Um ano após o polêmico desfile criticado por policiais, o presidente da Vai-Vai, Clarício Gonçalves, disse que não faria o mesmo desfile novamente.
Uma das alas da escola de samba do Grupo Especial de São Paulo era formada por fantasias de policiais, que usavam chifres e asas vermelhas. A vestimenta se referia ao álbum "Sobrevivendo ao Inferno", do grupo de rap Racionais MC's, que retrata a violência policial.
O que ele disse
Clarício defende que as escolas podem se manifestar livremente, mas acredita que houve um excesso. "Na nossa vida, todo dia é um aprendizado. Hoje, eu, como representante da escola, vejo que a gente contrata um carnavalesco, passa um tema para ele e, dentro da nossa constituição, temos nosso direito de nos expressar. Mas aprendi uma coisa: ele pode se expressar, sim, mas não ofendendo uma instituição. Deveria ser outro formato".
Por mais que tenhamos o direito de nos expressar, jamais vou mexer com uma instituição. Em momento algum pensávamos que iria prejudicar algumas pessoas da instituição, que seria da polícia. Simplesmente foi relatado um fato do livro do Racionais, porém no formato dele.
Clarício Gonçalves, presidente da Vai-Vai
Sem sede e com dificuldades financeiras, o presidente afirma que focou em viabilizar o desfile, mas não se atentou ao que poderia acontecer com o enredo. "Eu, na correria atrás de parceria para fazer o Carnaval e pagando dívida, não me atentei. Mas, como falei, todo dia é um aprendizado".
Agora, Clarício diz que tomará mais cuidado se a escola for criticar alguma instituição. "Hoje, se o carnavalesco for relatar um enredo que tenha alguma coisa que possa afetar uma instituição, a gente para no caminho e deixa claro com ele que tem de narrar o fato em outro formato. Em momento algum quisemos enfrentar ou falar mal da Polícia Militar".
Perguntado se faria o desfile de novo, Clarício é categórico: "De jeito nenhum". "Realmente foi uma coisa que nos marcou. Como que a gente pode brigar contra uma instituição que protege a nossa cidade de São Paulo? Não foi com má-fé. Simplesmente aprendi.
Como era ala do Vai-Vai
Ala que irritou delegados se chamava "Sobrevivendo no Inferno", mesmo nome do álbum dos Racionais MC lançado em 1997.
A escola representou o batalhão de choque como demônios. Nas fantasias, eles usavam chifres e asas.
Vai-Vai desfilou no primeiro dia do Anhembi, com o enredo "Capítulo 4. Versículo 3 - Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano". O tema foi assinado pelo carnavalesco Sidnei França, que atualmente está na Mangueira.
Escola fez manifesto contra o preconceito. Nas letras, representou os locais ocupados por pessoas negras e a sua importância na criação e manutenção do rap e no hip-hop.
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