Primeira Rainha trans de SP teve medo e demorou a revelar seu segredo

A dançarina Camila Prins, de 43 anos, frequenta bailes de Carnaval desde os primeiros anos de vida: sua mãe criava as fantasias e as duas iam para bailes infantis em Porto Ferreira, interior de São Paulo.

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O que aconteceu

Aos 11, vestiu-se de mulher pela primeira vez e foi ali que teve certeza de que não era um menino, conforme registrado na certidão de nascimento. "Foi graças ao Carnaval que eu me tornei essa mulher que sou hoje", assegura a primeira rainha de bateria trans a assumir o posto numa agremiação paulistana, na Camisa Verde e Branco. Esse ano ela ainda estreará como musa na Dragões da Real.

O anúncio não chegou a surpreender a família. Ela conta que sempre foi uma criança muito feminina, e quando falou da sua descoberta diz ter sido bem acolhida. "Nem precisei falar. Todos já sabiam."

A transição de gênero começou rápido, aos 16 anos. Ela colocou prótese nos seios, enquanto a mãe lhe comprava hormônios femininos e até lingeries. Era tão evidente a sua feminilidade, nas palavras de Camila, que muitas pessoas, principalmente no meio do Carnaval, não sabiam pelo que ela estava passando. E assim permaneceu por anos.

Em segredo

Frequentadora da Camisa Verde Branco, Camila foi convidada para destaque de alegoria no desfile de 2000. Até então, e nos anos seguintes, nunca houve qualquer menção quanto ao seu gênero. E por medo do preconceito, também manteve o assunto sob sigilo: ela era mulher e ponto.

O chamado para o posto de rainha de bateria da escola veio 18 anos depois, quando a dançarina já tinha trocado todos os seus documentos. Camila fala que foi somente naquela ocasião, em 2018, que sentiu-se segura para falar abertamente sobre a sua identidade.

"Antes de trocar a documentação, em 2011, era tudo muito desagradável como ir a médico, e me deixava com vergonha até de mim mesma. Mas depois me senti liberta."

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Quase desistiu

Camila Prins estreou como rainha de bateria em 2018
Camila Prins estreou como rainha de bateria em 2018 Imagem: Alex Pires/Divulgação

Mas a aceitação na escola não foi tão fácil. Alguns ritmistas, Camila afirma, chegaram a se negar a reconhecê-la como rainha, e ela pensou em desistir do posto. Mas ela diz que foi abraçada pela diretoria da escola, o que fez toda a diferença para seguir em cima do salto: "Hoje eu me sinto uma mulher respeitada e reconhecida. Posso dizer que o samba aceitou a mulher trans que eu sou."

Esse reconhecimento abriu portas. Em 2019, a dançarina trans Kakah Morena, 34, saiu à frente da bateria da Imperador do Ipiranga. Em 2021, a própria Camila também foi coroada na Real Mocidade Santista e, no ano seguinte, na Colorado do Brás. No Carnaval deste ano, a atriz, cantora e apresentadora trans Pepita sairá como madrinha da Unidos de São Lucas.

Camila também é rainha de bateria numa escola na Suíça, onde mora há mais de duas décadas. "Fico muito feliz de ter aberto esse espaço, e espero que mais meninas trans ocupem esse lugar", celebra

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