2º dia de desfiles SP: seios à mostra, mamadeira de piroc* e Negrini esnobe
De Splash, em São Paulo
02/03/2025 07h12
O segundo dia de desfiles em São Paulo foi marcado por uma ala de "mamadeiras de piroca", uma comissão de frente com integrantes de seios de fora e Alessandra Negrini, que não quis conversar com a imprensa.
O Vai-Vai desfilou com uma alegoria em que quase todas as mulheres estavam com seios à mostra. A escola homenageou o dramaturgo Zé Celso, que morreu em julho de 2023, vítima de um incêndio.
A Estrela do Terceiro Milênio brincou com o "kit gay" e a mamadeira de piroca. Brincando com notícias falsas que atacavam a comunidade LGBTQIA+, a agremiação levou mamadeiras com bico de pênis para a avenida.
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Alessandra Negrini não quis conversar com a imprensa. A musa da Gaviões da Fiel passou pela concentração sem falar com os repórteres que estavam no local. A atriz sambou e sorriu para quem estava presente. Havia uma grande preocupação da equipe em não danificar seu costeiro. Ela também se negou a dar entrevista no camarote e não posou para fotos.
Benito di Paula deixou o desfile da Águia de Ouro, em sua homenagem, exausto e emocionado. Ele desfilou em um carro alegórico temático da música "Meu amigo Charlie Brown" acompanhado da família. Ao deixar a avenida, teve dificuldades para responder às perguntas dos repórteres e, muito cansado e comovido, precisou ser amparado pelo filho e pela equipe da escola.
Águia de Ouro
Águia de Ouro abriu a segunda noite com desfile em homenagem a Benito di Paula. A escola apresentou o enredo "Em Retalhos de Cetim, a Águia de Ouro do Jeito que a Vida Quer". A ideia não era fazer um enredo biográfico, mas trazer breves referências à vida do artista, destacando as origens ciganas e a infância em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.
A Águia fez referência a sucessos como "Meu amigo Charlie Brown" e "Retalhos de Cetim". A primeira música foi representada por um carro alegórico que trazia Snoopy e Charlie Brown em destaque. Já a segunda foi representada pela ala das baianas. A comissão de frente trouxe teclas de piano que "dançavam" na avenida para lembrar que o compositor foi responsável por introduzir o instrumento no samba.
A escola teve dificuldades durante a apresentação, abrindo um buraco na pista. Ainda assim, a Águia concluiu o desfile dentro do tempo regulamentar. Veja fotos da Águia de Ouro.
Império da Casa Verde
A Império da Casa Verde levou personagens conhecidos para questionar clichês e padrões nas histórias. A escola apresentou o samba-enredo "Cantando Contos. Reinos da Literatura".
O desfile incluiu até uma bateria de Coringas. Com príncipes gays e princesas negras, a Império levou Peter Pan, Branca de Neve, personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Harry Potter e outras figurinhas conhecidas para o Anhembi, questionando suas histórias.
Várias paradinhas na avenida mostraram que o samba-enredo estava na boca do povo. Nas redes sociais, os telespectadores chamaram o desfile de "farofa lúdica". Veja fotos da Império da Casa Verde.
Eu nunca quis ser princesa, por falta de representatividade. Sempre quis ser rainha de bateria e hoje eu sou. Theba Pitylla, rainha de bateria da Império da Casa Verde
Mocidade Alegre
Mocidade Alegre exaltou o sincretismo religioso e objetos sagrados no Anhembi. A escola apresentou o samba-enredo "Quem não pode com mandinga não carrega patuá".
A presidente Solange Cruz, símbolo das apurações de São Paulo, foi tema de um dos carros alegóricos. A última alegoria traz uma escultura que retrata as mãos de Solange com os terços. Em entrevista ao UOL, ela conta que seu primeiro patuá foi presente de seu tio, Juarez da Cruz, fundador da agremiação. Entre os terços, ela também carrega um medalhão de leão.
Ele me deu esse medalhão e falou: 'Pra mim, hoje, você é a leoa do samba' e me entregou, 'você sempre vai com esse medalhão na apuração, no desfile' e eu sempre carrego ele. Solange Cruz, presidente da Mocidade
A bateria formou um rosário em forma de coração no meio da avenida. A escola também apresentou a África como a "terra das macumbas ancestrais" e contou como essa religiosidade veio para o Brasil junto com os escravizados.
