'Mário de Andrade está feliz', diz ator campeão do Carnaval com a Mocidade
O ator Pascoal da Conceição, 70, que interpretou Mário de Andrade no desfile da Mocidade Alegre, bicampeã do Carnaval de São Paulo, disse ao UOL que desfilou "com o coração na mão". Para ele, a vitória do enredo sobre o escritor consagra a luta de Mário de Andrade (1893-1945) pelo direito ao samba. "Tenho certeza que o Mário de Andrade está feliz por ser reconhecido como um homem do samba."
Pascoal estará presente na apresentação da Mocidade Alegre no Desfile das Campeãs, na noite deste sábado (17), no Sambódromo do Anhembi. Leia a entrevista:
UOL - Como foi interpretar Mário de Andrade no desfile da Mocidade Alegre?
Pascoal da Conceição - Foi muito bom! Eu estava com o coração na mão, afinal, iria desfilar na escola que era a atual campeã. E agora isso vai ficar na memória da escola. Todo mundo vai lembrar: 'Você que interpretou o Mário de Andrade!' Tem que ser pé-quente!
Como foi essa sua experiência no Carnaval?
A gente que é de fora do samba não tem ideia do trabalho que é por um desfile em pé. É um trabalho de um ano inteiro, que começa mais devagar e vai acelerando à medida que o Carnaval vai chegando. São 3 mil pessoas que ensaiam separadamente e se encontram em um único dia e vira o Carnaval. É incrível! Eu participei de alguns ensaios. Estou com 70 anos e pedi o coreógrafo: 'Vai devagar comigo na Comissão de Frente'. Não dava para fazer toda a correria da moçada. Eu só precisava entrar e depois voltava. Mesmo assim é puxado.
Que lição o samba deixou?
O samba é uma máquina que move a alegria para vencer a adversidade. Ele usa a alegria como motor para vencer todos os problemas. É uma alegria que não é alienada, que não tem aquele mau humor típico militar. É uma alegria que existe para nos lembrar que sim, podemos ser alegres. Uma alegria guerreira, de resistência.
Qual a importância de um enredo sobre Mário de Andrade ganhar o Carnaval de São Paulo?
Eu interpreto o Mário de Andrade desde 1989 no teatro e na TV. Ele era jornalista, escritor, passou pela música, literatura, até gestor público. Comparo ele ao Zé Celso (José Celso Martinez, dramaturgo, que morreu em 2023). Foi uma vida dedicada à Cultura. Com o Mario de Andrade, cada enxadada era uma minhoca. Foi ele quem colocou o samba no calendário oficial da cidade de São Paulo, em 1935. Antes, só era permitido com autorização policial, porque diziam que samba era 'coisa de preto'.
O Mário de Andrade colaborou para uma existência e uma resistência de uma luta que não para. Temos ainda a questão do marco temporal, dos quilombolas, da cultura indígena e negra. Ele nunca saiu do país, mas em 1927 viajou para a Amazônia. Também fez o primeiro desfile na Libero Badaró quando foi secretário de Cultura em São Paulo. Era um cara de atitude. Ano passado ele fez 130 anos e pouco se falou sobre isso. Eu recebi esse convite para incorporar Mário de Andrade no desfile da Mocidade Alegre. Tenho certeza que o Mário de Andrade está feliz por ser reconhecido como um homem do samba.
Agora você vai ficar na história do Carnaval de São Paulo. Como se sente?
Eu nunca ganhei um prêmio no teatro, mas tenho 40 anos de militância. Nas ruas, me chamam de Mário de Andrade ou de Dr. Abobrinha, meu personagem no Castelo Rá-Tim-Bum. Esse é meu prêmio, é a felicidade que eu levo.
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