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Rio: Foliões celebram blocos, mas lamentam falta de banheiros e segurança

Júlia Carvalho

Colaboração para o UOL, no Rio

21/04/2022 20h50

Apesar de insatisfeitos com a falta de policiamento e banheiros químicos, os foliões celebraram o retorno dos blocos às ruas do Rio de Janeiro nesta quinta-feira (21). Mesmo sem apoio da prefeitura, o Carnaval de rua reuniu mais pessoas do que em fevereiro: de manhã e à tarde centenas de pessoas se divertiram, enquanto usaram as ruas da região central para fazer xixi e contaram com a ajuda de desconhecidos para evitar furtos.

A falta de segurança nas ruas preocupou a professora Poliana Souza, de 30 anos, que acompanhou o bloco Mistério Há de Pintar, na Cinelândia. "A falta de apoio é um dos maiores problemas que nós temos. Se não há segurança nem apoio da prefeitura, a gente fica à mercê de qualquer situação. Mesmo a rua sendo nossa, ela requer seus cuidados. E a gente também paga por isso, né?", desabafa.

Para Raquel Fadeso, que participou do bloco Amores Líquidos, no Centro, houve descaso da prefeitura do Rio de Janeiro: "A gente faz xixi na rua e foge do pessoal que quer roubar no bloco. O celular da minha amiga foi furtado, a menina que estava atrás viu, tomou da mão do rapaz e devolveu para ela", conta.

Não houve aumento no efetivo da Comlurb, mas garis acompanhavam os blocos: depois da passagem dos foliões, eles varriam as ruas e as limpavam com hipoclorito de sódio, de forma a tirar o cheiro de xixi.

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Blocos trazem reencontros

A volta dos blocos também marca a retomada de encontros. A carioca Fernanda Palácio mora há 24 anos em São Luís, no Maranhão, mas sempre passa o Carnaval no Rio. "Corre aqui no sangue, não tem jeito. Venho todos os anos. A retomada é maravilhosa. Tem os riscos, mas estava todo mundo com saudade."

A professora Poliana também participou de blocos em fevereiro e reparou que eles estão mais cheios agora, o que ela credita ao controle no número de casos de covid. "Depois desse momento tão difícil, a gente está tendo a oportunidade de ficar um pouquinho mais tranquilo, curtir, aproveitar, rever os amigos. A rua sempre esteve aqui para gente abraçar e se sentir abraçado também, então está sendo especial."

O sentimento é compartilhado por Madu Vitorino, de 30 anos, que escolheu com o marido o bloco Trombetas Cósmicas, no Flamengo. "Eu tô feliz, foram momentos difíceis, a pandemia se prolongou mais do que a gente imaginava, e agora esse retorno é um momento de esperança, de felicidade", comenta.

Moradora de Vila Isabel, Maria Alice Dias, de 22 anos, também ficou animada com a ocupação das ruas. "É a melhor época do ano. A gente tem a oportunidade de ser livre, vestir roupa, vestir brilho e não tem os julgamentos que a sociedade normalmente impõe pra gente em todo o ano. É uma época de muita liberdade, de muita música, de muito amor pelo outro, eu acho incrível. Houve descaso, mas a gente vai resistir."

Ambulantes comemoram, mas têm menos vendas

Às 4h30 de hoje, Simiuta dos Santos, de 54 anos, já estava com sua tenda montada no entorno da Praça Floriano, na Cinelândia, esperando quem quisesse botar seu bloco na rua. Natural do município de Patos (PB), há 11 anos a ambulante vende bebidas no Carnaval carioca. Ela se desloca de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, ao centro do Rio, com dois sobrinhos, que também trabalham como ambulantes durante a festa, mas em outra tenda.

Segundo a paraibana, as primeiras 11 horas de trabalho lhe renderam R$ 300. No último Carnaval de rua, ganhou R$ 3 mil por dia. "É um complemento na renda. Tenho um filho com deficiência. Vivemos com R$ 1.200, é pouco, não dá", conta.

Assim como quem vai curtir a festa, ela busca alternativas para driblar a falta de segurança e a ausência de banheiros químicos. "A gente que precisa vem assim mesmo. Dá um jeito, vai num banheiro de bar", disse. Para o segundo dia de Carnaval, dona Linda, como é conhecida, nem pretende retornar a Nova Iguaçu: "A gente vai dormir no carro e ficar para amanhã. Já trouxe roupa para tomar banho ali na minha colega. Eu, minha sobrinha e o meu sobrinho."

Apesar de o público — e as vendas — serem menores que nos anos anteriores, a vendedora ambulante Thaisa Muniz, de 21 anos, também comemorou a volta dos blocos de Carnaval como forma de aumentar a renda: "Acho maravilhosa, a melhor coisa. Durante dois anos de pandemia, não tinha como trabalhar. Trabalhava no sinal."

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