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De meias a esparadrapo: a evolução do polêmico tapa-sexo no Carnaval

Beatriz Vilanova

Colaboração para o UOL, de São Paulo

21/02/2023 12h00

O tapa-sexo é uma das peças-chave nos desfiles das escolas de samba no Carnaval. Apesar de pequeno, se mal utilizado, é capaz de derrubar toda uma apresentação.

Seu uso tem uma história mais longa do que aparenta. Segundo o carnavalesco Milton Cunha, que comenta os desfiles na Globo, a história da peça remete às vedetes e bailarinas do cabaré parisiense Moulin Rouge.

"Toda sex symbol tinha à disposição seu tapa-sexo, porque o vestido, por cima dele, não marca. O bumbum fica liberado, então é uma peça que desaparece, por ser de elastano."

No Brasil, a história do tapa-sexo também começou no século 20. "No Rio de Janeiro, dos anos 1920 aos 1970, todas as vedetes —como Dercy Gonçalves, Íris Bruzzi e Virgínia Lane— tinham seu tapa-sexo. Já no Carnaval, a inserção da peça veio mais tarde, com a escola de samba se libertando dos costumes pudicos e passando a usar biquínis nos desfiles, por volta dos anos 1960 e 1970", diz Milton.

Nessa época, as passistas utilizavam meia-calça e biquíni. Só depois, surgiu o primeiro tapa-sexo de pressão, sem lateral, deixando a cintura do corpo livre. "É o tapa-sexo de encaixe de arame, em que você dobra o arame de aço, e ele se segura na pressão. Ele entra pelo bumbum, órgão feminino e tem uma trave, para segurar. Fez muito sucesso nos anos 1980", explica o carnavalesco.

Proibição da nudez e os primeiros tapa-sexos colados

Enoli Lara nua no Carnaval como Afrodite - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Enoli Lara nua no Carnaval como Afrodite
Imagem: Arquivo Pessoal

Muito da controvérsia envolvendo o tapa-sexo vem do seu histórico de polêmicas. Em 1989, Enoli Lara foi a primeira mulher a desfilar completamente nua em um desfile na Sapucaí, causando alvoroço.

A partir daí, em 1990, a Liga das Escolas de Samba proibiu a genitália desnuda, sob pena de perda de 0,5 ponto. Foi quando passou a usar emplastros, esparadrapos e fitas cirúrgicas coladas na genitália —ou seja, o tapa-sexo para "driblar" a proibição da nudez.

"A regra é que a racha não pode aparecer —se um maiô entrar no meio das pernas e deixar a cava à mostra, os lábios expostos, a escola toda já é penalizada. É uma responsabilidade enorme", diz Milton.

"Enoli Lara foi um choque, uma loucura. Assim como Jorge Lafond, em 1990, que desfilou com o órgão coberto com fita cirúrgica e pintada. Esse foi o último tapa-sexo criado, que usamos até hoje. Ainda não avançamos para nenhuma nova técnica", acrescenta.

Atualmente, os modelos utilizados pelas dançarinas são o gancho de metal, o adesivo e a calcinha com tecido transparente, simulando a nudez, sendo os dois primeiros os mais comuns. "Aquelas que querem vir com a ideia de nudez total usam o esparadrapo com pintura, porque o encaixe de arame tem uma 'franjinha'."

Para não cair

Muitas vezes, com suor e movimentação contínua, é difícil fazer o tapa-sexo não cair. Ainda em 2018, Tarine Lopes teve o tapa-sexo deslocado do corpo minutos antes do desfile da X-9 Paulistana e precisou dançar segurando a peça com uma das mãos.

Mas Milton afirma que há certas precauções para evitar que isso aconteça:

"Para usar o esparadrapo, tem que passar éter, secar bem a pele —deixá-la mesmo ressecada. Se passar óleo ou creme, já era, pois o tapa-sexo irá se soltar nas laterais e descer. No caso do arame, ele precisa estar mesmo bem pressionado, para não descer".

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