Blocos livres no Rio: resistência contra a mercantilização do Carnaval
Nascidos na espontaneidade popular, os blocos refletem a alegria e a diversidade do povo, onde todos são de coração, foliões do Carnaval, como sintetizado no hino do centenário Cordão da Bola Preta.
Mas em meio à crescente mercantilização da maior festa popular do país, onde espaços públicos são negociados para festas particulares e caras, grupos como o Desliga dos Blocos resistem, mantendo viva a verdadeira essência dessa manifestação cultural.
Neste domingo, o movimento abre (não) oficialmente o Carnaval do Rio de Janeiro. "É uma festa, mas também um ato político, que é defender o Carnaval de rua", resume Luis Otavio Almeida, representante do Desliga e do Cordão do Boi Tolo, um dos blocos livres mais icônicos do Rio.
Sem trajeto determinado, destino ou hora para acabar, ele simboliza a liberdade que sempre marcou os blocos de rua.
Como tudo começou
Desde 2009, o Desliga dos Blocos reúne mais de 30 blocos independentes que resistem à regulamentação imposta pela prefeitura. Naquele ano, o atual prefeito Eduardo Paes publicou decretos que introduziram parcerias público-privadas com a justificativa de melhorar a infraestrutura da festa.
Isso trouxe restrições significativas: apenas uma cervejaria passou a comercializar seus produtos, os vendedores ambulantes precisaram se credenciar, e os blocos tinham que pedir autorização para desfilar.
Contra essas medidas, o Desliga optou por não se submeter ao calendário oficial da prefeitura. Suas manifestações ocupam o centro do Rio, não apenas como celebração cultural, mas como um ato político que denuncia descasos como a degradação e a falta de segurança na região. "Estamos ampliando o espaço da cidade. Não me surpreenderia se outros lugares também recebessem essas manifestações", afirma Almeida.
A festa é organizada pela própria população, sem cobranças ou patrocínios. Guarda municipal e CET-Rio geralmente dão suporte, mas não há estrutura oficial.
Os blocos não seguem trajeto: ficam parados, próximos a bares que oferecem banheiros, criando uma experiência comunitária e inclusiva. "Não pagamos nada nem recebemos. Existe porque as pessoas se encontram. Ninguém precisa ensinar o povo como ele festeja", enfatiza Almeida.
O abre-alas está marcado para as 8h e, às 17h, todos se unem para o desfile do Boi Tolo, na Praça Quinze. Confira a programação.
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