'Finge que não acontece': pré-Carnaval ganha 'força do povo' no Rio
Luiza Souto
Colaboração para Splash, do Rio
05/01/2025 16h57
"Fazer Carnaval não é fácil, e a estrutura ainda é precária. Tem 15 anos que a prefeitura finge que isso aqui não acontece, o que mostra a força do povo. Essa é a beleza do Carnaval."
Essa é a declaração da publicitária Iluska Viviani, 45, enquanto vendia brincos e doces por 15 reais na Praça XV, no centro do Rio, onde o bloco do Zeca, um cortejo de pré-Carnaval acontecia neste domingo.
O Carnaval no Rio deu sua largada neste domingo com mais de 30 blocos se apresentando no centro da cidade. O Desliga dos Blocos é um movimento que acontece desde 2009 de forma não oficial, ou seja, fora do calendário da prefeitura.
Para foliões e vendedores, o caráter não oficial dos blocos agrada.
Os atores George Abreu, 29, e Ronaldo Camelo, 39, afirmam se divertir mais nesse encontro dos blocos fora do calendário.
"É mais gostoso de curtir, organizado, você tem todos os horários dos blocos e não está tão quente", dizia Abreu, embaixo de uma sombra.
O comerciante Jorge Penteado, 55, endossou: "Trabalho em todos os blocos, oficiais ou clandestinos, e posso dizer que aqui é mais democrático, porque cada um fica no seu canto, sem precisar se credenciar."
'Freud deve explicar'
Pela manhã, o prefeito Eduardo Paes (PSD) usou as redes sociais para ironizar a organização do evento.
"Tem uma turma que adora dar de rebelde progressista e no fundo liga um dane-se para o gari trabalhador da Comlurb que tem de ficar atrás deles porque eles se recusam a informar oficialmente onde vão passar. Deve ser uma rebeldia com mensagem política. Freud deve explicar!"
Representante do Desliga e do Cordão do Boi Tolo, um dos blocos livres mais icônicos do Rio, Luis Otavio Almeida comentou a fala do político a Splash.
Ele explicou que, quando diz que o Carnaval do Rio acontece independentemente da prefeitura, não é uma crítica ao órgão e sim uma constatação histórica.
"Criticamos, sim, o decreto de 2009, que vem sendo reeditado infinitamente que desconhece esse Carnaval livre e ancestral.
Defendemos desde 2010 banheiros públicos no centro, que atenderiam a população o ano todo e demandariam apenas ajustes no Carnaval", disse.
Ele lembrou que já houve momentos amistosos com a Prefeitura. "Mas também sentimos o peso do cassetete da GM, quando atacaram covardemente blocos em 2016."
Os blocos sempre foram o que são, atraindo cada ano mais turistas e recursos para a nossa cidade. O humor da prefeitura é que varia às vezes. Mas com certeza Freud explica tudo. Ficamos felizes em saber que a prefeitura diz estar atenta para cumprir suas obrigações. Da nossa parte, reafirmamos nossas recomendações de se evitar garrafas de vidro, não jogar lixo no chão e usar banheiros, sempre que for possível.
Luis Otavio Almeida