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Caju que Dá: samba de Adnet para Mocidade viraliza e fura bolha do Carnaval

Marcelo Adnet desfila pela Estrela do Terceiro Milênio no Carnaval de São Paulo em 2023 Imagem: Rubens Cavallari - 19.fev.2023/Folhapress

Thiago Camara

Colaboração para o UOL, no Rio

08/01/2024 04h00

O povo do Rio de Janeiro provou e aprovou o Caju da Mocidade Independente de Padre Miguel.

O samba que embala o enredo do Carnaval 2024, "pede caju que dou, pede caju que dá", viralizou no Spotify no final de semana do Réveillon e estourou "a bolha do Carnaval". O feito resgata uma tradição da escola da zona oeste carioca de produzir hits alegres e chicletes.

Um dos oito compositores do samba-enredo, o ator Marcelo Adnet contou em entrevista exclusiva ao UOL que não fizeram a música pensando nesse sucesso, a intenção era promover um reencontro da Mocidade com ela mesma.

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Não calculamos viralizar. O samba resgata a sensualidade e a popularidade que foram marca da escola na década de 90. Tudo isso com uma letra muito precisa e humorada e com harmonia intuitiva, mas com sofisticação. Um samba tão gostoso quanto despretensioso e essencialmente brasileiro
Marcelo Adnet

Paulinho Mocidade, cantor e compositor do clássico "Sonhar Não Custa Nada", de 1992, emprestou sua experiência e vivência na verde e branco para o sucesso de 2024.

Ele define com precisão que o samba-enredo viralizado traz a essência do Carnaval, 32 anos depois do último hit. "É um samba muito leve, muito fácil. O segredo de furar a bolha é que um samba para brincar, pular, cantar, sambar e para quem é ritmista tocar."

Adnet e Paulinho contam que foram cinco encontros para chegarem à versão final. Também assinam a música Diego Nicolau, Richard Valença, Orlando Ambrósio, Lico Monteiro, Cabeça do Ajax e Gigi da Estiva.

Paulinho Mocidade exalta o grupo e o consenso para chegarem a esse resultado com um samba popular. "A gente sabia que tinha um grande samba. E nunca vi uma parceria tão democrática, cada um ia dando uma opinião sobre determinadas partes", conta ele que, já foi intérprete de outras escolas, como Imperatriz Leopoldinense, campeã do Carnaval 2023, Unidos da Tijuca e a paulistana Águia de Ouro.

Em 1992, quando o termo "na boca do povo" era o usado para dizer que um samba-enredo havia alcançado sucesso além dos amantes do Carnaval, a Mocidade sonhava com o tricampeonato, após os títulos (e os hits) de 1990 e 1991 ("Vira, Virou, a Mocidade Chegou" e "Chuê, Chuá, as Águas Vão Rolar"), mas ele não veio. Em 2024, o sonho do campeonato está mais vivo que nunca.

O carnavalesco Marcus Ferreira leva para Sapucaí o Brasil, por meio do caju, após a escola ficar em 11º lugar e quase ser rebaixada no ano passado. Junto com Marcus, o jornalista e biógrafo da Mocidade, Fábio Fabato, também idealizador do enredo, conta que por um fio a agremiação não levou o tricampeonato em 1992.

"A Mocidade sonhou encontrar o tricampeonato na esteira de um samba mágico e eterno (um dos maiores hits da história até hoje), mas perdeu para a Estácio de Sá. Para 2024, o desafio é chegar de novo no coração da galera. Ela tem um enredo e um samba que apontam este caminho", conta.

23.abr.2022 - Mocidade Independente de Padre Miguel desfila na segunda noite de Carnaval na Sapucaí Imagem: Ricardo Borges/UOL

Um dos trechos do samba afirma que "a Mocidade é a cara do Brasil". Fabato explica a brasilidade da escola da Vila Vintém, que em 2020 exaltou a cantora Elza Soares, que morreria dois anos depois. "A Mocidade nasceu do povo e do terreiro, cresceu nos anos 70 e se assumiu como porta-voz das brasilidades. É representante da zona oeste do Rio, região enorme que contraria a lógica do capital e da desigualdade, e segue firme, produzindo sonhos, cultura e vivacidade. É uma síntese da complexidade brasileira", define.

Carnaval, história e educação

O Brasil também era o tema do último samba-enredo a cair nas graças do povo, em 2019. A Mangueira cantou "História para Ninar Gente Grande" com a história do Brasil sobre a ótica de pessoas deixadas à margem, no país e nos livros escolares. Tomaz Miranda, um dos sete compositores do samba, que virou hino de ativistas e de movimentos sociais, defende que o Carnaval e a educação estão intimamente ligados.

"Se o Brasil estudasse o samba-enredo, ia conhecer melhor sua própria história, a história da África e a história da Europa também. Acho maravilhoso quando um samba rompe as barreiras, não só do ponto de vista do entretenimento. O samba-enredo é também um exercício de estudo do próprio país."

No domingo (07), às 22h, a Mocidade Independente de Padre Miguel abre os ensaios técnicos no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, junto com a Unidos do Porto da Pedra, que desfila a partir das 20h30.

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