OPINIÃO
Em noite equilibrada, Mancha, Dragões e Tatuapé se destacam no Anhembi
Anderson Baltar
Colaboração para UOL, do Rio
10/02/2024 07h14
A primeira noite do Grupo Especial paulistano foi marcada por uma representativa quantidade de enredos de exaltação à raça negra e pelo extremo equilíbrio nas apresentações das escolas. Mancha Verde, Dragões da Real e Acadêmicos do Tatuapé impactaram, mas Rosas de Ouro e Independente Tricolor também chamaram a atenção com desfiles criativos e animados. A seguir o padrão visto nesta sexta, a apuração de terça-feira promete ser uma das mais emocionantes dos últimos anos.
Voltando ao Grupo Especial após 12 anos de ausência, o Camisa Verde e Branco, uma das mais tradicionais escolas paulistanas, apostou em um tema que entrelaçou a história de imperadores africanos e que culminou em uma homenagem ao ex-jogador Adriano. Apesar da grande expectativa pelo retorno ao desfile principal, a agremiação fez uma apresentação fria, com muitas alas coreografas e visual apenas correto.
Décima colocada no último Carnaval, a Barroca Zona Sul celebrou seus 50 anos de existência com um enredo autobiográfico. O carnavalesco Pedro Magoo apostou em uma narrativa linear e homenageou grandes personagens e desfiles inesquecíveis da agremiação. Dois segmentos chamaram a atenção: a comissão de frente, que, com vários cenários giratórios, apresentou o sonho de Pé Rachado, o fundador da Barroca, se concretizando na avenida. Por sua vez, a bateria do mestre Fernando Negão abusou das paradinhas e empolgou o público.
Exaltando toda uma linhagem de reis africanos, a Dragões da Real impressionou pela suntuosidade de suas alegorias e fantasias, em mais um belo trabalho do carnavalesco Jorge Freitas, um dos mais vitoriosos do Carnaval paulistano. A comissão de frente foi um dos destaques, arrebatando muitos aplausos. A Dragões, impulsionada por um samba valente, fez um desfile empolgante, com seus integrantes passando com muita espontaneidade e garra. Uma apresentação coesa e que certamente irá disputar uma das primeiras colocações na apuração de terça-feira.
Quarta escola a desfilar, a Independente Tricolor trouxe mais um enredo de matriz africano. Ao exaltar as guerreiras Agojies, do antigo reino de Daomé, apresentou um belo desfile, com alegorias e fantasias de ótima concepção e extremamente coloridas. Seus componentes cantaram a plenos pulmões o samba-enredo, tido como um dos melhores do ano e que foi muito bem defendido pelo intérprete Chitão Martins. O contingente da Independente pisou forte na pista, mas sem ter muita resposta da plateia.
A Acadêmicos do Tatuapé homenageou a cidade baiana de Mata de São João e trouxe um visual de bastante impacto, sobretudo em seu setor inicial, com tons fortes de vermelho. Ao longo do desfile, fantasias e alegorias se descortinaram em uma paleta de cores bem diversificada. A bateria, de mestre Leo Cupim, foi um dos destaques, com bossas bastante ousadas. O samba permitiu um canto forte dos componentes, em mais uma competente atuação do puxador Celsinho Mody. Tatuapé fez um desfile que se credencia ao topo da tabela.
A Mancha Verde entrou na pista com uma substituição de última hora. Com dengue, o mestre-sala Marcelo Luiz foi substituído por Thiago Bispo, que fez par com Adriana Gomes. Apresentando um enredo sobre a agricultura, o carnavalesco André Machado apostou em alegorias gigantescas e coloridas. Trajando fantasias leves e de fácil leitura, os componentes cantaram e evoluíram animadamente. Com os primeiros raios de sol no Anhembi, a Mancha encerrou a sua passagem dando aos seus torcedores a certeza de que estará na disputa do título.
Última escola a desfilar, a Rosas de Ouro levou para o Anhembi um enredo sobre o Parque Ibirapuera. Com um visual leve e extremamente colorido, o carnavalesco Paulo Menezes homenageou os 70 anos do tradicional parque, encravado na capital paulista. Um dos destaques foi a comissão de frente, que, com irreverência, trouxe cenas do Ibirapuera, com direito a um piquenique, com formigas, frutas e pães. No final da coreografia, uma integrante representava a cantora Rita Lee, falecida recentemente e que fez um de seus mais icônicos shows no local. A bateria de mestre Rafa sacudiu o público com um verdadeiro arsenal de paradinhas. Com um desfile animado, a Rosas encerrou a primeira noite em alto astral e pode sonhar com uma boa classificação.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL