Topo

CarnaUOL

Lexa, Minerato e mais: harmonização do bumbum vira 'moda' para o Carnaval

Eduarda Esteves

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/02/2023 04h00

Depois da tão desejada harmonização facial, febre em consultórios nos últimos anos, a moda entre os famosos que ganhou força para o Carnaval 2023 é a intervenção estética para harmonizar os glúteos. Conhecido popularmente como "harmonização do bumbum", o procedimento promete deixar a região mais firme, empinada e até redondinha.

Quem decidiu realizar o procedimento às vésperas da folia carnavalesca foi a cantora Lexa. Em vídeo publicado nas redes sociais, ela mostra parte do processo e diz estar surpresa positivamente com o resultado.

A rainha de bateria da Porto da Pedra, escola de samba de São Gonçalo, Tati Minerato, foi outra famosa que optou pelo recurso para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Em entrevista à Quem, a modelo, de 34 anos, contou que optou pela técnica para corrigir irregularidades e assimetrias decorrentes de complicações de uma lipoaspiração.

A técnica de remodelação do bumbum também já foi testada por nomes como Jojo Todynho, Deolane Bezerra, Bruna Marquezine, Virginia Fonseca, Claudia Raia, Gretchen, Grazi Massafera, Carolina Ferraz e Gabi Martins.

Em entrevista ao UOL, a dermatologista Hellisse Bastos explica que a harmonização de glúteo tem sido um dos procedimentos mais buscados na dermatologia estética. "Quando chega alguém buscando a melhora da aparência do bumbum, a gente tenta entender o que ela busca, se é a melhora da qualidade da pele, se é a volumização, a melhora de celulite ou se ela busca harmonização para deixar o bumbum mais empinadinho", diz a profissional.

Bastos detalha que o procedimento para realizar a harmonização de glúteo é invasivo e deve ser realizado em consultório médico. "Fazemos a aplicação de produtos injetáveis, com a finalidade de dar volume, melhorar o colágeno, a celulite e a flacidez, depende do desejo de quem está buscando a remodelação", conta. A médica destaca que hoje existem diversas substâncias sendo usadas nesse tipo de harmonização, mas as mais seguras do mercado são o ácido hialurônico e os bioestimuladores de colágeno.

A especialista explica que existem dois principais bioestimuladores de colágeno. O PLLA (ácido poli-L-lático) e a hidroxiapatita de cálcio, ambos são tratamentos bioestimuladores, ou seja, atuam estimulando a produção natural de colágeno pela pele, proteína responsável pela sustentação e firmeza. "Na prática, esses produtos são injetados e causam microinflamações. Com isso, são recrutados fibroblastos, uma célula que produz muito colágeno. Ou seja, uma vez aplicado naquela área, o produto estimula a nossa pele a ter mais firmeza e volumização."

A dermatologista detalha que os resultados são temporários e que é necessário refazer as aplicações depois de um a dois anos. O resultado final da intervenção pode ser conferido entre um e três meses após a aplicação, a depender do material utilizado. Cada sessão custa entre R$ 3 mil e R$ 5 mil.

lexa - Instagram/reprodução - Instagram/reprodução
Lexa admitiu dar um tapa no visual do bumbum e o pôs pra jogo nesse Carnaval
Imagem: Instagram/reprodução

Busca por perfeição aumenta e esconde riscos

Somente no primeiro trimestre do ano passado, houve um aumento de 390% na procura por procedimentos estéticos no país, em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Nessa busca, muitas pessoas acabam desconsiderando o risco que certas intervenções podem ter se não forem feitas de maneira adequada.

Em entrevista ao UOL, Lívia Fraga, médica especialista em estética, explicou que apesar de existirem produtos comprovadamente seguros, o procedimento de harmonização do glúteo tem riscos e contraindicações.

"Com o ácido hialurônico, por exemplo, os principais riscos são o edema tardio intermitente e persistente (ETIP), que é um inchaço no local onde houve a aplicação com sintomas inflamatórios e a oclusão vascular, quando o produto é injetado dentro do vaso sanguíneo, obstruindo a passagem de sangue, o que pode causar isquemia e necrose daquela região", ressalta.

