Pepeca em chamas e orgasmo coletivo: blocos festejam liberdade sexual em SP
Pelas ruas estreitas do centro de São Paulo, um pequeno caminhão era acompanhado majoritariamente por mulheres no desfile do bloco Pirikita em Chamas, próximo ao Pateo do Collegio.
Em cima do trio, uma homenagem a Beth Carvalho e mensagens contra a intolerância religiosa e em prol do povo yanomami. Embaixo, mulheres à vontade para se expressar e falar sobre liberdade sexual.
"Vamos colocar a periquita para jogo. A gente vive em uma sociedade machista e sexista, é importante irmos para as ruas pelos nossos direitos como mulher", justifica a estudante de psicologia Camila Rosa, de 34 anos.
Mesmo sem conhecer o bloco, ela foi fantasiada — literalmente — de periquita em chamas. O look era composto por meia arrastão, hot pants, top e kimono. Na região genital, o desenho das chamas.
"Meus amigos me chamaram e eu adorei a proposta. Todos os corpos são bem-vindos e já passou da hora da gente reivindicar isso", completou. A sugestão da organização do bloco era para que os foliões usassem vermelho, o que foi acatado por boa parte do público.
As tradutoras Viviane, Ana Clara, Luísa e Carol estavam buscando o bloco Pagu, que também desfilou hoje pelo centro da capital paulista, quando se repararam com o outro caminhão — e resolveram ficar.
"Estávamos procurando um bloco com uma pegada feminista e com discurso libertário, porque nos sentimos mais seguras do que nos outros blocos. Aqui tem mais mulheres e pessoas LGBTQIA+", explicou Carol.
Ela e as amigas levavam uma bandeira com as cores do arco-íris e tinham tatuagens temporárias pelo corpo de frases como "não é não" e "lute como uma garota".
Assim como as meninas, a Silvia Chimelli, de 30 anos, que trabalha com vendas internacionais, também caiu no trajeto sem querer. Ela seguia para um bloco sinfônico que aconteceria por perto, quando parou para assistir ao desfile.
Ainda que não fosse de forma intencional, sua fantasia também remetia à liberdade das mulheres. "Vim inspirada por uma ópera que gosto muito, que é Violetta, com a faixa 'Sempre Libera' [do italiano, sempre livre]. Acabou combinando com esse bloco também", disse.
No caminho do bloco, o ambulante Jonas distribuía preservativos — tanto masculino quanto feminino — em sua barraca. Ele trabalha há seis anos no Carnaval de São Paulo.
"Tem feito bastante sucesso, as pessoas compram uma bebida e já levam o preservativo para se prevenir", conta. Estar na rota de um bloco libertário, no entanto, foi apenas uma coincidência.
A socióloga Maria Elisa, de 54 anos, dançava envolta a um pano com o nome do bloco e o desenho de várias vulvas. Amiga de uma das criadoras, ela afirmou estar ali por ser a favor de todas as formas do amor e liberdade.
"Um bloco libertário tem toda a importância do mundo. Estamos em outro momento político e precisamos festejar contra o fascismo", explicou.
Bloco do tesão
Com um lema parecido, outro bloco libertário desfilava nesta terça-feira na capital paulista, agora nas ruas da Barra Funda. No Agora Vai, as palavras de ordem eram: orgasmo coletivo para lutar contra o fascismo.
"No dia D, na hora H, no ponto G nós vamos se encontrar", cantava a marchinha do bloco. "Quengaral, atenção, é o bloco do tesão", completava a multidão, na rua que leva o nome do bairro.
Um dos patrocinadores, uma marca de lubrificantes, distribuía sachês do produto e uma água de rótulo com duplo sentido — status: sempre molhada.
"Passei 11 anos em um relacionamento, depois veio a pandemia. É meu primeiro bloco e escolhi vir para cá comemorar com meus amigos", finalizou Beatriz Mello, de 32 anos.
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