Em noite de fortes emoções, Viradouro e Mangueira se destacam
A segunda noite do Grupo Especial carioca foi marcada pela emoção. Portela e Mocidade, que fizeram desfiles decepcionantes em 2023, se reabilitaram e saíram da avenida em lua de mel com suas torcidas. A Vila Isabel reeditou um samba clássico e a Mangueira evocou a cantora Alcione, uma de suas figuras mais marcantes. O Tuiuti relembrou a trajetória de João Cândido, o Almirante Negro responsável pelo fim das torturas na Marinha. Já a Viradouro encerrou em alto nível e fez um desfile que a credencia à disputa ao título.
A Mocidade Independente de Padre Miguel entrou na avenida sob grande expectativa do público. Não era para menos: o seu samba-enredo foi o mais reproduzido nas plataformas de streaming, chegando a ser uma das músicas virais do Spotify. Com o enredo sobre o caju, desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Ferreira, a Mocidade se reconciliou com a sua essência tropicalista e fez um desfile leve, irreverente e colorido. Na comissão de frente, o turbante de Carmen Miranda teve a banana destronada e, em cada cabine de julgamento, a personagem apareceu no meio do público da arquibancada. Mas o grande delírio do desfile foi proporcionado pelo samba, que fez jus à expectativa e foi cantado a plenos pulmões por componentes e público graças à bombástica atuação do intérprete Zé Paulo Sierra. Como senão, um problema com o carro abre-alas na dispersão, que atrapalhou a evolução e fez a escola correr para não estourar o tempo - o que trará inevitáveis perdas no quesito evolução.
A segunda escola a desfilar foi a Portela. Buscando se reabilitar da décima colocação obtida no último Carnaval, a azul e branca levou para a avenida um tema que evoca a afetividade. "Um defeito de cor", inspirado no livro de Ana Maria Gonçalves, trouxe para a Sapucaí a história de Luiza Mahin e seu filho, Luiz Gama. Já na comissão de frente, o desfile apostou na emoção, com a águia promovendo o encontro dos dois personagens. Um dos pontos altos do desfile criado pelos carnavalescos Antonio Gonzaga e André Rodrigues foi o enredo, de fácil leitura. A se lamentar, problemas de acabamento nas alegorias - a parte final do carro abre-alas teve esculturas defeituosas retiradas já com a escola em desfile. O bom samba rendeu bastante e proporcionou um canto uníssono da escola e um ótimo rendimento da bateria de mestre Nilo Sérgio. Um desfile para lavar a alma dos portelenses.
A Vila Isabel reeditou o enredo de 1993, "Gbalá", com samba antológico do aniversariante Martinho da Vila - que teve parabéns cantado durante o esquenta. Desenvolvido por Paulo Barros, o desfile conjugou o estilo consagrado do carnavalesco com uma estética mais tradicional. A comissão de frente trouxe crianças que, integradas com componentes adultos, faziam uma saudação a Oxalá. A apresentação do casal Marcinho e Cristiane Caldas, por sua vez, foi hi-tech. Com uma roupa toda forrada em led, eles arrancaram muitos aplausos em sua dança. Porém, a calça do mestre-sala apagou em duas cabines de jurados e pode vir a gerar penalização dos jurados. Apoiada na bateria de mestre Macaco Branco, o samba funcionou muito bem para os componentes, mas não teve tanta resposta do público. Competente e emocionante em alguns momentos, o povo da Vila deu seu recado.
Quarta escola a desfilar, a Mangueira levou para a Sapucaí uma emocionante homenagem à cantora Alcione. No roteiro elaborado pelos carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon, toda a trajetória da menina que saiu do Maranhão para se transformar em um dos maiores nomes da música brasileira. A comissão de frente, extremamente bem coreografada e com várias passagens da vida de Alcione, levantou o público, assim como o casal de mestre-sala e porta-bandeira Matheus Olivério e Cíntia Santos. O samba, valente, propiciou uma harmonia muito forte, com a escola cantando com muita garra. Por outro lado, a evolução preocupa por conta de um buraco que se formou entre a ala de baianas e o carro abre-alas por grande parte da pista. O acabamento de algumas alegorias também apresentou falhas. No último carro, Alcione desfilou em uma alegoria com motivos infantis, em alusão à Mangueira do Amanhã, escola mirim fundada pela homenageada.
De volta ao Paraíso do Tuiuti, o carnavalesco Jack Vasconcelos, que levou a escola ao vice-campeonato em 2018 com o inesquecível desfile sobre a escravidão, retomou a veia politizada em seu trabalho apresentando um enredo sobre João Cândido, o líder da Revolta da Chibata, ocorrida em 1910. A escola buscou impressionar, trazendo o maior abre-alas do ano, que possuía três chassis e três tripés acoplados. A gigantesca alegoria travou um tanto a evolução da escola, que abriu buracos na pista e precisou apertar o passo no final do desfile. Com um visual classudo e belas fantasias, o Tuiuti fez um desfile que demonstra ter atingido sua maturidade no Grupo Especial.
O Grupo Especial de 2024 foi encerrado em grande estilo pela Unidos do Viradouro. A escola niteroiense apostou no enredo "Arroboboi Dangbé", sobre o culto ao vodum serpente, da região de Daomé. O carnavalesco Tarcísio Zanon preparou um belo visual, propício para uma escola que desfilaria nos primeiros raios de sol, abusando das cores cítricas e do prata. O conjunto alegórico e de fantasias impressionou pela beleza, acabamento e suntuosidade. A comissão de frente, coreografada pelo casal Rodrigo Negri e Priscila Mota, abusou dos efeitos especiais, com direito a uma serpente rastejante no meio da coreografia. As alas fizeram um desfile empolgado e com canto forte. Já a bateria de mestre Ciça, que foi penalizada no último Carnaval, abusou das bossas e empolgou o público. A Viradouro fez um desfile muito forte de quesitos e se credencia fortemente à disputa do título.
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