Gaviões da Fiel faz desfile político e sem Bolsonaro gay
Sem celebrar uma vitória no grupo especial desde 2003, a Gaviões da Fiel foi a segunda escola a pisar na avenida na última noite dos desfiles em São Paulo. A agremiação, que traz Sabrina Sato à frente da bateria, traz um enredo forte sobre desigualdade social e mazelas, mas precisou esperar mais de 40 minutos antes de conseguir entrar na avenida.
Enquanto a nova integrante do "Saia Justa" (GNT) protagoniza uma "maratona", dividindo-se entre a capital carioca e a capital paulistana, a escola vinculada à maior torcida organizada do Corinthians cantou o samba-enredo "Basta!", que fala sobre injustiças sociais e as diversas faces dessa divisão. A escola já foi campeã do grupo especial quatro vezes, mas não comemora o título há 19 anos.
Bolsonaro gay?
Uma polêmica rodeou o desfile da Gaviões da Fiel no início da semana. Um rumor começou a circular dando conta de que o carnavalesco Paulo Barros teria guardado em segredo uma sátira ao presidente Jair Bolsonaro (PL) para o desfile de hoje.
A Folha de S. Paulo informou que o carioca Neandro Ferreira representaria o chefe do Executivo na avenida como um homem gay, em uma das alas da escola. "Vou vir como um Bolsonaro bem gay, bichíssima, dando muita pinta", disse ao jornal.
Assim que a notícia começou a repercutir, as opiniões se dividiram nas redes sociais. Alguns apontaram que a presença do personagem seria ainda mais ofensiva à população LGBTQIA+ do que ao próprio político.
Em nota publicada no Instagram na última quarta-feira (20), a Gaviões negou a história:
"Destacamos que o enredo da Gaviões da Fiel traz uma mensagem cultural, não tratando de questões políticas ou de apoio partidário em geral. Os nossos valores estarão bem representados na pista, quais sejam: democracia, igualdade, sustentabilidade e paz."
E, de fato, o personagem não foi visto no desfile da agremiação.
Atraso e preocupações
O início do desfile da Gaviões da Fiel atrasou enquanto a LigaSP limpava papéis picados deixados na pista pelo desfile do Vai-Vai, que foi a primeira agremiação a entrar no sambódromo na segunda noite.
Enquanto não entrava na avenida, Sabrina Sato ficou preocupada com o horário, ainda na concentração, e se irritou. Isso porque ela ainda precisa ir para o Rio de Janeiro e desfilar pela Unidos de Vila Isabel na Marquês de Sapucaí.
"Não vai começar, caramba? Tá atrasado no Rio?", questionou, para um dos assessores que a acompanhavam.
Três carros de limpeza faziam o trabalho de retirar os papéis da avenida. Além disso, outras pessoas a pé também tentavam limpar a passagem, antes de o desfile da Gaviões ser autorizado para começar. O atraso foi de mais de 40 minutos.
Rainha e 'maratonista'
Aos 41 anos, Sabrina Sato desfilou na Gaviões com uma fantasia intitulada "O Tempo e o Capitalismo". A roupa tinha asas e detalhes de pena, que se assemelha a um pássaro com asas negras —justamente como um gavião.
"Ser Gavião é amar e lutar", escreveu Sabrina em uma publicação no Instagram. "Preto e branco são reflexões de uma vida inteira de dedicação, glórias e, acima de tudo de muita paixão! Vamos com tudo minha Gaviões da Fiel!"
Em entrevista, a apresentadora não escondeu a emoção de voltar a representar a escola.
Eu sou Gaviões até morrer. Estou nessa escola há 18 ou 19 anos. É muito amor, muita emoção. É indescritível reencontrar essa bateria que pulsa em nosso coração. Estou muito feliz de estar aqui.
Sabrina Sato, Rainha de Bateria da Gaviões da Fiel
Basta!
Com um desfile forte e que abordou a desigualdade social tanto em termos de política, meio ambiente e sociedade, a Gaviões da Fiel empolgou a arquibancada e passou pela avenida de forma muito correta. A escola fez críticas contundentes ao fascismo, ao desmatamento, a políticos extremistas e ao descaso com a educação.
Em um dos carros, a Fiel mostrou a violência policial à qual estão sujeitos os povos negros. Em outro, povos indígenas surgiram no destaque para simbolizarem a importância da luta pelas terras e contra a opressão.
A quarta e última alegoria veio toda em branco, num símbolo de paz para pedir o "basta" que inspira todo o samba. Figuras como Nelson Mandela, Sócrates, Frida Kahlo e Cacique Raoni são homenageados.
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