dieta, isso porque ainda não consegui ganhar os quilos que precisei perder para fazer 'Verdades Secretas 2'. Perco muita caloria nos ensaios com a bateria. Já é o suficiente pra mim", diz.
Fantasia comportada
Um dos segredos mais bem guardados de uma escola de samba é a fantasia de sua rainha. Não seria diferente com Erika, que desconversa quando se pede detalhes de sua roupa. "Venho comportada, representando uma importante figura do carnaval. Se coubesse a ousadia, viria também, de boa. A única coisa que pedi pro carnavalesco é que quero conseguir sambar!", diz.
A confecção está sob responsabilidade do figurinista Henrique Filho, o mais procurado entre as famosas do Carnaval. "Já chorei só de fazer a prova. Ficou uma joia, me senti uma rainha de verdade", continua.
Por ser muito pesada, a roupa já está exigindo mudanças na sua malhação. "Agora o treinamento é mais intenso. Tudo que faço na academia, já coloco peso nos ombros e cintura para manter equilíbrio. Tenho usado um cinturão de peso para acostumar", revela.
Novos trabalhos
Erika vem de uma sucessão de trabalhos marcantes. Foi a modelo Laila de "Verdades Secretas 2", depois emendou com a segunda temporada de "Arcanjo Renegado", série do Globoplay na qual vive a policial Sara. E já está gravando a série "A Magia de Aruna", na qual vive uma bruxa ao lado de Cleo e Giovanna Ewbank, para o Disney+. "Nunca imaginei que viveria uma bruxa na Disney! Estou muito feliz. A série vai falar sobre respeito às diferenças, combate ao preconceito, meio ambiente... Assuntos atuais", diz.
A parceria em cena com Cleo e Giovana, ela diz, já se transformou em amizade. "Não tínhamos intimidade de estarmos juntas no dia a dia. Mas agora a sensação é de que sempre estivemos juntas o tempo todo, não dá pra fazer nada sem elas por perto. Estou amando essa amizade!", diz, empolgada.
Sobre a representatividade proposta pela produção, Erika comenta que o trabalho vem coroar seus dez anos de profissão. "Sempre consegui falar de assuntos relevantes com minhas personagens, é muito forte a mensagem que quero passar. A missão de mostrar que todo mundo pode e tem e precisa e deve estar incluído. A gente [os negros] cresceu sem receber afeto da sociedade, ouvindo que não pode isso ou aquilo. É pra mudar tudo, não dá mais", diz.
A previsão de estreia é para o ano que vem. Antes disso, o público tem um encontro marcado com a atriz no desfile da Viradouro, no dia 22 de abril.
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