Democrático, Cordão do Bule leva foliões a museu de SP: 'Feito para o povo'
GIlvan Marques
Colaboração para UOL, em São Paulo
27/01/2024 20h37
Sem preconceitos e democrático, o bloco Cordão do Bule arrastou foliões durante apresentação neste sábado (27), no saguão do Museu da Língua Portuguesa, bairro do Bom Retiro, região central de São Paulo. O grupo lançou ainda o seu samba-enredo, composto com a ajuda de usuários de centro para tratamento mental.
O que aconteceu
Fundado em 2007, o grupo nasceu do projeto chamado Samba do Bule, organizado pelo Grêmio Recreativo de Estudos do Samba.
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O Bule realizou neste sábado apresentação em parceria com o museu e, na ocasião, fez o lançamento do seu samba-enredo.
O tema do bloco fala sobre a saúde mental ("O mais importante é a nossa história e a mente é a expressão da liberdade") e foi inspirado em usuários de drogas, tema já sensível para a região.
O samba foi composto por usuários e funcionários do CAPs (Centro de Atenção Psicossocial), unidades especializadas em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente. Sinopse e versos da canção saíram de conversas, frases e histórias feitas em encontros no centro.
A cada ano, a gente procura enredos que ajudam a contar a história do País, a partir de uma ótica em que não é contada nos livros de história. E, neste ano, a gente trouxe a saúde mental como tema, para fazer coro a essas pessoas que já estão gritando há muito tempo e não têm a sua voz ouvida. Pelo contrário, eles são oprimidos pela violência policial e a falta de políticas públicas
Cesinha Pivetta, 38 anos, fundador do Bule e integrante do Teatro Popular União e Olho Vivo (TUOV)
"O Caps é um centro que ajuda muito essas pessoas a ter a sua individualidade reconhecida, e não serem tratadas com um problema para a sociedade. E o Samba do Bule tem a função de conversar com essas pessoas para, então, ajudar a contar essas histórias com elas. Temos um microfone. O Samba do Bule traz isso sem perder a magia do Carnaval", acrescenta.
Com homenagens a personalidades no mundo do samba, o bloco agitou o público presente, até mesmo moradores em situação de rua, que acompanhavam as batidas — dentro e fora do museu.
Muitos grupos (o próprio Museu da Língua Portuguesa, a Casa do Povo e o próprio Samba do Bule) têm observado essa questão sobre a população em situação de rua e os usuários de drogas.
É muito difícil morar na rua. E quando aconteceram esses eventos, um dos grupos organizados por pessoas em situação de rua disse: 'nada sobre nós sem nós'. Então, não faz o menor sentir não receber essas pessoas bem.
Aninha Batucada, de 38 anos, cantora e compositora
Na apresentação do bloco, houve ainda a nomeação da Rainha do Cordão do Bule e a entrega do estandarte a um dos integrantes da agremiação.
"O Cordão do Bule abre esse Carnaval, que é um Carnaval democrático, acessível para as pessoas em situação de ruas e para todas as pessoas. Ele é um carnaval do povo e feito para o povo. E isso é o que me faz participar do Cordão do Bule. Sem preconceitos", analisou a atriz Danila Gonçalves, 38.