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Negrini, rainha do Baixo Augusta: 'Só mulheres sabem como é bom rebolar'

De body preto e cocar indígena, Alessandra Negrini desfila no bloco Acadêmicos do Baixo Augusta - Nelson Antoine/UOL
De body preto e cocar indígena, Alessandra Negrini desfila no bloco Acadêmicos do Baixo Augusta Imagem: Nelson Antoine/UOL

Beatriz Vilanova

Colaboração para o UOL, de São Paulo

11/02/2023 04h00Atualizada em 11/02/2023 11h55

Já se vão 11 anos desde que Alessandra Negrini, 52, assumiu (e permaneceu) no posto de rainha do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, um dos maiores e mais tradicionais de São Paulo. Em conversa com o UOL, a atriz defende que o momento de subir no bloco é sagrado e, todos os anos, fica reservado em sua agenda.

"Sempre me senti à vontade [desfilando no Carnaval]", ri-se. "Por isso estou há tantos anos. Se não fosse divertido, já tinha caído fora. Mas isso não significa que o coração não bata mais forte toda vez que subo naquele caminhão. É muita adrenalina, algo que não vivo em nenhum outro momento".

Em 2013, quando Alessandra desfilou pela primeira vez, a cena do Carnaval paulistano não tinha a dimensão que tem hoje. Mas, para a atriz, a festa na capital cresceu tanto que já pode ser considerada uma das melhores do Brasil.

"O Carnaval de São Paulo está maravilhoso. Existem muitas opções de blocos, estilos, músicas? Além da Avenida, que também é linda. O paulistano sabe fazer festa também, e o movimento do samba em São Paulo está muito forte", diz.

Seguindo o trajeto tradicional, com concentração na rua da Consolação (próximo à esquina da avenida Paulista), o desfile da Acadêmicos do Baixo Augusta está programado para este domingo (12), às 14h.

Como convidado de honra, estará presente o grupo baiano Olodum, que integra a agenda de apresentações ao lado de Marina Sena, Tulipa Ruiz e Céu. Gal Costa, que morreu em novembro de 2022, será homenageada pela atriz Sophie Charlotte, que também interpretou a cantora no filme "Gal Fatal".

Inclusive, é um trecho da música "Divino Maravilhoso" da cantora que define o tema do bloco este ano: "Atentos e Fortes". Para Alessandra Negrini, a temática se relaciona diretamente com o Acadêmicos do Baixo Augusta, que ela define como um bloco acolhedor e com o diferencial de levantar a bandeira da diversidade e do amor.

"[Levantar essa bandeira] tem muita importância. Às vezes, o óbvio precisa ser dito, principalmente num país que estava caminhando para um conservadorismo totalitário, destrutivo e que chegava a ser uma ameaça à própria integridade física das pessoas. Por isso, temos esse tema. Precisamos estar 'atentos e fortes', sempre", afirma.

Inclusive, ela acredita que o momento do Carnaval tem justamente o papel de ser uma das manifestações culturais mais importantes para o brasileiro:

"São nas festas populares que a gente se reconhece como coletividade, como povo e reafirma essa identidade. Seríamos menos brasileiros se não fosse o Carnaval, as festa juninas, a feijoada , o churrasco? Entende? É isso que nos dá coesão e forma o nosso corpo social".

Outra pauta que ela defende é a do empoderamento feminino. Em relação ao assédio na rua, um problema que se repete ano a ano, a atriz diz acreditar que as pessoas estão mais conscientes, mas que o assunto está longe de ser resolvido. Por outro lado, ela acredita que houve um maior entendimento da mulher como livre para se expressar em todas as datas, mas especialmente no Carnaval.

"Nos apoderamos da narrativa em relação aos nossos corpos. Não somos um objeto do olhar do homem, somos a expressão do nosso desejo. Estamos usando nosso poder a nosso favor e isso, antes de tudo, é muito divertido. Só as mulheres sabem o quanto é bom rebolar e descer até o chão! Os homens achavam que eles controlavam isso? Se enganaram, pura fantasia infantil de poder".

Com uma rotina já apertada, especialmente por conta das gravações da novela "Travessia" (Globo), Alessandra diz que sobrou pouco tempo para se dedicar a treinos ou preparações especiais para domingo, mas que "o que vale é a vontade de celebrar a vida —o resto a gente improvisa".

Já as quatro horas de preparação anteriores ao desfile costumam ser de muita tensão, correria e adrenalina para ela, mas é algo que já está acostumada. "Vale a pena. Faz parte da minha profissão aguentar as preparações".

Memórias de Carnaval: fantasias à mão e primeiros beijos

Encantada pela alegria, músicas e fantasias, Alessandra Negrini diz que se apaixonou pelo Carnaval ainda criança, quando frequentava festas em clubes com figurinos que a própria mãe criava para ela.

"Me sentia o máximo. [Foi quando vivi as] Primeiras paqueras, primeiros beijos? Lembro quando ganhei um concurso da foliã mais animada, e eu era garotinha. Aquilo foi marcante pra mim", diverte-se. "O brasileiro gosta de música e de se fantasiar como poucos povos no mundo. E existe um humor que o Carnaval carrega, a ironia? A gente se reinventa todo ano. Ri de si mesmo e canta. Isso é muito sério; é saudável e essencial."

Este ano, além do bloco, a atriz torce pela Gaviões da Fiel, escola que se apresenta no dia 17 de fevereiro. Se conseguir uma folga das gravações da novela, ela deverá marcar presença no Sambódromo do Anhembi para dançar junto à escola do coração.

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