Cidade do Samba tem mandinga, bruxaria e exaltação a Neguinho da Beija-Flor

O segundo dia dos minidesfiles que festejam o Dia Nacional do Samba trouxe as escolas que irão se apresentar no domingo na Sapucaí em 2025: Unidos da Tijuca, Beija-Flor, Salgueiro e Vila Isabel. É uma oportunidade do público conhecer um pouco mais do que as escolas vão levar para a avenida. As apresentações também são uma chance para as escolas fazerem alguns experimentos. Mas a única obrigação da festa é se divertir com os componentes e a torcida. Além dos desfiles, o público também contou com as apresentações do Terreiro de Criolo e do Samba da Volta.

Para Viviane Araújo, rainha da Bateria Furiosa do Salgueiro, a noite de minidesfile é uma oportunidade de conexão com o público. "A gente vai hoje mostrar o nosso samba para a galera. A expectativa é se divertir. A gente está fazendo uma festa para exaltar e enaltecer a nossa cultura e nosso samba. Quem gosta de samba está aqui presente para prestigiar".

O evento cresce a cada ano e para presentear o público da festa as escolas capricharam no preparo para o minidesfile. A exemplo das comissões de frente que montam apresentações específicas para a noite, como explicou ao UOL a dupla de coreógrafos da Vila Isabel, Alex Neoral & Marcio Jahú.

"A gente enxerga o minidesfile, ensaio técnico e o desfile como momentos diferentes. Nenhuma comissão vai trazer de bandeja aqui o que vai levar para a sapucaí, mas a gente faz alguns experimentos aqui e vê como que é", contou Neoral.

"Coreograficamente podemos aproveitar alguma coisa do que é apresentado. Mas não quer dizer que seja a mesma coisa", completou Jahú.

O que aconteceu

Prometendo incorporar na avenida, a Unidos da Tijuca abriu a noite apresentando o enredo "Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita", que conta a história do orixá filho de Oxum e Oxossi. O samba é também a estreia de Anitta como autora de samba-enredo. A frente da bateria da escola, a mamãe Lexa exibiu sua barriga de quatro meses. A musa da escola Juliana Alves, no ar em "Volta por Cima", celebrou o enredo 2025. "Eu acredito que a Tijuca está fazendo o que a ancestralidade pede e vamos retornar ao lugar onde merecemos estar".

Com muita animação dos componentes e da arquibancada, Beija-Flor de Nilópolis levou seu enredo sobre Laíla, diretor de Carnaval que esteve à frente de 13 dos 14 títulos da escola, para o público. "Homenagear o mestre que me levou para a Beija-Flor ao lado do Claudinho é muito especial. Espero que a gente inspire outras escolas a homenagearem seus griots. É um enredo que diz muito sobre o Carnaval e o povo preto", contou Selminha Sorriso, porta-bandeira da escola.

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Para a Beija-Flor, o ano de 2025 também marca a aposentadoria de Neguinho da Beija-Flor, intérprete da escola há 50 anos. Neguinho não esteve presente no minidesfile, mas foi reverenciado pelos companheiros de escola.

Para Raíssa Oliveira, que foi rainha de bateria da escola por 20 anos, a saída de Neguinho é mais dolorosa que a sua: "Quando cheguei na beija-flor ele já estava lá. Imaginava o Neguinho eterno. Mas existe esse movimento de abrir caminhos. Assim como Sônia Capeta - que estava ao seu lado - fez para que eu pudesse ser rainha de bateria e que hoje a Lorena pudesse estar nesse lugar. Uma dando sequência a outra e todas da comunidade".

Já Lorena Raíssa, atual rainha da escola, relata o susto com a notícia, mas garante que todo esse momento será marcado também pela alegria do legado de Neguinho e pela oportunidade de homenagear Laíla.

Com muita mandinga, o Salgueiro festejou seu enredo "Salgueiro de Corpo Fechado" com o samba que tem autoria de Xande de Pilares. A festa da vermelha e branco, que em 2025 fala dos ritos das religiões de matrizes africanas para proteção, contou com a distribuição de ervas para o público e a defumação comandada pelas baianas.

À frente da bateria furiosa, Viviane Araújo promete surpresas para 2025. "Eu acho que a gente vai surpreender na avenida. A gente começou a fazer ensaio de rua há uma semana. Estamos começando o nosso trabalho e hoje vamos celebrar com a torcida".

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Já a Vila Isabel fechou a noite com muita bruxaria e assombração na cidade do samba. O enredo "Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece", assinado por Paulo Barros, fala das lendas urbanas e assombrações do cotidiano. O público pode contar com muitas referências ao terror que começa já na bossa do samba o clássico "Fantasma da Ópera".

No alto da alegoria da Vila Isabel estava a representação de Matita Perê, que conversava com a comissão de frente composta por gatos pretos. Quem encantou o público foi o xodó da escola, o pequeno Gael, de apenas 3 anos, filho do mestre de bateria Macaco Branco, que fez parte da apresentação da comissão de frente. Vestido de filhote de gato preto, Gaelzinho da Vila roubou a cena e foi parar no colo de Matita Perê na beira do seu caldeirão.

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