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Racismo motivou estreia de Manoel Soares no sambódromo: 'Chamado familiar'

Apresentador Manoel Soares estreia nos sambódromos pela Rosas de Ouro - @evensen_photographyy/Evensen Photography
Apresentador Manoel Soares estreia nos sambódromos pela Rosas de Ouro Imagem: @evensen_photographyy/Evensen Photography

Beatriz Vilanova

Colaboração para o UOL, de São Paulo

18/02/2023 16h00

A última sexta-feira (17) ficou "marcada na memória" do escritor e apresentador Manoel Soares, como ele mesmo diz, por ter sido sua estreia nos desfiles de Carnaval. O baiano estreou em cima de um carro alegórico da escola Rosas de Ouro no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, representando Zumbi dos Palmares sob o tema "Kindala - que amanhã não seja só um ontem com um novo nome".

"Com esse tema, a escola mostra a luta, a força e as conquistas do povo negro através dos tempos", afirma Manoel ao UOL.

Ele conta que o convite para desfilar na Rosas de Ouro veio da direção da escola e que o principal motivo que o fez aceitar foi justamente a temática. "Eles estavam falando de um tema que é muito sensível, que é a questão racial. E me ofereceram o posto de Zumbi dos Palmares, levando em consideração que a minha família é oriunda do Quilombo de Palmares, em Alagoas, posteriormente tendo ido morar na Bahia. Isso me pareceu quase um chamado familiar", explica.

Apesar de ser sua estreia, este não será o único desfile de Manoel neste Carnaval. O apresentador da Globo também fará parte do desfile da Mangueira (Rio de Janeiro) na madrugada deste domingo (19), onde poderá voltar às origens baianas como destaque do carro da ala que homenageia os blocos afros da Bahia. Com enredo "As Áfricas que a Bahia canta", a escola mostrará as construções das visões de África na Bahia a partir de sua musicalidade e instituições carnavalescas.

"Existe uma parte da história brasileira que não está documentada em lugar nenhum, apenas nos blocos afros, e quem não conhece a história desses blocos não têm acesso a uma parcela da história da população. Então se eu puder contribuir para dar visibilidade a isso, pra mim será maravilhoso", diz Manoel.

Para ele, o Carnaval é uma manifestação artística que sempre tem uma narrativa com poder de ajudar a ensinar e valorizar culturas diversas, mas de forma alegre e lúdica.

"Por mais que a maioria das pessoas não enxerguem o Carnaval como um ato político, considero que ele seja, porque os enredos e temas que as escolas de samba trazem para as avenidas, envolvendo narrativa socioculturais, de resistência e luta, trazem informação e curiosidade para os interessados se aprofundarem posteriormente neles".

Da mesma forma, ele acredita ser fundamental que as escolas abordem a temática antirracista, dando visibilidade às culturas e religiões de matrizes africanas, que tantas vezes são alvos de manifestações intolerantes; e que levem informações que desfaçam preconceitos, sempre "com o intuito de instruir e reparar de forma histórica algumas injustiças que ainda são ativas".

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'Penso o Carnaval como um livro'

O Carnaval entrou na vida de Manoel por meio da família, e permaneceu ao longo dos anos de trabalho acompanhando as transmissões do Carnaval nos sambódromos. "Tenho as camisas Globeleza guardadas até hoje", brinca ele.

Para fazer sua estreia no Rio e em São Paulo, Manoel passou por uma série de ensaios e uma rotina de concentração e esforços focados nos dois desfiles.

"Nunca imaginei essa conexão com o Carnaval, até porque ele está mais vinculado a uma questão de visibilidade, de glamour, e isso nunca foi um caminho para mim quando pensava na questão carnavalesca. Eu penso o carnaval como um livro, e estou muito feliz em poder entrar nesse contexto, de quem absorve e propaga conhecimento", diz.

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