Carnaval 2024: bloco Elefante desfila em Olinda e celebra renovação
Márcio Bastos
Colaboração para UOL, em Olinda (PE)
27/01/2024 21h13Atualizada em 27/01/2024 22h20
O Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda, ou simplesmente o Elefante, como é conhecido pelos foliões, está tão associado ao imaginário do Carnaval da cidade pernambucana que seu hino é ouvido por todos os cantos de Olinda durante a festividade. Neste sábado (27), o bloco fundado em 12 de fevereiro de 1952 realizou seu famoso Trote, uma prévia aberta pelas ruas de Olinda que arrastou uma multidão pelas ruas da Marim dos Caetés, antecipando a apoteose que acontecerá no domingo de Carnaval, quando o Elefante sai oficialmente.
Um dos blocos mais tradicionais do Carnaval, eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco, o Elefante tem experienciado, desde 2017, uma renovação interna e de público. Ao lado dos foliões tradicionais, que seguem o bloco há décadas, uma nova geração tem marcado presença tanto seguindo o bloco quanto o organizando.
Desde 2017, um grupo de jovens foi integrado à diretoria do bloco, que passava por um momento delicado, com pouca verba e um público minguante. Atualmente, a diretoria é majoritariamente formada pela juventude, que colabora com o presidente João Trindade e o vice-presidente Fernando Nigro, figuras históricas do bloco.
"O Elefante nasceu como um bloco menos favorecido financeiramente, em relação aos clássicos, mas encontrou seu lugar de destaque no Carnaval de Olinda. Por um período, o bloco passou por dificuldades, mas a juventude ajudou a gente a se reerguer e a fortalecer os laços com os foliões, mantendo viva a tradição", explicou Fernando Nigro.
Para Fernando, a folia é uma paixão familiar. Seu irmão, Cláudio, foi um dos fundadores do Elefante, e seu pai, Clídio Nigro, é o autor do "Hino do Elefante", canção que se tornou um lema não oficial do Carnaval de Olinda.
Seu filho, Natan Nigro, é um dos jovens que passaram a compor a diretoria do Elefante de Olinda. Junto a essa nova geração que busca salvaguardar a importância do projeto, ele tem articulado ações para fortalecer o clube carnavalesco.
"Começamos a nos preparar em agosto para o Carnaval, mas esse é um trabalho de um ano inteiro. Entre as ações que a gente conseguiu implementar para conseguir recursos para o bloco está a venda de produtos, como a camisa, e a participação em eventos", explicou Natan.
Célio Gouveia, também da juventude do Elefante desde 2017, pontuou também que a nova geração buscou inserir o Elefante no universo virtual, com iniciativas como a criação do Instagram, atualmente com mais de 22 mil seguidores. Bruno Firmino, que começou sua relação com o Elefante como folião e hoje é um dos diretores, reforçou ainda a importância da luta do grupo para colocar o bloco na rua, já que todos que estão participando da feitura da festa são remunerados.
"Muita gente não tem noção do esforço e da logística que é colocar o bloco na rua. Todas as nossas ações são gratuitas, na rua, como é o Carnaval de Olinda, e por isso contamos com o apoio do público na venda dos produtos e também no apoio às nossas ações", Bruno Firmino.
Na prévia realizada neste sábado, a grande maioria do público era formada por jovens, mas famílias e foliões históricos também marcaram presença, como Claudionor Filgueira, que acompanha o bloco como desfilante desde 1977. Em 1982, fez o estandarte do bloco, repetindo o feito em 1992 e 2022, este último utilizado também no desfile deste sábado."Também já fiz as fantasias do bloco, que era uma tradição que foi se perdendo, mas estamos tentando resgatar", contou Claudionor.
Em Olinda, o Carnaval é democrático: a concentração começou às 16h30 na Praça do Jacaré e seguiu pelas ruas da cidade, subindo para o Sítio Histórico, conduzidos pela Orquestra do Maestro Oséas, uma das figuras mais icônicas do frevo pernambucano.
"Nossos eventos são sempre gratuitos porque o Elefante não tem dono, ele é do povo. Ele é diverso e democrático. Atualmente, somos três mulheres na diretoria e minha relação com o bloco se estreitou quando, em um Carnaval, eu o vi desfilando e tive um misto de emoção e tristeza, ao me deparar com aquela beleza e, ao mesmo tempo, perceber como estava esvaziado. Desde então, temos nos esforçado para devolver a importância que ele tem para o Carnaval - e tem dado certo, como comprova a multidão que se reúne a cada ano para acompanhar, tanto o Trote quanto o cortejo no Carnaval", afirmou Juliana Serreti, integrante da diretoria.
Atualmente, o Elefante luta para ter sua sede, nos Chalés Históricos do Carmo, no Sítio Histórico de Olinda. O espaço foi cedido pelo Governo do Estado, em 2023, e agora o Clube precisa angariar fundos para a reforma e manutenção."Com a sede, podemos realizar diversas ações para salvaguardar e divulgar a tradição. Podemos fazer oficinas, apresentações, entre outras. Atualmente, estamos tentando junto à Lei Rouanet a viabilização de fomentos", explicou Natan Nigro.