Mocidade precisou de um empurrão para passar pelo portão a tempo. O motor da última alegoria quebrou ainda no início do desfile, e precisou ser empurrado pelos membros da escola. Ainda assim, a Mocidade conseguiu encerrar no tempo adequado. Veja fotos da Mocidade Alegre.
Gaviões da Fiel
A Gaviões apresentou enredo afro pela primeira vez. Em busca do quinto título, a Gaviões apresentou o enredo "Irin Ajó Emi Ojisé". A expressão, em yorubá, significa "A Viagem do Espírito Mensageiro", simbolizando a viagem de Orumilá, entidade de origem africana, pela Terra.
Sabrina Sato surgiu toda de dourado em seu 22º desfile pela escola. "Esse ano venho representando a 'rainha de todos os ritmos', em conexão com a nossa bateria, que vem como grandes guardiões do som, fazendo o coração dos Gaviões pulsar. É sempre uma honra e uma emoção indescritível estar à frente da bateria Ritmão, representando minha Gaviões da Fiel", disse a rainha.
Cada uma das alas representava as máscaras que a divindade deu aos povoados por onde passou. As esculturas pareciam esculpidas em madeira, consolidando um visual rico, luxuoso e ancestral.
Regina Nunes, mulher do prefeito Ricardo Nunes, recebeu a faixa de madrinha da Gaviões da Fiel. Ela vai amadrinhar o departamento social da Gaviões da Fiel. "Estou muito emocionada que nem consigo falar", disse.
A escola precisou esperar um pouco antes de entrar na avenida, já que a pista estava molhada após o desfile da Mocidade. A Gaviões, porém, terminou o desfile dentro do tempo regulamentar. Veja fotos da Gaviões da Fiel.
Acadêmicos do Tucuruvi
Tucuruvi apresentou o enredo "Assojaba - A Busca pelo Manto". A escola abordou os mantos sagrados dos tupinambás levados do Brasil desde a época da colonização por Portugal para serem expostos em museus no exterior, principalmente na Europa. "Não foi feito pra você, não foi feito pra vender", entoou a agremiação.
O segundo carro estava coberto por um grande manto criado no barracão pelos artistas de Parintins. Os profissionais se afeiçoaram tanto ao trabalho que desfilaram na alegoria. Lideranças indígenas também atravessaram o Anhembi com a escola.
Viemos especialmente para esse desfile. Estamos lisonjeados com a oportunidade para reivindicar as nossas pautas. Karol Muiraquitã, em entrevista ao UOL
Carla Prata, rainha de bateria, surgiu irreconhecível com uma prótese no rosto. A fantasia dela representava a onça melânica e o fogo em um ritual tupinambá. Nessas ocasiões, os indígenas comiam o cérebro do guerreiro capturado. Veja fotos da Acadêmicos do Tucuruvi.
Estrela do Terceiro Milênio
Estrela do Terceiro Milênio coloriu a avenida com enredo LGBTQIA+. O enredo "Muito Além do Arco-Íris - Tire o Preconceito do Caminho Que Nós Vamos Passar Com o Amor", desenvolvido pelo carnavalesco Murilo Lobo, defende os direitos e a liberdade de expressão da comunidade LGBTQIAPN+.
A comissão de frente relembrou um episódio de violência que ganhou repercussão nacional quando um jovem homossexual foi agredido na Avenida Paulista com lâmpadas fluorescentes, em São Paulo.
Milton Cunha sambou junto com a Estrela do Terceiro Milênio. Os ritmistas usaram uma fantasia em homenagem ao carnavalesco e embaixador do Carnaval Globeleza e rei de bateria da escola de samba.
Vai-Vai
O Vai-Vai fechou a noite com um desfile em homenagem a Zé Celso. O dramaturgo morreu em julho de 2023, aos 86 anos.
Zé Celso era do Bixiga, mesmo bairro da escola. Numa referência antropofágica, a escola "devorou" a obra do artista e levou para o Anhembi.
O segundo carro mostrou a mente inquieta e livre do artista, com a presença de Marcelo Drummond, viúvo de Zé. Emocionado, o ator disse ao UOL que a homenagem a Zé Celso era "maior que o Oscar".
É a religião da raça que o Zé falava, que o Oswald de Andrade falava, você entra ali, vê aquelas pessoas passando, celebrando, é uma emoção que não tem tamanho. Marcelo Drummomd
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