Opinião

Na 1ª noite do Grupo Especial, Imperatriz e Grande Rio largam na frente

Na primeira noite de desfiles do Grupo Especial, duas escolas foram os grandes destaques. A Imperatriz Leopoldinense credenciou-se à disputa do bicampeonato com um desfile de apuro estético e muita animação. Já a Grande Rio foi a escola que melhor soube aproveitar a iluminação cenográfica da Sapucaí e proporcionou grandes momentos de beleza e desfile vigoroso. Sempre fortes, Beija-Flor e Salgueiro cometeram erros capitais. A Unidos da Tijuca fez um desfile apenas correto enquanto a Porto da Pedra teve sérios problemas de evolução e periga retornar à Série Ouro em 2025.

De volta ao Grupo Especial após 12 anos de ausência, a Unidos do Porto da Pedra apostou em uma entrada bastante impactante em seu desfile. O carro pede passagem trazia uma escultura de um tigre, símbolo da escola, de 22 metros de altura. O enredo desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Quintaes foi sobre o Lunário Perpétuo, livro criado na Idade Média para condensar os conhecimentos da humanidade e que viraria grande sucesso no Nordeste brasileiro no século 19. A escola apostou em um visual colorido e em um samba valente, muito bem cantado pelo intérprete Wantuir. Porém, a última alegoria da escola teve problemas para entrar na pista, chegando a bater em uma grade de segurança e ficar danificada. Por conta do percalço, um buraco de mais de 200 metros entre o carro e a ala da frente foi formado, comprometendo o desfile da escola de São Gonçalo, que terá muita dificuldade em permanecer no Grupo Especial.

12.fev.2024 - Desfile da Porto da Pedra na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí
12.fev.2024 - Desfile da Porto da Pedra na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí Imagem: Lucas Landau/UOL

A Beija-Flor apostou em um enredo patrocinado pela prefeitura de Maceió e trouxe para a avenida Ras Gonguila, um personagem fundamental para o Carnaval da cidade nordestina. O carnavalesco João Vitor Araújo, estreante na escola, elaborou carros alegóricos suntuosos e fantasias de muito colorido e criatividade. A comissão de frente foi um dos destaques, ao trazer uma coreografia criativa, em que os integrantes formavam um pião. Porém, à medida que o desfile avançou, a Beija-Flor enfrentou percalços, sobretudo com a montagem dos carros. A quinta alegoria só foi ajustada na entrada da pista e provocou uma parada no desfile da escola, o que deverá trazer problemas para o quesito evolução. Neguinho da Beija-Flor se desdobrou, mas o samba-enredo não contagiou e a escola fez um desfile apenas correto em seu canto.

12.fev.2024 - Desfile da Beija Flor na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí
12.fev.2024 - Desfile da Beija Flor na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí Imagem: Lucas Landau/UOL

Impulsionado por um dos sambas-enredos mais difundidos no período pré-carnavalesco e por um enredo sobre o povo ianomami, o Salgueiro entrou na avenida com pinta de favorito. E a impressão inicial foi forte. A comissão de frente, comandada por Patrick Carvalho, fez uma emocionante encenação do massacre que os indígenas sofrem por conta do garimpo. O casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei e Marcella Alves fizeram uma exibição exuberante, arrancando muitos aplausos da plateia. Porém, à medida que a escola foi avançando pela pista, alguns problemas foram observados. As alegorias apresentaram problemas de acabamento. O enredo, que prometia ser um manifesto, foi desenvolvido de forma confusa e não conseguiu passar a ideia inicial. Por outro lado, o samba-enredo foi cantado a plenos pulmões pelos componentes, com uma resposta razoável do público - muito longe da catarse que muitos sambistas imaginavam que iria acontecer na Sapucaí.

12.fev.2024 - Desfile do Salgueiro na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí
12.fev.2024 - Desfile do Salgueiro na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí Imagem: Lucas Landau/UOL

A Acadêmicos do Grande Rio foi a quarta escola a desfilar e trouxe para a avenida o enredo "Meu destino é ser onça". Inspirado pelo livro de Alberto Mussa, o tema da escola de Caxias trouxe o mito tupinambá da criação do mundo e, ao longo de suas alas e alegorias, abordou o papel da onça no imaginário brasileiro. Sua apresentação foi bastante pautada pelo uso da iluminação cênica da Sapucaí. O primeiro setor, todo em tons escuros e com detalhes em cores cítricas e tecidos fluorescentes, se sobressaiu nos momentos em que a passarela ficou sem iluminação. A agremiação distribuiu 50 mil pulseiras para o público, que fizeram o Sambódromo se assemelhar em vários momentos a um show de rock. Ao longo de sua passagem, a Grande Rio foi conquistando o público com a beleza de seu visual, a empolgação de seus desfilantes e a atuação segura da bateria de mestre Fafá e do intérprete Evandro Malandro. Sem muitos erros aparentes, a Grande Rio é forte candidata a voltar no sábado das Campeãs.

12.fev.2024 - Desfile da Grande Rio na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí
12.fev.2024 - Desfile da Grande Rio na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí Imagem: Lucas Landau/UOL
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Após dois enredos de temática nordestina e outros dois indígenas, a Unidos da Tijuca se propôs a apresentar lendas e histórias de Portugal, desde sua formação até os dias de hoje. Com o tema "O Conto de Fados", o carnavalesco Alexandre Louzada trouxe para a Sapucaí uma escola com um visual de muito requinte, com alegorias bem acabadas e fantasias que combinavam tradição e criatividade - um belo exemplo foi a ala que representou o Galo de Barcelos, sem dúvida, uma das mais bonitas que passou nesta noite na passarela. Porém, o desempenho do samba não foi satisfatório. Apesar do esforço dos componentes, as arquibancadas apenas assistiram à passagem da Tijuca. A bateria de mestre Casagrande teve ótimo desempenho. A azul e amarela, que há cerca de dez anos era uma das principais favoritas, hoje desfila sem aspirar as principais colocações da tabela.

12.fev.2024 - Desfile da Unidos da Tijuca na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí
12.fev.2024 - Desfile da Unidos da Tijuca na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí Imagem: Lucas Landau/UOL

Campeã do Carnaval 2023, a Imperatriz Leopoldinense saiu da pista da Sapucaí com uma rara aclamação para uma escola que desfila no domingo - dia em que tradicionalmente o público é mais frio. Com um enredo inspirado na literatura de cordel e que conta a história fictícia da Cigana Esmeralda, a agremiação do bairro de Ramos fez um desfile de grande impacto visual e em que o samba-enredo impulsionou a evolução animada de seus componentes. A escola, que se notabilizou por desfilar para os jurados está em lua de mel com o público, que vibrou em vários momentos de sua apresentação, sobretudo nas paradinhas de mestre Lolo. O carnavalesco Leandro Vieira apresentou o universo cigano com alegorias e fantasias de fácil leitura e de raro esmero. A Imperatriz saiu da pista com a certeza de que o bicampeonato é um sonho bastante possível.

12.fev.2024 - Desfile da Imperatriz Leopoldinense na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí
12.fev.2024 - Desfile da Imperatriz Leopoldinense na primeira noite de carnaval no sambódromo da Marquês de Sapucaí Imagem: Lucas Landau/UOL

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