Desfile da Vai-Vai é criticado por delegados de SP: 'Demonizaram a polícia'

Os delegados de polícia de São Paulo divulgaram uma nota de repúdio ao desfile da Vai-Vai na noite do último sábado (10) no sambódromo do Anhembi.

O que aconteceu

O sindicato que representa a categoria afirma que a escola "tratou com escárnio a figura de agentes da lei". "Com direito a chifres e outros itens que remetiam à figura de um demônio, as alegorias utilizadas na ala Sobrevivendo no Inferno, demonizaram a polícia — algo que causa extrema indignação.

Em nome do que chama de 'arte' e de liberdade de expressão, [a escola] afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e famílias.
Sindpesp

A nota afirma ainda que espera que a Vai-Vai reconheça que "exagerou e incorreu em erro na ala em questão, e se retrate, publicamente". "Não estamos falando, afinal, apenas dos policiais, sejam civis ou militares, mas, sobretudo, de uma instituição de Estado que representa e está a serviço de toda a sociedade bandeirante."

O deputado federal Capitão augusto, junto com a deputada estadual Dani Alonso, também se manifestaram em repúdio ao desfile. Eles protocolaram um uma carta ao governador do Estado, Tarcísio de Freitas "Foi com grande consternação que presenciamos a escola de samba em questão retratar, de forma deliberadamente ofensiva, os policiais militares e outros agentes de segurança como figuras demoníacas em uma de suas alegorias. Tal atitude não somente desrespeita a honra e a dignidade dos profissionais que dedicam suas vidas à proteção da sociedade, mas também contribui para a propagação de uma imagem negativa das forças de segurança, em um momento em que se faz mais necessário do que nunca o reconhecimento e o apoio ao seu trabalho.

A Vai-Vai retornou este ano ao Grupo Especial do Carnaval de São Paulo, após ter vencido o Grupo de Acesso 1 no ano passado. Com 94 anos, a escola fundada em 1930, no Bixiga, está em busca da redenção e do seu 16º campeonato.

Com o enredo "Capítulo 4. Versículo 3 - Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano", a escola fez um manifesto contra o preconceito. Ela canta os locais ocupados por pessoas negras e a sua importância na criação e manutenção do rap e no hip-hop. Na avenida, Mano Brown também marcou presença.

Procurada, a Vai-Vai afirmou por meio de sua assessoria que fez "longo do desfile, uma série de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MCs, em 1997.

A ala retratada no desfile de sábado, da escola de samba Vai-Vai, à luz da liberdade e ludicidade que o Carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais Mcs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento.

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Vale ressaltar que, neste recorte histórico da década de 90, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile.

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