Foliões temem violência no Centro de SP, mas elogiam reocupação no Carnaval
Gilvan Marques
Colaboração para o UOL, em São Paulo
05/02/2024 12h00
Foliões ouvidos pela reportagem do UOL admitiram o receio com a escalada da violência no centro de São Paulo, mas elogiaram a reocupação das ruas da região por meio de blocos e festas populares e pediram mais políticas públicas ao local, tido por alguns como "abandonado, degradado e violento".
O que aconteceu
A capital paulista iniciou o período de pré-Carnaval, com o desfile de blocos pelo centro, neste sábado (3). Atrações como Unides do Grande Mel, Coletivo SPandeiro e Eletro Afro Muriçoca Soul ignoraram a "má-fama" da região e arrastaram foliões.
Relacionadas
O centro da capital paulista tem preocupado moradores e autoridades devido ao aumento no número de ocorrências. República, Consolação e Bela Vista puxaram o ranking dos locais da cidade com mais roubos ou furtos de celular, no 1º semestre de 2023. A Cracolândia também tem se espalhado.
Ao UOL, Otávio Júlio, mercadólogo de 24 anos, contou que chegou cedo para o desfile. "Pra mim, é a melhor época do ano, época em que você coloca aquele look extravagante, que você se joga, que você brinca", disse, entusiasmado, resumindo o seu sentimento sobre o período de Carnaval.
Ele explica que sempre curtiu os blocos no centro de São Paulo, porque considera que os melhores saem daí. Mas há ressalvas. "A gente sabe que a região é perigosa, um lugar onde é preciso ter cuidado e estar preparado", pontua. "As minhas dicas de segurança são: utilizem todas as ferramentas tecnológicas possíveis em seu celular. Se possível, desinstale o app do banco. Saque dinheiro físico, pega um doleira e não esqueça de prender o zipper de sua doleira", acrescenta, na sequência.
Eduardo Carrício, 34, trabalha com vendas e mora na região central há 9 anos. É daqueles que não perdem o Carnaval por nada na vida, embora saiba dos desafios que é morar e se divertir no local. "Eu já frequento o Carnaval de rua de São Paulo há bastante tempo. Então você aprende algumas coisas, sabe um pouco como se proteger. Sinto medo? Sim. Dependendo do horário e de onde você está, rola uma insegurança. Mas você já vem preparado, com alguns cuidados —um doleira, não ir sozinho na rua detrás ou sair com amigos na hora de ir embora—, para não estragar a sua festa."
A chilena Andréa Campos, 54 anos, veio com um grupo de cinco amigas oriundas de Viña del Mar (Chile). Está há três dias no Brasil. É a sua primeira vez no país e também num bloco de Carnaval. "Estamos gostando bastante. É bonito. Nunca havíamos algo parecido", afirma ela sorridente. Insisto na questão sobre a violência: "Nos disseram para termos cuidados, como bolsa segura e o uso de celular".
Apesar do temor, foliões acreditam que a ocupação das ruas através de festas e da cultura podem ajudar na recuperação do centro de São Paulo. "A gente fica sempre um pouco apreensiva e toma alguns cuidados, mas é muito gostoso também ocupar as ruas de um outro jeito. Vale a pena", avalia Cleo Magalhães, 36 anos, professora de educação infantil.
"É muito importante de estar aqui para reocuparmos o centro e dar movimento a ele. É preciso mais políticas públicas para ocupá-lo. Eu acho que é fundamental para a cidade ter cultura, acesso livre no centro da cidade", afirma Mateus Rezende, 27, analista de sistema.