Sem sede, Vai-Vai reafirma identidade em Carnaval sobre Zé Celso

É trazendo Zé Celso para a avenida que a Vai-Vai quer manter a conexão com sua comunidade, exaltando a "pluralidade e a efervescência cultural do Bixiga", berço da escola do Teatro Oficina — criado e liderado pelo ator e diretor.

O dramaturgo, morto em 2023, era entusiasta da agremiação. Tanto que ele foi velado com um pavilhão da Vai-Vai sobre o caixão. E não era para menos: o Teatro Oficina ficava a dez minutos do prédio onde a escola comemorou seus 15 campeonatos no Carnaval paulistano.

Em 2021, a Saracura deixou a sede que ocupou por mais de 50 anos, no bairro do Bixiga, para dar lugar a construção de uma estação de metrô da Linha 6 - Laranja. A agremiação fechou acordo de venda do terreno a Acciona, concessionária responsável pela linha, no valor de R$ 6,8 milhões.

Agora, para mostrar que as raízes preta e branca seguem fortes na Bela Vista, Zé Celso é homenageado com o desfile "O Xamã devorado y a deglutição bacante de quem ousou sonhar desordem".

Ao UOL, o carnavalesco Sidnei França vê o samba como maneira de se "conectar com o território". "O Vai-Vai é uma escola da raiz da Bela Vista, do Bixiga. E levar esse enredo também é uma confirmação, uma afirmação territorial. É o Vai-Vai falando do seu território, da Bela Vista. Atravessando o Teatro Oficina, mas sempre também dialogando com o espaço, com as pessoas do lugar".

A ideia do enredo nasceu ainda no velório do dramaturgo, conta o carnavalesco. "Surgiu quando, no velório do Zé Celso, o Vai-Vai levou o pavilhão. Foi um momento muito bonito, muito forte, muito marcante. Ali ficou muito claro que Vai-Vai, Bela Vista, Bixiga, Teatro Oficina e Zé Celso formam uma identidade única. De cultura pulsante. De uma cultura alternativa".

Acho que o Vai-Vai se diferencia falando da sua cidade, das suas figuras. De quem constrói, construiu e ainda constrói a identidade de São Paulo como uma metrópole carregada de personalidade, de efervescência cultural.
Sidnei França

'Vou onde o Vai-Vai for'

No final do último ano, a escola lançou uma campanha para engajar e unir a comunidade nesse momento sem a quadra. Os ensaios da escola estão acontecendo na Mooca, longe do Bixiga.

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Ser Vai-Vai é algo mais. Mais alegrias, mais desafios, mais títulos, mais responsabilidade. Fazer parte dessa comunidade é carregar em si quase um século de história, de luta, de resistência e de muito samba. É honrar quem chegou primeiro e abriu caminho. É reverenciar cada verso, cada giro do pavilhão, cada gota de suor e saliva para que chegássemos até aqui. Mesmo nos momentos mais difíceis, o amor pelo pavilhão segue inabalável. Este é um desses momentos. Momento de não soltar a mão, de se lembrar porque está aqui e porque ama essa escola. Seguimos lutando para estar em nosso chão, no Bixiga, de onde vem o nosso DNA. O Vai-Vai pertence ao Bixiga e isso nunca vai mudar. Mas enquanto não conseguimos nossa casa definitiva, continuamos a batalha. Estar aqui, vivos, presentes, atuantes e unidos sustenta o estado de graça que é ser Vai-Vai [...] O Vai-Vai está em cada um de nós, faz parte de quem somos. E assim, declaramos: 'Eu vou onde o Vai-Vai for'.
Manifesto do Vai-Vai

O presidente da escola, Clarício Gonçalves, deixou claro que a situação é provisória. Ele acredita que Zé Celso é importante para deixar a comunidade conectada com a escola em meio aos ensaios longe de casa. Logo no primeiro ensaio, Clarício disse que teve quadra cheia.

A comunidade abraçou, mesmo sendo fora do Bixiga.
Clarício Gonçalves

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