'Torciam o nariz ao ver uma negra como Globeleza', diz Valéria Valenssa
Gilvan Marques
Colaboração para o UOL, em São Paulo
06/02/2024 04h00
De volta a uma escola de samba, após duas décadas distante da avenida, a dançarina e apresentadora Valéria Valenssa admitiu sentir saudade da época em que se tornou famosa como a Globeleza, à frente das vinhetas de Carnaval da TV Globo. Desde a primeira pincelada em seu corpo até o resultado final da pintura, segundo ela.
Ao UOL, Valéria também falou sobre o racismo que sentiu na pele e que algumas "pessoas torciam o nariz por verem uma mulher negra" e o seu status.
Relacionadas
O que aconteceu
Valéria foi o símbolo da emissora nos dias de folia entre 1991 e 2004. Foram 13 anos onde ela aparecia nas chamadas com o corpo pintado e seminu.
Ela foi demitida pela própria emissora no início dos anos 2000, mas não esconde a mágoa que ficou devido à forma como tudo aconteceu.
Apesar disso, a eterna Globeleza admite a saudade que sente do período em que a estrela foi o principal rosto do Carnaval brasileiro.
Eu sinto muita falta do contato com a equipe, desde a primeira pincelada no meu corpo até o resultado final que já chegou a durar mais de 24 h. Esse momento pré, para acontecer tudo aquilo que as pessoas viam na televisão, para mim era muito mágico. Valéria Valenssa, ex-Globobeleza
À reportagem, a musa contou também que racismo foi uma questão vivenciada por ela, nos bastidores. "É claro que houve sim algumas pessoas torcendo o nariz por ser uma mulher negra, pelo racismo, enfim... mas eu procurava não ver isso. Meu sonho era muito maior do que as críticas, em relação ao racismo. E cada pedra que tinha no meu caminho, eu pulava e não queria nem olhar para trás."
Agora, Valéria irá voltar a desfilar por uma escola de samba, vinte anos depois de sua última vez, na Marquês de Sapucaí.
A apresentadora vai sambar pela União de Maricá, uma agremiação sediada na cidade fluminense de Maricá (RJ), na terceira divisão do Carnaval local. Ela se tornou a Embaixadora da cidade. O trabalho será de graça, sem remuneração.
O convite foi aceito, diz ela, como forma de agradecimento por tudo o que a cidade tem feito pelos seus pais.
Nós tivemos uma experiência muito forte no final do ano passado, em que ela (a minha mãe) passou mal e precisou ser socorrida para o hospital. Eu estava em viagem e lembro de toda preocupação sobre a necessidade que teria ou não de transferi-la para o Rio de Janeiro. Mas tudo que ela precisava, Maricá acolheu.
O curioso é que, três anos antes, Valéria Valenssa chegou a recusar o cachê de R$ 150 mil para ser a Rainha de Bateria de uma escola de samba, segundo fonte a par do assunto contou ao UOL.
Sempre recebi convites para estar de volta, e isso me deixa imensamente feliz! A maioria são convites de escolas de samba, para eu vir como Rainha de Bateria, ou como musa, madrinha da escola, enfim... Entre outros convites que estou sempre recebendo, todo ano, para voltar para ao Carnaval de outras maneiras também. Quase sempre com cachês", afirmou ela, evitando especificar os valores.
'Meu coração está muito bem'
Valéria Valenssa foi casada com o designer alemão Hans Donner, com quem tem dois filhos. Ficaram juntos durante 27 anos.
Em 2019, o casal surpreendeu meio mundo ao anunciar a separação publicamente.
O UOL questionou à ex-Globeleza como está o seu coração atualmente e se estaria disposta a beijar na boca no Carnaval. Discreta, ela responde.
Meu coração está muito bem. Acredito que antes de amar alguém, a gente tem que se amar primeiro, e estou me amando cada dia mais. Nós mulheres precisamos nos amar acima de tudo e entender que o caminho para a felicidade não está no outro, mas em nós mesmas. Quando a gente entende isso, aprendemos a nos valorizar mais. E a partir daí, quem vier, é só para somar.