Desfile da Vai-Vai é criticado por delegados de SP: 'Demonizaram a polícia'
Colaboração para UOL, de São Paulo
12/02/2024 20h24Atualizada em 13/02/2024 13h18
Os delegados de polícia de São Paulo divulgaram uma nota de repúdio ao desfile da Vai-Vai na noite do último sábado (10) no sambódromo do Anhembi.
O que aconteceu
O sindicato que representa a categoria afirma que a escola "tratou com escárnio a figura de agentes da lei". "Com direito a chifres e outros itens que remetiam à figura de um demônio, as alegorias utilizadas na ala Sobrevivendo no Inferno, demonizaram a polícia — algo que causa extrema indignação.
Em nome do que chama de 'arte' e de liberdade de expressão, [a escola] afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e famílias.
Sindpesp
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A nota afirma ainda que espera que a Vai-Vai reconheça que "exagerou e incorreu em erro na ala em questão, e se retrate, publicamente". "Não estamos falando, afinal, apenas dos policiais, sejam civis ou militares, mas, sobretudo, de uma instituição de Estado que representa e está a serviço de toda a sociedade bandeirante."
O deputado federal Capitão augusto, junto com a deputada estadual Dani Alonso, também se manifestaram em repúdio ao desfile. Eles protocolaram um uma carta ao governador do Estado, Tarcísio de Freitas "Foi com grande consternação que presenciamos a escola de samba em questão retratar, de forma deliberadamente ofensiva, os policiais militares e outros agentes de segurança como figuras demoníacas em uma de suas alegorias. Tal atitude não somente desrespeita a honra e a dignidade dos profissionais que dedicam suas vidas à proteção da sociedade, mas também contribui para a propagação de uma imagem negativa das forças de segurança, em um momento em que se faz mais necessário do que nunca o reconhecimento e o apoio ao seu trabalho.
A Vai-Vai retornou este ano ao Grupo Especial do Carnaval de São Paulo, após ter vencido o Grupo de Acesso 1 no ano passado. Com 94 anos, a escola fundada em 1930, no Bixiga, está em busca da redenção e do seu 16º campeonato.
Com o enredo "Capítulo 4. Versículo 3 - Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano", a escola fez um manifesto contra o preconceito. Ela canta os locais ocupados por pessoas negras e a sua importância na criação e manutenção do rap e no hip-hop. Na avenida, Mano Brown também marcou presença.
Procurada, a Vai-Vai afirmou por meio de sua assessoria que fez "longo do desfile, uma série de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MCs, em 1997.
A ala retratada no desfile de sábado, da escola de samba Vai-Vai, à luz da liberdade e ludicidade que o Carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais Mcs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento.
Vale ressaltar que, neste recorte histórico da década de 90, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile.