Nos 40 anos do bloco Simpatia é Quase Amor, o Carnaval não é só oba-oba
Thiago Camara
Colaboração para Splash, no Rio
03/02/2024 10h00
De um lado o mar de Ipanema, do outro um mar de gente vestida de amarelo e lilás. A 40 carnavais a cena se repete na Avenida Vieira Souto, no Rio de Janeiro. E nessas quatro décadas, o bloco Simpatia É Quase Amor segue misturando política com samba sem perder de vista a luta pela democracia. Neste sábado (3) e no próximo domingo (11), a comemoração estará liberada!
Como tudo começou
O enredo deste ano "40JÁ" mostra o orgulho que o bloco tem de ser filho do movimento das Diretas Já, que em 1984 levou milhares de pessoas às ruas para exigir seus direitos ao voto.
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Nascido e criado por militantes e intelectuais de esquerda, em um país ainda sob o Regime Militar (1964-1985), o Simpatia é uma mistura de boêmia, festa e política. "Ainda no final na década de 70 a luta contra a ditadura estava se acelerando. Éramos um grupo de amigos que sempre se reunia para tomar chopp. Uma parte era vinculada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). E em 1984, após o movimento da Diretas Já, resolvemos criar o bloco", conta Ary Miranda, um dos fundadores do Simpatia.
Lá no começo não houve problema com a repressão dos militares. Ary lembra, porém, que num passado recente houve tentativas de intimidação. "O nosso carro de som sempre ficou concentrado na Praça General Osório. Teve um dia que a representação do município disse que não podíamos ficar ali. É um detalhe idiota, mas o [ex-prefeito Marcello] Crivela sempre tentou boicotar o Carnaval. E durante o governo do Bolsonaro nós chegamos a receber ameaças pelas redes sociais, mas nunca deixamos de fazer explicitamente nossas críticas a ele. O Carnaval é democrático e tem que resistir contra toda forma de opressão", defende ele.
Os integrantes do bloco se orgulham de não terem presidente, diretoria e hierarquia. Tudo sempre pôde ser decidido, em conjunto, numa mesa de bar.
A gente se reunia pra preparar, tomando chopp num bar, batendo papo, curtindo desde a preparação até a saída do bloco Ary Miranda
Histórias de gerações
Como diz o samba de 2024, o bloco foi batizado por Dona Zica, da Mangueira, pelo compositor Aldir Blanc e por Albino Pinheiro, fundador da Banda de Ipanema, outro bloco tradicional do bairro. O nome do grupo foi inspirado em um personagem de uma crônica de Aldir: Esmeraldo, simpatia é quase amor, do livro "Rua dos Artistas e Arredores".
Para Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, associação independente de blocos da Zona Sul e Centro, a longevidade do Simpatia tem uma explicação. "Ele é um bloco de bairro. É aquele bloco feito por uma comunidade, por um território, vai passando de pai para filho, de vizinho para vizinho, e o Simpatia é isso", conta ela que frequenta os desfiles desde 1994.
O cantor e compositor Tomaz Miranda, filho de Ary, é cria do Simpatia. Segundo seu pai, ele desfilou pela primeira vez na barriga da mãe. Hoje, aos 36 anos, está entre os músicos que cantam e tocam o samba no carro de som e se unem a uma bateria de cerca de 80 integrantes.
"Sempre gostei de tocar, cantar e o Simpatia foi um laboratório, um lugar que pude exercer a música de uma das maneiras que eu mais gosto que é na rua, no Carnaval. O Simpatia está em mim, faz parte totalmente da minha vida", conta ele que também é compositor e um dos autores do samba-enredo da Mangueira, campeão do Carnaval de 2019.
Um bloco com o samba carioca, crítica social, à beira-mar, sob o pôr do sol. Nada mais carioca, segundo Rita.
Ele desfila na praia de Ipanema, cantando o pôr do sol, falando desse modo carioca de ser, que tem a ver com Arpoador, com festejar o sol, a praia, a garota de Ipanema. O Simpatia é ligado a este lugar e traz com ele toda a identidade mais carioca Rita Fernandes
Desfiles do Simpatia É Quase Amor
Sábado, 3 de fevereiro, às 14h, Rua Teixeira de Melo, 37, Ipanema
Domingo, 11 de fevereiro, às 14h, Rua Teixeira de Melo, 37, Ipanema