A médica explica ainda que as infecções e hematomas também estão entre os principais riscos desse tipo de procedimento. Ela diz que para evitar o risco, o paciente precisa se preocupar em escolher um profissional habilitado, de preferência um médico, que trabalhe em um consultório regulamentado pela vigilância sanitária e use os melhores produtos e a técnica mais adequada para a harmonização do bumbum.

Ela alerta ainda que, apesar de estar na moda e ser o novo queridinho das famosas, nem todo mundo está apto para realizar esse tipo de procedimento. É o caso de pessoas com doenças autoimunes. "Como na região do glúteo precisamos de quantidades maiores de substâncias para entregar o resultado esperado, a saúde do paciente precisa estar em dia. Por isso, a importância do profissional conhecer as condições de saúde de quem está buscando essa remodelação."

Caso o resultado seja inferior ao desejado pelo paciente, a médica diz que não dá para aplicar o produto novamente em seguida. É preciso esperar alguns meses e respeitar os prazos. Caso o desejo seja retirar o que foi feito, isso só é possível no caso do preenchimento com ácido hialurônico, que pode ser removido por meio da aplicação da hialuronidase, uma enzima produzida pelo próprio organismo, que reverte os efeitos do preenchimento em até 48h.

Ela recomenda que o paciente faça uma boa pesquisa de profissionais e que não cheguem com exemplos de famosas na clínica para evitar frustração. Para Fraga, o ideal é chegar com uma queixa e descobrir junto com o profissional o que tem de mais seguro no mercado para melhorar aquele cenário. "O paciente não deve definir o procedimento porque ele é leigo. Eu sei que existem resultados na internet que são maravilhosos, mas não é porque ficou bom é um que vai ficar em outro, não funciona assim."

Nem sempre dá certo e há limites (até de material)

Em 2014, a modelo Andressa Urach foi internada com uma infecção na coxa esquerda que teve origem em uma aplicação de hidrogel, produto usado principalmente para preenchimento e aumento de volume em regiões como o bumbum e as coxas.

O hidrogel é constituído de poliamida sintética e solução fisiológica e é usado para preenchimento de rugas da face e pescoço, além de ser usado também para aumentar o volume de glúteos, panturrilhas e coxas. No caso de Urach, a substância foi aplicada na coxa juntamente com PMMA, outro produto injetável com microesferas de polimetilmetacrilato usado para preenchimentos.

De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o PMMA pode ser usado em procedimentos estéticos para corrigir rugas e restaurar pequenos volumes perdidos de tecidos com o envelhecimento. Apesar disso, a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) não recomendam o uso do produto para fins estéticos. A exceção do uso do PMMA seria para o preenchimento facial em pessoas com HIV/Aids, para corrigir a lipodistrofia causada pelos medicamentos, indicação prevista pela Anvisa em portaria de 2009.

A médica Lívia Fraga explica que o produto não é recomendado por ser um componente plástico, portanto não é reabsorvível pelo organismo. E, uma vez introduzido no organismo, ele se adere a estruturas como músculo, pele e osso, de forma que sua remoção completa é quase impossível mesmo com cirurgia.

Um outro caso foi o da youtuber cearense Camilla Uckers, que, em 2017, relatou as complicações que teve em seu organismo decorrentes de uma cirurgia para colocar prótese de silicone no bumbum. Na época, ela explicou que, depois de um mês do procedimento, percebeu que começou a sair pus da região. Uckers foi levada às pressas ao hospital e recebeu a notícia de que teria de retirar a prótese ou morreria de infecção generalizada. Ela optou por retirar o silicone.

A dermatologista Hellisse Bastos não recomenda as aplicações de implantes não absorvíveis pelo corpo. Apesar de serem capazes de dar uma volumização muito grande, ela considera que esses produtos são controversos e que podem causar problemas no futuro. "Na hora de fazer um procedimento estético, a gente precisa avaliar riscos e benefícios, quando os benefícios superam os riscos, a gente indica é realiza com uma maior segurança. Por isso, escolher bons produtos é parte fundamental dessa busca."

CarnaUOL