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SP terá pela 1ª vez uma mulher comandando uma bateria no Anhembi

Mestra Rafa será a primeira mulher a comandar uma bateria no Anhembi - Fábio Martins
Mestra Rafa será a primeira mulher a comandar uma bateria no Anhembi Imagem: Fábio Martins

Flávio Ismerim

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/01/2023 12h00Atualizada em 25/01/2023 17h17

Às 20h do dia 11 de fevereiro, Rafaella Rocha Azevedo, 34, fará história. Assim como a Imperatriz da Pauliceia abrirá os desfiles no Grupo de Acesso 2 de São Paulo, ela inicia um novo capítulo na trajetória do samba e será a primeira mulher a comandar uma bateria no Sambódromo do Anhembi.

Mestra Rafa liderará os 130 ritmistas da bateria Swing da Pauliceia no desfile que marca o retorno da escola da zona leste ao principal palco da folia paulistana, buscando, assim como a agremiação, provar que veio para ficar.

"Existe a expectativa de ser a primeira mulher, porque a gente tem que provar três vezes mais [do que um homem]. A minha bateria tem que estar boa, mas ela tem que dar três vezes melhor do que qualquer outra do meu grupo", diz Rafa.

A Imperatriz da Pauliceia venceu, nos últimos carnavais, todos os concursos que disputou e saltou da sexta para a terceira divisão do Carnaval. Para 2023, a escola cantará a história da Vila Esperança, berço do samba na zona leste de São Paulo e prestará reverência ao maior expoente carnavalesco da região: a Nenê de Vila Matilde.

Primeira mulher a tocar. O percurso de Mestra Rafa até a estreia no Anhembi começa às vésperas do Carnaval de 2007. Naquele ano, ela completou 18 anos e, com o direito garantido pela maioridade de seguir seu próprio caminho, decidiu que iria se render à paixão pela escola que via pela janela e coloria a avenida onde ela morava de verde e vermelho: a X-9 Paulistana.

Chegando na quadra, eu ouvi que, seguindo ritos tradicionais do Carnaval, a escolinha de bateria só começaria 40 dias depois da folia de momo, respeito o período da quaresma. E assim ela fez. Apesar de não ter nenhuma outra mulher tocando esse instrumento na bateria da X-9, Rafaella se apaixonou pela caixa e resolveu aprender a tocar o instrumento.

O sonho de desfilar no Carnaval de 2008 foi interrompido por um acidente que lesionou sua mão esquerda, mas ela voltou para a escolinha no ano seguinte e, junto de uma amiga de escola e companheira de aulas na agremiação, foi uma das duas únicas mulheres a desfilaram na bateria tocando instrumentos da "cozinha" ou "fundo" da bateria: caixas, repiniques ou surdos.

"Quando fui fazer minha segunda escolinha, eu fiz com uma amiga que era do colégio, por coincidência a gente se encontrou lá e fomos as duas únicas que tocavam no fundo da bateria da X-9 quando a gente subiu da escolinha."

Mestra Rafa será a primeira mulher a comandar uma bateria no Anhembi - Reprodução/Instagram @ligacarnavalsp - Reprodução/Instagram @ligacarnavalsp
Mestra Rafa será a primeira mulher a comandar uma bateria no Anhembi
Imagem: Reprodução/Instagram @ligacarnavalsp

Quem é a primeira mulher a tocar surdo?

Depois de dois desfiles tocando caixa, Mestra Rafa se apaixonou pelo surdo de terceira. Ela decidiu aprender a tocar o instrumento e teve que ouvir do mestre de bateria da X-9, na época, que mulheres não poderiam tocar o instrumento lá.

"Quando eu quis mudar de instrumento, quando eu quis mudar para o surdo de terceira, foi a primeira vez em que dei de cara com o preconceito de verdade. O mestre da bateria na época falou: 'na bateria da X-9 não tem mulher do surdo, então pode desistir dessa ideia'."

A saída foi aceitar o convite de um diretor de bateria da escola e ir aprender a tocar em um bloco do qual ele era mestre. A solução encontrada foi tão certeira que foi ele mesmo quem chamou o mestre de lado e o convenceu a dar uma oportunidade para que Rafaella pudesse desfilar tocando o instrumento, já que ela sabia tocar bem o suficiente.

"Essa foi a primeira porta que eu abri. Eu nem abri, eu arrombei", diz.

De vetada a diretora. Rafaella cresceu tanto que virou diretora de surdo de terceira da X-9. Cargo que ela ocupou do Carnaval de 2017 até o desfile de 2020, seu último na bicampeã da folia paulistana.

Ela passou a ter mais responsabilidade dentro da hierarquia sob o comando do consagrado Mestre Adasmator - que hoje é presidente, mestre de bateria e diretor de Carnaval da X-9. Ele colocou Rafa em uma espécie de estágio e a deixou encarregada de gerenciar as apresentações da escola e de ficar à frente da bateria caso algum diretor não fosse.

Foi assim, inclusive, que ela chamou a atenção de Fabiano Melodia - intérprete da Imperatriz da Pauliceia e, na época, integrante do carro de som da X-9 -, que fez o convite para que ela assumisse a bateria da Imperatriz da Pauliceia, no Carnaval de 2015. Passado o desfile, ela pediu o desligamento do cargo.

Primeira mestra do Anhembi. Anos depois, para o Carnaval de 2019, o mesmo convite veio novamente. Dessa vez, a escola estava sob nova direção e já era comandada pela atual presidente Maralice Lazarini. Sob a sua administração, a Imperatriz venceu o Grupo de Acesso de Bairros 2 (2019), o Grupo de Acesso de Bairros (2020) e o Grupo Especial de Bairros (2022), o que a credenciou para desfilar no Anhembi no Carnaval de 2023.

Com a Imperatriz da Pauliceia e Maralice, sobe também a Mestra Rafa, que será a primeira mulher a comandar uma bateria no Sambódromo do Anhembi e agradece à agremiação pela estrutura de trabalho dada.

"Não adianta eu receber 50 mil por mês se dentro da escola tem pessoas trabalhando contra ou não tem estrutura. Tudo que é necessário e importante para a bateria ela [Maralice] sempre deu um jeitinho de conseguir: água, lanche, instrumentos da melhor qualidade, transporte. A estrutura da Pauliceia é o diferencial."

Mestra Rafa espera poder inspirar outras meninas e mulheres a sonharem, acreditarem e se prepararem para ser mestras de bateria.

"São portas difíceis de abrir, outras é difícil até de arrombar. Mas a partir do momento que a gente passar abrindo, elas vão continuar abertas para que outras que venham não precisem passar por essas coisas", afirmou.

A Imperatriz da Pauliceira abrirá os desfiles do Grupo de Acesso 2 de São Paulo no Sambódromo do Anhembi. Ela se apresentará ao lado de agremiações consagradas como Unidos do Peruche, Leandro de Itaquera e Imperador do Ipiranga no dia 11 de fevereiro, a partir das 20h. Os ingressos são gratuitos. Confira a ordem das apresentações da noite:

1- Imperatriz da Pauliceia
2- Amizade Zona Leste
3- Brinco da Marquesa
4- Primeira da Cidade Líder
5- Imperador do Ipiranga
6- Uirapuru da Mooca
7- Leandro de Itaquera
8- Unidos do Peruche
9- Unidos de Santa Bárbara
10- Torcida Jovem
11- Camisa 12
12- Dom Bosco de Itaquera

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