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SP: Blocos estão 'cansados' e dizem que prefeitura trabalha contra Carnaval

Considerado um dos blocos mais simpáticos de São Paulo, Confraria do Pasmado reúne famílias, amigos e muito colorido na rua Pinheiros, em São Paulo - Marcelo Justo/UOL
Considerado um dos blocos mais simpáticos de São Paulo, Confraria do Pasmado reúne famílias, amigos e muito colorido na rua Pinheiros, em São Paulo Imagem: Marcelo Justo/UOL

Bruno Laurato

Colaboração para UOL, em São Paulo

02/02/2023 15h21

A pouco mais de 10 dias para o Carnaval, a relação entre os blocos de rua e a Prefeitura de São Paulo está longe de estar alinhada. Ontem, sete entidades organizadoras dos blocos assinaram uma carta apontando inúmeras críticas contra a gestão da Prefeitura e da secretaria da Cultura paulistana. Segundo eles, "o cenário é de abandono, na combinada falta de planejamento, ausência de transparência e diálogo mal feito".

No documento, os grupos Fórum dos Blocos, Comissão Feminina, Arrastão dos Blocos, Abasp, UBCRESP, Ocupa o Carnaval, TremeSP e União dos Blocos de Música Eletrônica da Cidade de São Paulo reclamaram sobre desinformação, falta de planejamento e ausência de transparência por parte da Secretaria de Cultura, o que eles chamam de "desmonte das políticas públicas".

"Fizemos a carta porque precisávamos avisar aos paulistanos que temos ciência de que está ruim. E que se o Carnaval for bom não será graças à prefeitura, porque ela está trabalhando contra", explicou Zé Cury, líder do Fórum dos Blocos, ao UOL.

O líder ainda afirmou que essa carta é o primeiro documento de uma série de publicações que eles pretendem divulgar expondo o "desleixo" da Prefeitura e, mais precisamente, da secretária de cultura Aline Torres contra o Carnaval de blocos da cidade.

"Cansamos do relacionamento soft com eles, da conversa formal, de aguardar posicionamentos oficiais, sem protestos públicos. Agora vamos os partir para hard: vamos lançar um esclarecimento cronológico que apresenta como o carnaval foi abandonado (...) apresentando todas as mentiras que ela [Aline Torres] contou desde dezembro de 2020.

A gota d'água para os grupos mudarem o discurso foi a ausência de Aline Torres em uma reunião ontem, que teria sido marcada por ela, onde seria recebida a Frente Parlamentar e cinco lideranças do carnaval de rua.

"Ela não foi e o assessor que nos recebeu está trabalhando com ela há um mês. Ela tem gente qualificada para nos responder, ela marcou a reunião, ela disse que estaria presente. Estamos perplexos. Isso caracteriza a falta de consideração que ela tem com os blocos", disse Cury.

O que diz a Prefeitura?

Em sua defesa, a Secretaria Municipal de Cultura contou na Coletiva de Imprensa que aconteceu hoje, que mantém o diálogo sobre o Carnaval de rua com uma comissão formada por 10 pessoas do setor. O objetivo do grupo é "minimamente, manter um canal de comunicação com todos os blocos", disse Aline Torres. A secretária ainda refletiu sobre a dificuldade de dialogar com todas as entidades. Segundo ela, a tratativa do Carnaval de rua é mais complicada do que com as Escolas de Samba, uma vez que não existe uma organização única que represente todas as entidades.

"A partir do momento que a gente constitui uma comissão participativa de blocos existe um canal de comunicação. E aí temos uma particularidade nos blocos, diferente das escolas de samba onde tem uma Liga, com um único presidente, sendo o canal direto com todas as agremiações, os blocos de Carnaval não. É natural porque ainda estamos em um processo de organização do Carnaval de rua de São Paulo. (...) Hoje não temos nenhuma instituição que represente os mais de 600 blocos", disse.

A secretária ainda descartou qualquer desinformação por parte da instituição. "Todas as atas das reuniões da comissão foram divulgadas por eles e por nós também. Recebemos na Secretaria a Bancada Feminista da Câmara Municipal de São Paulo que sempre demandou informações para eles e, apesar delas serem públicas, nós passamos tudo, desde os trajetos, dos blocos autorizados e todos os blocos que questionaram informações para secretaria, nós respondemos. São informações oficiais que estão publicadas no Diário Oficial", concluiu.

A comissão citada pela secretária, porém, também foi criticada pelo grupo de líderes que assinaram a carta. Segundo Cury, as pessoas escolhidas para o grupo possuem pouco conhecimento sobre o Carnaval de rua sendo selecionadas de caso pensado para intervir a favor da prefeitura.

"Ela selecionou 10 pessoas, duas de cada região, não explicou qual foi o pré-requisito, não existe nenhuma liderança de coletivos carnavalescos. É uma comissão consultiva, não deliberativa. (...) São 10 pessoas que ela colocou para trabalhar para ela sem oferecer nenhuma capacitação, obviamente é para ter uma resposta bonita para a imprensa", alegou.

Leia a carta publicada pelos blocos

NOTA MANIFESTA SOBRE O CARNAVAL 2023

Assinam: Fórum dos Blocos, Comissão Feminina, Arrastão dos Blocos, ABASP, UBCRESP, Ocupa o Carnaval e TremeSP - União dos Blocos de Música Eletrônica da Cidade de São Paulo

O carnaval mais esperado dos últimos tempos começa em 10 dias e para os blocos de carnaval de rua, charangas, troças, cordões e bandas carnavalescas o cenário é de abandono, na combinada falta de planejamento, ausência de transparência e diálogo mal feito. Tal situação faz parte de um projeto de desmonte das políticas públicas, em que a gestão pública é enfraquecida e desvalorizada, e em seus processos vai sendo substituída por um modelo de negócio privatizante, que desconhece e desrespeita os valores da cultura popular.

É preciso delimitar os papéis e a responsabilidade sobre os diversos aspectos da festa. Aos blocos cabe a cultura popular: a música, a dança, fantasias e alegorias, os ritos de futuros ancestrais. Ao poder público cabe suas funções notórias de gestão, mediação do espaço público, construção da política pública com participação social, cuidado com o povo.

Faltam 10 dias e até agora não tivemos acesso à informações sobre questões fundamentais para a garantia de desfiles tranquilos, tampouco sabemos o que está sendo feito pela tal comissão intersecretarial. A lista de questionamento é gigantesca e versa sobre protocolos para dispersão, redução de danos, combate ao assédio, trajetos, circuitos fechados, banheiros, ambulantes, bueiros, árvores, fiações, horários.

O poder público não pode se isentar de cumprir o seu papel, nem jogar essa responsabilidade sobre quem constrói a folia carnavalesca. Há falta de transparência sobre o planejamento e ações, bem como das diretrizes tomadas. As tentativas de controle excessivo e regras feitas por quem não conhece a festa só podem desembocar em soluções autoritárias que colocam blocos e foliões em risco.

Nós queremos a garantia de que poderemos sair sem sofrer repressão, e de que não sofreremos com judicializações que nos responsabilizem por aquilo que deveria ser papel do poder público garantir. Nós estamos fazendo nossa parte. A secretaria municipal de cultura e todo o poder público estão fazendo a sua?.

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O CarnaUOL está de volta. O maior festival pré-Carnaval de São Paulo acontece no dia 4 de fevereiro no Allianz Parque com mistura de ritmos e grandes artistas no line-up.

Entre as atrações do CarnaUOL estarão Luísa Sonza, Gloria Groove, Claudia Leitte, Barões da Pisadinha, Zé Neto e Cristiano, Dubdogz e Baianasystem.

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