Blocos de rua: Moradores reclamam de baderna e planejam até mudança
Faltando uma semana para o Carnaval, mais de 170 blocos ganham as ruas de São Paulo nesse fim de semana e preocupam moradores da cidade que já estão saturados da trilha de bagunça e sujeira que eles deixam para trás.
O UOL ouviu moradores de alguns dos bairros que concentram o maior número de blocos e megablocos na capital paulista —como Pinheiros, Vila Madalena e Vila Mariana— e as principais queixas são a arruaça barulhenta, o cerceamento da liberdade de ir e vir, o excesso de lixo e a perturbação da tranquilidade dos moradores.
Vila Madalena, epicentro do caos. Antônio Furtado, 57, é morador da rua Mateus Grou, que fica no epicentro da folia paulistana na Vila Madalena. A via é cercada por outros logradouros famosos pela passagem de blocos e pelos festejos típicos do bairro mais boêmio de São Paulo, como as ruas Harmonia, Girassol, Aspicuelta e Inácio Pereira da Rocha.
Ele, que já planejava se mudar do bairro, contou na última semana que tentava apressar a processo para conseguir sair da Vila Madalena antes da chegada do Carnaval. Furtado se queixa de que os foliões deixam muita sujeira pelo chão, o que ajuda a entupir as galerias e intensificar os alagamentos já comuns na Mateus Grou.
"A principal coisa é que não tem uma infraestrutura. Isso aqui é uma área de alagamento, quando chove com os foliões aqui, vira um caos. Por conta dos foliões fica muita sujeira na rua e entope as galerias", relata.
Além da sujeira, a crítica também recai sobre a qualidade musical dos blocos da cidade de São Paulo que, segundo ele, não tem tradição alguma de Carnaval de rua.
"É o maior e o pior Carnaval do Brasil, ao mesmo ver. Não tem tradição, o povo não sabe tocar nem sambar. Os blocos não têm qualidade, não é a mesma coisa que você estar em Olinda, Salvador. Parece um funeral passando", dispara o morador.
Sua vizinha Cecília Suzuki, 82, reclama principalmente do fato de a Mateus Grou ficar fechada durante o Carnaval, o que a impede de sair ou chegar em casa quando julga necessário.
"Interditam toda essa rua aqui, fica tudo fechado. Se deixar o carro parado aqui na porta, não sai. Você não pode ir na rua, no mercado, não pode vir aqui, não pode sair daqui, não pode fazer nada. É tanta gente que fica, que você não consegue passar", explica.
Uma outra moradora que passava na rua no momento da entrevista e não quis ser identificada reclama da sujeira e diz ter visto foliões urinando nos muros da rua.
"Eu já vi banheiro químico aqui na rua, mas o pessoal não chega a ir lá. Faz em qualquer lugar, faz no muro. Se deixar o portão aberto, eles entram e fazem até nas flores do jardim. Não respeitam nada", reclama.
Música ruim em Pinheiros. As reclamações sobre a qualidade musical dos blocos de rua também estão presentes no bloco vizinho, Pinheiros. A região vai receber alguns dos blocos mais importantes da cidade, como o Casa Comigo, que desfile na rua Henrique Schaumann.
Pedro Oliveira, 30, diz acreditar que as pessoas vão mais para a rua procurando pegação e se incomoda com a baixa qualidade musical do que toca no Carnaval de rua da cidade.
"Os blocos são mais pela pegação mesmo e não tanto pelo som. O que eu curto é o som e eu acho o som fraco, muitas vezes é fraco. São poucos os blocos em que o som é realmente bom", defende.
Outra questão em Pinheiros é o impacto nas vendas das lojas. A Henrique Schaumann, por exemplo, é uma rua essencialmente comercial e os lojistas vão manter as portas fechadas durante o Carnaval por conta das aglomerações e da arruaça.
Para a gerente Débora Oliveira, 29, não compensa abrir a sua de loja durante a folia especialmente por conta da falta de segurança. "Não tem como abrir a loja durante o Carnaval. É muita gente, não é seguro. Como vai estar fechada a avenida, ninguém vai querer vir a pé para comprar. Meu mês está perdido", lamenta.
Tormento também em outras regiões. Giovanna Brammer, 22, mora numa região com menor incidência de blocos, mas reclama com igual afinco. Residente da Vila Sônia, a designer de social media relatou incômodo com o caos gerado nos acessos da estação de metrô da linha 4-amarela que fica no bairro.
"Tanto as pessoas que vão pros blocos quanto as que voltam passam por lá. Aqui nas ruas do bairro, na região próxima, fica sempre uma movimentação totalmente absurda. É trânsito de Uber, trânsito de gente. Gente mal-educada passando, mexendo com mulher, mexendo com criança, gente bêbada caindo pelos cantos", descreve.
Apesar de a região ter terminais de ônibus há muito tempo, o caos em tempo de Carnaval se intensificou mesmo com a chegada do metrô, explica Giovanna. Por lá, a folia também deixa um rastro típico: cheiro de urina e bagunça até a madrugada.
"Fica um cheiro de xixi, um cheiro de vômito, passa de umas 4h da manhã e você ainda ouve gente gritando na rua sem respeito nenhum pelas pessoas", conta.
A zona norte de São Paulo também não passa ilesa. Beatriz Trefliglio, 22, mora no bairro da Vila Aurora, na região do Mandaqui, e vê as ruas do entorno se encherem de lixo durante a folia de Momo.
"Tem um bloco que eles realizam na avenida Engenheiro Caetano Alvares que é a uma lixeira. A rua fica muito suja, o pessoal vomita nas portas das casas. O cheiro de urina fica excessivo, fica naquele calor fermentando, de repente aquilo sobe e fica impossível. As calçadas ficam impossíveis de andar, de fazer qualquer coisa", disse a estudante de publicidade e propaganda.
Beatriz também se queixa da bagunça, que a impede de aproveitar o feriado para descansar. "Você não acaba conseguindo fazer nada: ouvir uma televisão. Escutar uma música, ficar de boa em casa, tirar um cochilo. É terrível", define.
Perturbação do sono. Um morador da Vila Mariana que preferiu não se identificar reclama especificamente de um bloco que, segundo ele, apareceu do nada há um 5 anos e atormenta a vida da sua família no Carnaval.
"Se alguém passar mal aqui em casa, não tem como sair de casa com o carro. Tem que dar um jeito de sair no meio da muvuca. Por exemplo, meu primo tem um filho, se nesse sábado, ele se machuca, a gente fica vendido. Meu pai trabalha de escala, ele dorme até 16h porque ele trabalhou até 8h. Se o bloco começa às 12h, já vai ferrar o sono dele", explica.
Por conta dos transtornos causados pelo cortejo, o pai dele precisou atrasar o retorno de uma viagem que aconteceria justamente no dia do desfile desse bloco. "Esse ano meu pai vai voltar de viagem e ele precisou marcar [a volta] um dia depois do que ele queria voltar de fato, gastar um dinheiro a mais de hotel, de tudo, por causa do bloco", conta.
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